terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Faço porque amo - Carolina Muniz, Jeferson Castro, Helaine Martins e Luísa Cabeceiro


Pode ser porque traz amigos, representa vitórias, salva vidas ou alivia dores. Para as pessoas destas páginas, trabalhar é bem mais que ganhar o pão: significa ter um motivo para acordar cedo todos os dias e lembrar que, com o fruto do nosso trabalho e ações, transformamos o mundo

Trabalho como bombeiro há quase dez anos e a ótima sensação de poder ajudar as pessoas permanece igual ao primeiro dia. Para mim é muito gratificante ajudar pessoas que nem conheço e saber que uma tragédia deixou de acontecer porque fiz bem o meu trabalho (Diogo Aquino, 30 anos, Santa Izabel do Pará (PA).

Aprendi a cozinhar quando criança, pois, trabalhando como costureira, minha mãe não tinha tempo de preparar comida para meus irmãos. Ela me mostrou como fazer e fui descobrindo sozinha os sabores. Com o tempo, esse gosto me fez cozinhar com paixão. Preparava um almoço no batizado do filho, um jantar de aniversário, e o hobby se transformou em fonte de renda. Faço refeições para eventos e adoro ver pessoas ao redor da mesa apreciando o que cozinho com tanto amor (Antônio Gonçalves, 56 anos, São Paulo (SP).

Faço pães artesanais e os entrego em casa, de bicicleta, como antigamente. Sou publicitário, mas larguei  vida em agências porque amo o ritual de acordar na madrugada, preparar os pães e sair pedalando pela cidade. Vai muito além do trabalho: é uma maneira de manter a mente, o corpo e a alma saudáveis. Poder compartilhar, alimentar e aquecer o estômago e o coração das pessoas com o produto da própria dedicação e carinho é algo indescritível (Glênio Guimarães, 34, anos Porto Alegre (RS).

Sou muito falante, gosto de gente, e o contato com as pessoas torna meu trabalho como atendente em um restaurante especial. No balcão, entre um pedido e outro, ouço histórias engraçadas, alegres, diferentes... Isso me faz pensar que minha vida é muito boa. Por isso, amo meu trabalho (Elenildo Santos, 38 anos, São Paulo (SP).

Entrego botijão de gás e, todo mês, revejo os mesmos rostos, como se fosse numa família. Sei que meu trabalho vai proporcionar comida quentinha. Fico preocupado quando atraso uma entrega porque sei que estão esperando por mim. Quando não vou, perguntam o porquê. Assim, com prazer e alegria, sinto meu trabalho retribuído (Edivan Salustiano da Silva, 36 anos, Aliança (PE).

Amo o que faço porque sem minha máquina de costura eu não seria nada. Aprendi a costurar sozinha, aos 11 anos. Minha mãe faleceu quando eu tinha 8 e tivemos que nos virar. Comecei fazendo roupinhas de boneca, depois para meus irmãos menores, até que passei a costurar para fora. Gosto de ver as pessoas felizes quando recuperam suas roupas e apreciam meu trabalho. Mas o que me dá prazer é aceitar um desafio e ver que sou capaz (Terezinha de Jesus Gomes, 55 anos, Juazeiro do Norte (CE).

Amo trabalhar na minha banca de jornal! Há trinta anos estou no mesmo lugar, conhecendo muita gente boa. Sei quem é quem, converso com meus clientes, sempre brinco com eles e dou apelidos. Eles são a minha alegria. Há alguns anos, fiquei doente e me afastei. Chorava de saudade do trabalho. E um dia cheguei à banca e tudo estava reformado para agradecer meu trabalho, resolveram pintar e trocar o toldo. Foi muito emocionante (Cícero Antônio da Silva, 64 anos, São Paulo (SP).

Sou chaveiro há trinta anos e amo o que faço. Gosto de realizar qualquer trabalho manual, como serviços de hidráulica e elétrica. Desde criança tenho essa paixão por fazer as coisas por conta própria, sozinho, com minhas mãos. O que me inspirou foi o verso de uma nota de 10 cruzeiros, com a gravura de um trabalhador com várias ferramentas e engrenagens. Projetei essa imagem como um sonho a seguir e hoje sou grato pelo homem que me tornei (Gilberto Monteiro, 58 anos, São Paulo (SP).

Gosto do que faço porque, por meio do meu trabalho, o velho se transforma em novo. Sou marceneiro e gosto muito de consertar móveis e peças antigas. Tenho afinidade com trabalhos manuais, já fui alfaiate e sou marceneiro há muitos anos. Além disso, sou um homem do comércio e gosto de me comunicar com o público, conversar com quem quer que chegue. Isso faz meus dias felizes (Ivanildo Gomes, 55 anos, Imbimirim (PE).

Em 2006 decidi estudar e me formei como técnica em maquiagem. Sou muito feliz como maquiadora. Adoro minhas clientes e meu dia é cheio de alegria. Lembro-me sempre dos desafios que enfrentei por voltar a trabalhar depois de vinte anos cuidando dos filhos. Se tivesse sido de outra forma, talvez não sentisse o orgulho. Fazer algo lúdico e criativo é o que me realiza (Wanderly Karlovic, 51 anos, São Paulo (SP).

Sou fisioterapeuta há dez anos e, além de tratar pacientes, também ensino fisioterapeutas a utilizar suas mãos para oferecer bem-estar a quem sofre. Amo o que faço porque meu trabalho me fez compreender o corpo humano como a máquina mais perfeita já projetada, em que todas as adaptações são lógicas e coerentes (Leonardo Machado, 38 anos, Brasília (DF).

Aos 5 anos eu me interessei por psicologia. Morava perto de um hospício e via as pessoas ali, atrás das grades. Percebia que eram diferentes das que eu conhecia, mas nunca tive medo. Minha curiosidade por elas me levou a trabalhar como psicanalista. Há 39 anos tento ajudar meus pacientes a ser mais felizes. isso é tão gratificante que tenho 77 anos e continuo trabalhando (Liliane Isadora, 77 anos, Rio de Janeiro (RJ).

Sou chargista, ilustrador e caricaturista em uma TV há treze anos. Desenhar é algo que me preenche e dá sentido à minha vida. Desde os rabiscos no papel de pão até os nos cadernos de escola, fazia caricaturas de professores e colegas de sala de aula. Gosto de saber que, com minhas imagens, faço a leitura de assuntos relevantes para a sociedade de forma crítica e com bom humor (Edson Evangelista Junior, 42 anos, Belo Horizonte (MG).

Tudo vale a pena quando um pequeno me diz: "Tio, já fiz a lição e acertei tudo". Ser professor não é apenas ensinar uma matéria: é auxiliar na formação do caráter. Há dez anos, faço o que mais amo. Ensinando, dou conselhos, ajudo nos exercícios, brinco e chamo atenção. Tenho orgulho do que faço e consigo ver o fruto do meu trabalho se desenvolvendo a cada instante, a cada dia (Alan Martins, 28 anos, Belém (PA).

Amo trabalhar com crianças. Sempre gostei de cuidar de sobrinhos e afilhados e, por isso, estudei pedagogia e fiz especialização em psicopedagogia. Trabalho há dez anos nisso e amo o que faço porque, todos os dias, aprendo com as crianças a ver o mundo de uma forma mais simples, sem maldade ou preconceito (Fabiana Vieira, 34 anos, Porto Alegre (RS).

Amo minha profissão, pois ela está ligada à liberdade. Sou mecânica de bicicletas desde 2011, e essa atividade me abriu portas de um universo mais consciente e cheio de amigos. Trabalhar com mecânica era uma vontade que parecia distante, mas, aos poucos, consegui inseri-la em minha vida - nunca cheguei a terminar uma faculdade e a bicicleta me deu uma profissão. Quando ouço que a vida não é fácil, penso: gosto de consertar bicicletas! (Talita Noguchi, 27 anos, São Paulo (SP).

Por muito tempo escondi minha orientação sexual, mas venci o medo e amo meu trabalho porque representa minha vitória e a do movimento pelos direitos LGBT. Aos 16 anos assumi minha identidade feminina. Passei a militar pela causa e fui indicada para ser a secretária de Direitos Humanos da Presidência. Sou publicitária, mas é por meio desse cargo que luto diariamente por cidadania e contra o preconceito que atinge todas nós travestis (Symmy Larrat, 35 anos, Brasília (DF).

Faço vitrines há 28 anos e amo meu trabalho porque vendo sonhos. Tiro os manequins do lugar, limpo, passo a roupa, coordeno as cores e dou aquele jeitinho especial. Tenho liberdade de criar, relacionando temas às coleções de roupas. A vitrine é o vendedor número 1 de toda loja. Encho os olhos dos clientes, que têm vontade de se tornar tão lindos como os manequins das vitrines (Arlindo Almeida, 49 anos, São Paulo (SP).



(texto publicado na revista Sorria nº 34 - out/nov 2013)














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