sábado, 10 de outubro de 2015

Unhas - Saúde na ponta dos dedos


Cuidado! Fungos, detergentes, sapatos apertados e até uma dieta desequilibrada podem comprometer a saúde e beleza das suas mãos.

Imagine uma indústria com várias unidades. A nossa "fábrica" de unhas tem esse jeito. Na infância, as 20 "unidades", das mãos e dos pés, com as suas máquinas novinhas, funcionam a todo o vapor: a produção é intensa e viçosa. No decorrer da vida, porém, elas gradativamente vão se ajustando às novas necessidades: a produção diminui e perde um pouco do brilho. É um processo normal.

Como toda empresa, a nossa "fábrica" de unhas também está sujeita a imprevistos variados durante a existência. Alguns, como a anemia, causam problemas a todas as "unidades", deixando a produção fraca e quebradiça. Outros afetam apenas alguns "setores", como as micoses e os encravamentos localizados. "O mais frequente, no entanto, são as micoses, que atacam tanto as unhas das mãos como as dos pés", afirma o dr. Abrahão Rotberg, livre-docente de Dermatologia da Faculdade de Medicina de São Paulo. "Quase noventa por cento das pessoas que procuram dermatologistas com problemas nas unhas têm micose."

Causadas por agentes externos - os fungos - as micoses aparecem sob a forma de manchas amareladas nas bordas, dando a impressão de sujeira que se acumulou nos cantinhos. E aí é que está o grande problema. "Como no início as micoses parecem sujeira, as pessoas não lhes dão muita importância. Sobrevêm então as complicações, dificultando o tratamento, que passa a ser local e oral", explica o dr. Ivan Peres Rosa, 39 anos, chefe da Clínica Dermatológica do Hospital do Serviço Público Municipal de São Paulo.

Uma unha com micose em estado adiantado pode ficar deformada e grossa. Não bastasse isso, a doença, inicialmente restrita às bordas, se alastra. Final da história: a unha fica feia e se solta do leito - a região carnosa sobre a qual se assenta.

Micoses, sapato apertado e unheiro. Compreenda-os

O encravamento das unhas - em especial dos pés - é outra consequência das micoses. Ao destacarem-se, as unhas provocam uma diminuição do seu leito, facilitando o encravamento. Para isso, é claro, contribui o fato de passarmos muitas horas com sapatos.

As micoses, no entanto, não são as únicas responsáveis pelas unhas encravadas. "Sapatos apertados ou de bicos finos não ficam atrás", garante Peres Rosa. Sofrendo o estímulo de uma pressão contínua, a margem da unha inflama. A pele reage, origina um tecido granuloso - a conhecida "carne esponjosa" - e a unha encrava.

Roê-la também facilita o encravamento. Devido à falta de unha, a pele da ponta do dedo tenta se sobrepor, encobrindo-a. E a unha pode ficar encravada. Outro problema para quem rói é correr o risco de traumatizar a matriz, onde as células fabricam as unhas. Nesse caso, elas talvez nasçam com defeitos. "Por fim, a saliva tem dupla ação corrosiva. Facilita o aparecimento de infecções na cutícula e na própria unha, por afiná-la", observa o dr. Rotberg.

Outras doenças que podem atingir as unhas depois de formadas são a onicólise e a paroníquia. A onicólise é produzida por substâncias cáusticas - em geral detergentes e soda - que penetram sob a unha, destruindo a parte em contato com a pele. Em consequência, a unha embranquece e desloca (daí a onicólise ser confundida com micose).

Já a paroníquia - mais conhecida por unheiro - é muito frequente em quem mexe muito com água e sabão. Neste caso, bactérias encontram um campo favorável perto da matriz, provocando inflamação.

Pintinhas brancas, sabe o que é? Falta de vitalidade

As nossas unhas não são vítimas apenas dos agentes externos. "Quase todas as doenças que diminuem a vitalidade do organismo, como anemias, infecções e gripes, podem ter reflexos nas unhas", informa o dr. Rotberg. Uma dieta desequilibrada, pobre em vitaminas e minerais, também diminui a vitalidade, com repercussões nas unhas.

Um dos efeitos mais comuns dessa perda de vitalidade são as famosas pintinhas brancas, popularmente identificadas como sinal de que a pessoa disse uma mentira ou vai ganhar um presente. Mas na realidade são sintomas de que algo não vai bem no organismo. Repare: elas aparecem logo após alguma doença ou baque psicológico. "É um decréscimo que não diminui a vitalidade da unha como um todo, mas basta para a matriz sofrer e produzir com menos pigmentação", observa o dr. Rotberg.

As consequências da perda temporária de vitalidade não param aí. O enfraquecimento geral torna as unhas mais delgadas e quebradiças. Daí ser esse um sintoma de que algo no organismo vai mal.

Também as ondulações, quando não causadas por uma pancada, têm origem na perda de vitalidade. Nesse caso, as células interrompem temporariamente a produção, formando pequenas depressões. Já as estrias (aprofundamentos longitudinais nas unhas) eventualmente são consequência de pancadas - a matriz fica defeituosa. Mas, em geral, como os cabelos brancos, surgem com a idade, em torno dos 40 anos. Por quê? Perda da vitalidade do organismo como um todo - mas nada de grave.

Ala, a maga, ensina como ter unhas bonitas

Pasme: o primeiro passo para exibir unhas saudáveis - e, portanto, bonitas - é uma alimentação equilibrada. "Todas as dietas que melhoram o estado geral do organismo fazem bem às unhas, pois atuam nas matrizes", justifica o dr. Rotberg. "Depois de formadas", continua. "não há muito o que fazer para fortalecê-las; os preparados que existem para as quebradiças só funcionam temporariamente."

Seguindo esta linha, Ala Szerman, proprietária do Ginastic Center de São Paulo, aconselha:

- Inclua na sua alimentação arroz integral, levedura de cerveja e gelatina, ricos em vitaminas do complexo B e proteínas.

- Faça massagem na região da matriz, favorecendo a circulação sanguínea, principalmente durante os meses frios, quando as unhas crescem menos.

- Abandone o velho hábito de tirar as cutículas. Elas são as defesas naturais das unhas, de modo que retirá-las tem dois inconvenientes: um, é o próprio traumatismo de sua retirada, que pode provocar infecção; outro, é deixar o caminho livre para a entrada dos micróbios.

- Se você não quer abandonar de vez o hábito, ao invés de retirar a cutícula, tente afastá-la com a ajuda das próprias unhas; retire, depois, apenas a pele morta que sobrou.

- Use luvas especiais quando tiver que mexer muito com detergente, soda, sabão, água.

- Evite o uso de esmalte cintilante que, por ser tóxico, desgasta as unhas. Os outros esmaltes não fazem mal.

- Corte as bordas das unhas o mais horizontalmente possível. Nada de curvas exageradas. Quanto mais horizontais, menos as unhas tendem a encravar.

- Não use sapatos apertados. Caso o processo de encravamento esteja se iniciando, um pequeno truque poderá resolver o problema: coloque pequenos pedaços de esparadrapo ou algodão na parte lateral afetada, forçando a pele a separar-se da margem da unha.

- Deixe de roer unhas, caso você tenha este hábito. Mas, aqui, há um importante aspecto a ser levado em conta: a causa. Segundo a psicóloga Maly Deliti, professora da Faculdade de Psicologia da PUC de São Paulo, a criança começa a roer unhas imitando alguém da família. Com o tempo, o roer funciona como válvula de escape para as ansiedades - e o mesmo vale para o adulto. Por isso, a primeira coisa a ser feita por alguém que deseja parar de roer as unhas é verificar a causa. Ser for mesmo ansiedade, é preciso trabalhá-la. Do contrário, o objetivo não será conseguido. Broncas não adiantam.

Fortes, fracas, finas, grossas, largas ou estreitas, as unhas são determinadas pela hereditariedade. Mas os bons tratos, uma dieta equilibrada e a energia vital ajudam. Pense nisso e faça o seu próprio diagnóstico.



(texto publicado na revista Viva Vida com Saúde! nº 1 - 1983)

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