sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Não é lixo! É resíduo! - Priscila Quintal


A história do catador Sérgio da Silva Bispo que veio da Bahia e está conquistando o mundo

Gesticulando, falando rápido, animado e quase sem parar, Sérgio da Silva Bispo se apresenta, fala de sua vida, de quem o ajudou, das dificuldades e já começa corrigindo: Não é lixo, é resíduo.

É embaixo de um viaduto, na Cooper Glicério, cooperativa de catadores de resíduos, que encontramos Bispo, 44 anos, 35 trabalhando com aquilo que as pessoas jogam fora. O começo de tudo foi ainda na Bahia, sua terra natal. Tinha uns 7 anos quando comecei a ir com meus pais trabalhar no lixão. Quando o caminhão despejava o lixo e eu achava um carrinho com 3 rodas, era minha maior alegria, relembra Bispo.

Em 1989, Bispo resolveu vir pra São Paulo em busca de uma vida melhor. Veio caminhando e pedindo carona pela estrada. Ao chegar na cidade dos sonhos, morou na rua e começou a trabalhar como catador para sobreviver.

Apesar de praticamente não ter estudado, seu jeito articulado, esperto e seu espírito de liderança fizeram Bispo se destacar entre os demais catadores. Seu interesse em melhorar as condições de trabalho o fizeram ir atrás de informações para ajudar a cooperativa da qual ele já fazia parte.

A experiência de vida conquistada na rua, no trabalho pesado de puxar carrinho com até meia tonelada de material, levou Bispo a lugares inimagináveis. Em 2006 fui convidado para dar uma palestra para 600 pessoas no Rio Grande do Sul. Eu que dormia numa caixa de papelão, de repente estava num hotel chique. Nos primeiros 5 minutos de palestra fiquei travado. Mas depois me soltei e passei a dividir minha experiência sobre o problema do lixo em São Paulo.

Bispo, que hoje faz curso de técnico ambiental, passou desde então a dar palestras e consultorias sobre reciclagem e consciência ambiental e assim já conheceu 4 países. Um dos fundadores da Cooper Glicério, ele luta também por condições mais humanas para os catadores. Hoje a nossa vida melhorou pois já somos reconhecidos na Classificação Brasileira de Ocupação, mas precisamos avançar mais. Nossa coleta nas ruas, além de ser fundamental, é um bem ao meio ambiente. Minha luta agora é para termos carrinhos elétricos. Aumentaríamos as coletas, em consequência a renda, e evitaríamos problemas de saúde dos catadores, fala Bispo.

Com mais de 120 entrevistas no currículo, Bispo mantém a humildade que o faz ser o representante dos catadores. Eu gosto do que faço e é um prazer poder compartilhar com todo mundo as coisas que aprendi, finaliza.



(texto publicado na revista Atitude edição 011 - ano 2 - agosto de 2012)

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