quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Quer passar? Três vinténs (Aventuras na História)


De 1554 até a segunda metade do século 19, São Paulo era uma cidadezinha cuja população urbana se apinhava numa área próxima ao Pátio do Colégio. Com a riqueza do café, a cidade começou a se expandir, mas enfrentou um obstáculo que, na época de sua fundação, foi o que justificou a escolha geográfica. São Paulo fica num platô conhecido como triângulo. Numa das laterais, existe o vale do Rio Anhangabaú. Para unir o que seria conhecido como Centro Velho e Centro Novo, decidiu-se construir um viaduto. Antes, era preciso descer o vale a pé e atravessar a pequena ponte do Lorena. A subida do outro lado, à prova de dúvidas, se chamava Ladeira do Paredão.

O problema é que o viaduto mexeria com gente poderosa. Da concepção, pelo arquiteto francês Jules Martin, até sua inauguração, em 1892, passaram-se 15 anos. No Centro Velho, o viaduto atravessaria a casa do Barão de Tatuí. A obra começou em 1888, mas pressões do barão interromperam a construção. Uma revolta popular, na qual picaretas derrubaram uma das paredes do solar de Tatuí, permitiu que a construção fosse retomada.

A estrutura metálica veio da Alemanha. O piso era de madeira (o viaduto atual, de concreto, é de 1938). Houve festa de inauguração - fontes citam o dia 6, 7 ou 8 de novembro. Mas logo os moradores se rebelaram em pagar os 60 réis (ou 3 vinténs) de pedágio por pedestre. Foi assim por quatro anos, até a Câmara Municipal encampar o viaduto e acabar com o primeiro pedágio urbano do país. Por ironia, 120 anos depois, o tal pedágio, na opinião de muitos urbanistas, é a forma de resolver os problemas do trânsito das metrópoles brasileiras.









(texto publicado na revista Aventuras na História nº 112 - novembro de 2012)



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