quinta-feira, 27 de junho de 2013

Amor faz bem ao coração - Maria Clara Vergueiro


Pesquisas científicas e especialistas de diversas áreas têm reconhecido no amor um forte aliado para uma vida mais saudável. A conclusão, quase sempre, é uma só: o sentimento mais antigo do mundo é um santo remédio.

No início deste ano, uma pesquisa realizada pela Universidade de Medicina de Viena, na Áustria, comprovou o que quase todas as pessoas do mundo já intuíam: um abraço tem as propriedades terapêuticas que só um gesto de amor pode promover. Os testes concluíram que durante o enlace entre duas pessoas que se gostam alguns termômetros importantes da saúde, como a pressão sanguínea, se estabilizam. Abraçar alguém que amamos, dizem os estudiosos, baixa a ansiedade, o estresse e o medo, e ainda turbina  memória e o bem-estar. Curiosamente, um abraço entre desconhecidos tem efeito oposto, o que tira créditos de um conhecido grupo, o Free Hugs, ONG cujos voluntários distribuem apertos gratuitos por aí. Na interpretação dos cientistas alemães, a diferença está nas relações de confiança. São elas que fazem do gesto um carinho carregado de efeitos positivos ou apenas uma cena desconfortável e vazia de significado.

Os benefícios são creditados a um hormônio capaz de fazer milagres quando o assunto é afeto. A oxitocina, secretada no momento em que abraçamos alguém que amamos, também promove a ligação entre pais e filhos, aumenta a confiança, reduz os conflitos entre casais e está presente durante o parto e a amamentação, justamente para estreitar a relação entre as mães e seus bebês recém-nascidos.

Existem medicamentos em spray nasal e em comprimidos com a oxitocina como princípio ativo e até testes para medir o efeito dessas drogas sobre casais. Um dos estudos envolvendo o "hormônio do amor" revelou que casais com altos níveis dele no organismo nos estágios iniciais de uma relação, são mais propensos a estarem juntos seis meses depois, do que outros que apresentaram níveis mais baixos.

O impacto do afeto na saúde mudou até as regras de um dos mais importantes hospitais da América Latina. No último mês de março, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, liberou a visita de animais de estimação a pacientes internados para tratamentos mais longos, como câncer, por exemplo. A presença de cachorros queridos - permitidos até mesmo nas unidades semi-intensivas - reflete positivamente na recuperação graças à capacidade dos animais de estimular em seus donos sentimentos que elevam auto-estima e renovam a energia para prosseguir nos tratamentos. 

Na Universidade de Stanford, Califórnia (EUA), o amor é tema de inúmeras investigações científicas há mais de 30 anos. Uma das mais impressionantes descobertas do profissionais de lá é que quando trazemos à mente a imagem de alguém que amamos - pode até ser uma pessoa do passado - produzimos outros hormônio amigo dos amantes, a dopamina, que resulta em uma maior resistência à dor física e pode até substituir analgésicos comuns.

Ter um companheiro para partilhar o dia-a-dia pode trazer mais do que felicidade e plenitude: pode acrescentar mais anos à vida de uma pessoa. Médicos da Escol de Medicina de Harvard (EUA) passaram quatro anos acompanhando um grupo de idosos e quando se deram conta lá estava o amor outra vez, como variável mais que relevante na longevidade, ao lado de aspectos fundamentais como alimentação, prática esportiva e genética favorável. Isso porque idosos que podem contar com a companhia de um parceiro, costumam cuidar melhor da saúde, ficando mais atentos a questões como visitas médicas e tratamentos.

Manter um casamento saudável e duradouro, capaz de tornar a vida mais longa e plena, implica atenção e dedicação; todo mundo sabe. Uma das maiores autoridades na área da psicoterapia de casais, a belga Esther Perel, tem dito em conferências mundo afora que para aproveitar todo o bem-estar promovido pelas relações amorosas vale tomar certa distância do parceiro de vez em quando, para que o desejo se mantenha como parte integrante de uma relação duradoura, capaz de superar os primeiros momentos de paixão. Saber olhar o parceiro como alguém descolado das nossas expectativas e entender que duas pessoas não podem ser uma só, é importante para que se possa explorar a imaginação e a incerteza, mantendo a curiosidade sobre o outro sempre acesa, diz ela.

Poetas, artistas, escritores, filósofos e músicos sempre deram o devido valor àquilo que inquieta e eleva a alma humana, dedicando talento e arte para tentar desenhar os contornos do amor, explicar suas incoerências, curar as feridas que ele também é capaz de abrir no peito de uma pessoa apaixonada. Receitas de amor em prosa, verso e canção existem muitas. Divertido é imaginar doses de amor em prescrições médicas.


(texto publicado na revista Bem+ da Drogasil)


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