sábado, 7 de dezembro de 2013

Memória: entendendo os mecanismos - Giovanna Gheller


Memória é a capacidade de armazenar as coisas que vivenciamos. É uma função cognitiva, o que significa que faz parte do conjunto de processos mentais usados para planejar, interpretar, conhecer coisas e dirigir a vida.Para a maioria dos pesquisadores, é entendida como se fosse um processamento de informações, o que quer dizer que percorre todo um trajeto até ser armazenada em determinada rede. Como explica Cássio Bottino, esse caminho pressupõe alguns passos.

A primeira etapa é a da aquisição, que dura pouco tempo e depende de fatores como atenção e interesse. Pode-se dizer que o estado emocional do momento também é fundamental para definir se o acontecimento será ou não armazenado. Dependendo dessas condições, então, se adquire o primeiro traço mnêmico. A memória secundária normalmente é formada quando o primeiro traço dura mais de 30 segundos. Essa segunda informação, por sua vez, pode vir a se tornar uma memória terciária, que faz parte do conjunto de memórias raramente esquecidas.

A etapa de consolidação ou solidificação da memória geralmente acontece durante o sono. A terceira etapa é a da evocação: o momento em que queremos resgatar a informação memorizada. Nesta, os fatores emocionais também são bastante influentes. O neurocirurgião Fernando Gomes explica que, na antiguidade, já se conhecia uma técnica de evocação utilizada até hoje: a do reaproveitamento de alguma coisa já memorizada para facilitar o armazenamento de outra. Vestibulandos, por exemplo, para se lembrarem da primeira família da tabela periódica, composta por Hidrogênio (H), Lítio (Li), Sódio (Na), Potássio (K), Rubídio (Rb), Césio (Cs) e Frâncio (Fr), associam a sequência de seus símbolos com a frase "Hoje li na cama Robson Crusoé em francês".

Uma comparação comum é a da memória com os componentes do computador. Fala-se que o disco rígido, memória permanente da máquina, corresponde à nossa memória terciária. "Mas, diferentemente do PC, que possui o disco rígido como uma sede única de armazenamento, o cérebro guarda nossas memórias em várias redes neurais, que variam dependendo do interesse e do estímulo", explica Gomes.

A memória é considerada de curto prazo ou operacional quando o traço mnêmico não chega até a etapa de se tornar uma memória terciária. Mas essa memória operacional é limitada. Se um texto escrito no computador não for salvo, por exemplo, não há maneira de recuperá-lo. Assim, a memória de curto prazo equivale à memória RAM do computador, que lê os arquivos requeridos, mas não é responsável por seu armazenamento.

Já a memória de longo prazo possui algumas divisões. Pode-se separá-la em explícita (declarativa) e implícita (não-declarativa ou de procedimento). A explícita, relativa às informações transmitidas por meio de palavras, ainda tem subdivisões:  a episódica, sobre os eventos datados (saber que jantei com meu primo há dois dias), e a semântica, sobre os conceitos (saber o significado de palavras como "democracia" ou "lealdade", por exemplo). A implícita difere da outra por não precisar ser verbalizada. É dita a memória para habilidades, como andar de bicicleta e digitar em um teclado de computador. São coisas automáticas, para as quais não é preciso pensar para realizar.



(texto publicado na revista Espaço Aberto nº 154 - outubro de 2013)






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