terça-feira, 28 de maio de 2013

Trilha sonora para curar - Christina Ferreira


Pesquisador norte-americano Claudius Conrad, da Harvard Medical School, descobriu que pacientes com mal de Alzheimer submetidos  audições regulares relembraram fatos e rostos que, por causa do avanço da enfermidade, já não reconheciam.  A explicação é que a memória musical seria a última área afetada pelo Alzheimer. A remissão parcial da doença encorajou mais pesquisas, embora não signifique cura. As memórias recuperadas pelo tratamento dão qualidade de vida e melhoram o humor dos pacientes. Segundo o psiquiatra carioca Fernando Câmara, "a recepção do som tem efeito neurológico em áreas do cérebro que organizam memória, comportamento, emoção e capacidade de aprender".

Não faltam exemplos: a terapia com melodias já ajudou vítimas de isquemia cerebral a recuperar a fala, de acidentes vasculares cerebrais a retomar movimentos e bebês prematuros a ganhar peso. A música já foi usada para reduzir pressão arterial e acalmar pacientes antes e depois de cirurgias, além de aliviar ansiedade e depressão. Autistas e pessoas com esquizofrenia também se beneficiam, comprovadamente, com a harmonia musical. Ainda há um longo caminho para entender totalmente a ação das canções, mas o que já se sabe é que o som se transforma em estímulos elétricos que ativam áreas responsáveis por decodificar emoções no lobo temporal dos dois lados do cérebro. Essa correlação faz com que a música crie um canal entre o que ocorre no exterior e as sensações internas positivas - e isso pode estimular os neurônios a fazerem novas sinapses (ligações entre eles), facilitando o aprendizado e, no caso de várias doenças, fazendo os sintomas se recuarem.


Musicoterapia

Só não é novidade o bem-estar psicológico que as canções oferecem. Qualquer pessoa de qualquer idade pode ter vivido a experiência de acalmar-se ao ouvir uma melodia agradável. A paranaense Magali Dias é musicoterapeuta, ofício que existe há 10 anos no Brasil e já tem cursos de graduação. Também secretária -geral da União Brasileira de Associação de Musicoterapia, ela diz que o tratamento desenvolve formas de se expressar, mas não há repertório fixo. Cada indivíduo reage melhor à sua própria trilha sonora, definida pelos estilos preferidos, a aptidão (ou não) para tocar instrumentos e a convivência musical ao longo da vida. "Adultos trazem sua carga cultural. As composições usadas na terapia são as que fazem reviver boas experiências", complementa a musicoterapeuta Flavia Dal Pivvol, ligada à Universidade Federal Fluminense. Músicas da adolescência evocam mais memórias por motivos que ainda não são bem compreendidos, apontam pesquisas nos Estados Unidos.


Como fazer da música um medicamento poderoso

Toque instrumentos. Qualquer um, mesmo sem conhecer as técnicas. Isso estimula a coordenação motora fina.

Pesquise o "repertório da sua vida" e grave, ou faça downloads, em aparelhos portáteis para ouvir sempre que possível. Isso relaxa corpo e mente.

Não se envergonhe em usar canções conhecidas para decorar ou aprender. O ritmo favorece a apreensão do conhecimento.

Pratique esportes ouvindo sons. É bom para afastar o cansaço da mente e melhorar o desempenho em até 20%, segundo pesquisas.

Crianças que estudam música desde cedo desenvolvem conexões que nunca serão perdidas. E nunca é tarde para seus neurônios.

Abaixe o som no meio da música para lembrar os trechos que faltam e exercitar a memória. Fica mais divertido em dupla.


(texto publicado na revista SimplesMente de janeiro de 2013)



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