A vida sem cemitério não era, digamos, muito salubre. Nós, por exemplo, rezávamos em cima dos cadáveres. É sério. Até meados do século 19, o costume era enterrar os mortos dentro das igrejas. Na maior parte das vezes, nem caixão era usado. Os corpos eram sepultados na terra suja e repleta de ossos de defuntos antigos. Não é difícil imaginar a quantidade de doenças que a prática ocasionava. Segundo o escritor Francisco de Assis Vieira Bueno, em Vida Cotidiana em São Paulo no Século XIX, um ar maléfico enchia as igrejas e expunha as mulheres, que ficavam horas sentadas lá dentro, a todo tipo de infecção.
São Paulo só acabou com esse hábito nada higiênico em 1850, quando a Câmara decidiu que a cidade deveria construir um cemitério. Na Europa, já havia locais próprios para enterrar os defuntos no século 16. O cemitério dos ricos ficava próximo das igrejas. O dos pobres era uma vala comum, afastado.
Mas muito tempo antes de existirem igrejas o homem já tinha o costume de enterrar seus mortos. O primeiro rito funerário de que se tem notícia aconteceu há 300 mil anos, na atual Espanha - foi quando o homem tomou conhecimento da inevitabilidade da morte. O rito, coletivo, enterrou 32 corpos num poço dentro de uma caverna, com 14 metros de profundidade. O local deve ter sido escolhido para garantir que os defuntos ficariam a salvo de animais carniceiros.
A partir daí, cada civilização passou a enterrar seus mortos de acordo com a cultura e a religião. Os egípcios, por exemplo, mumificavam os faraós e os enterravam com pompas em pirâmides. Falecidos do povão eram colocados em um buraco no chão e cobertos com um manto de fibra natural. Os celtas, por volta de 1200 a. C., faziam grandes túmulos de terra para colocar os finados. Mais tarde, entre os séculos 11 e 8 a.C., passaram a incinerar os mortos e a guardar as cinzas em uma urna. Ainda na Antiguidade, na Índia, os defuntos eram incinerados em grandes piras - e, por vezes, viúva do morto era queimada também.
Medo de fantasma
Atualmente, quando algum ente querido morre, é costume que os familiares organizem cerimônias fúnebres para honrar o falecido. Mas nem sempre foi assim. Na Antiguidade, o medo era a principal razão dos ritos. Acreditava-se que, se a cerimônia agradasse ao morto, ele entraria no paraíso. Mas, se o defunto não gostasse dela, se vingaria mantendo-se entre os vivos e não descansaria em paz. Por causa do temor, as cerimônias, cada vez maiores, deram origem às pompas fúnebres, que continuam até hoje.
(texto publicado na revista Aventuras na História nº 22 - junho de 2005)
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