quarta-feira, 22 de maio de 2013

Filhos: Superproteção - Maria Irene Maluf


Proteger seus filhos é uma atitude esperada de todas as mães, na nossa sociedade. Esses cuidados maternos desde o nascimento, sempre amorosos, persistentes e incondicionais, dão uma base de segurança física e emocional à criança nos seus primeiros anos de vida.

Entretanto, na medida em que crescem, todas precisam experimentar o contato com as diferentes pessoas e nas mais diversas situações para conhecerem seus limites e os alargarem, assim se tornarem fortes, capazes de superarem frustrações, lutarem por seus objetivos, suportarem adversidades e serem autônomas, entre outras coisas. 

Infelizmente esse processo natural de crescimento, exige certo desprendimento materno, o qual nem sempre é fácil para algumas mulheres, que frente a um mundo cheio de violência e disputas acirradas, não conseguem deixar de manterem os cuidados excessivos, necessários aos primeiros anos, mas que depois deles, tornam-se excessivos e debilitantes para a autoestima da criança e seu amadurecimento.

Por estranho que pareça, na mesma época em que as crianças assumem ares adolescentes tão cedo, buscam a liberdade e se colocam contra as normas mais básicas, muitas são também superprotegidas, não respondem por suas decisões mesmo quando agem de modo errado e não toleram sofrer frustrações: seus pais e especialmente suas mães, tomam todas as providências para que vivam longe de contrariedades, problemas, perdas e responsabilidades.

Com a desculpa de que precisam cuidar para que seus filhos sejam resguardados da violência e do sofrimento, os fazem viver em uma redoma, longe da realidade, dos encargos que gradativamente todos deviam assumir para aprender a se defender. Entretanto, se esquecem de que toda proteção não é capaz de livrar seus filhos de acidentes e nem de tragédias de todo tipo, nem de sentimentos de incompetência ou baixa autoestima, pois ao contrário do que algumas mães julgam, ser cuidado demais, não dá a sensação de serem mais amadas, mas sim de serem incompetentes e daí para a frustração e a busca de satisfação em outras áreas menos saudáveis, é um passo.

Excesso de proteção pode levar a uma falsa ideia de que são pessoas especiais, imunes a qualquer perigo, o que é uma bomba de efeito programado principalmente na adolescência: jovens que exageram na bebida, nos esportes radicais, abandonam a escola, tornam-se agressivos contra seus próprios pais, infelizmente estão nas páginas dos noticiários. Todas as crianças correm alguns riscos durante seu crescimento e superá-los as torna competentes e fortes perante os demais.

É difícil as mães se reconhecerem como superprotetoras, já que raramente percebem o exagero de seus cuidados em relação ao filho. Normalmente os atribui a alguma causa externa o que constitui na verdade um pretexto para continuarem cuidando de seu filho como se este fosse alguém muito indefeso ou imaturo para a idade.

Geralmente a mãe acaba percebendo que é ou foi superprotetora da forma mais desastrosa: seu filho passa a ser alvo de brincadeiras maliciosas dos colegas, se distancia das crianças e adolescentes da mesma idade não apensa porque a mãe o impede de sair com os amigos ou se enturmar, mas porque ao longo dos anos torna-se muito diferente de seus pares, mais despreparado, inseguro, antissocial, ou mandão, agressivo, etc.

Antes que isso ocorra, é sempre bom(t4e parar para refletir se o carinho e a proteção que dispensa aos filhos não está além daquela que eles precisam para poderem crescer, experimentar o erro, o fracasso, as perdas e aprenderem a superá-las com nossa orientação, mas por si mesmos, para que se fortaleçam e se preparem para serem autônomos, independentes e fortes: aprender a viver é algo que exige alguns tombos.

Alguns sinais nos apontam que a criança está se sentindo sufocada com a proteção excessiva. Quando pequenos, apresentam comportamentos de criança mais nova: falam como bebê, mandam e não pedem, choramingam, não são capazes de tomar minimamente conta de si mesmos, de sua higiene pessoal, de seus brinquedos, materiais escolares, etc., e por isso em comparação aos colegas normalmente amadurecidos para a faixa etária, tornam-se gritantemente diferentes.

Conforme o tempo passa, como seu amadurecimento é sempre refreado, essa diferença vai crescendo e junto com ela seus problemas de relacionamento social e de fragilidade vão se intensificando. Adultos criados por mães superprotetoras, em geral são péssimos pais, pois são infantilizados, narcisistas e egoístas. Como crianças mimadas, são mais irmãos do que pais: concorrem com seus próprios filhos.


(texto publicado no jornal Imobiliário da Cidade - março de 2013)


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