sábado, 5 de março de 2016

A evolução das moradias - Maria Alice Rezende de Carvalho


Grande ou pequena, feita de barro, madeira ou tijolo, com vários quartos ou um cômodo apenas - como é a sua casa? Todas as pessoas que você conhece moram de maneira parecida? Será que seus avós ou bisavós, quando crianças, tinham uma casa semelhante à sua? E os nossos personagens favoritos de desenho animado, você saberia responder depressa como vivem? Pois no mundo inteiro as moradias foram evoluindo com o passar do tempo. Se você quiser conhecer um pouquinho dessa história, entre, sente-se e fique à vontade para começar a leitura.

Você já ouviu falar nos Flintstones? Esse divertido desenho animado trata do dia a dia de uma família que vive na Idade da Pedra. Fred (o pai), Vilma (a mãe) e Pedrita (a filhinha) moram em uma confortável casa com sala, dois quartos, cozinha e um pequeno jardim, onde vive Dino, o dinossauro de estimação. A casa dos Flintstones foi criada nos moldes de uma casa atual. Mas é claro que no Paleolítico ninguém morava assim. Esta foi apenas a forma encontrada para retratar um tipo de ambiente doméstico em que pais, mães e filhos convivem em um espaço dividido por funções. Ou seja: nada de cozinhar no quarto ou tomar banho na sala.

Mas sabia que nem sempre as casas foram divididas em cômodos com finalidades específicas? A casa é uma das construções mais antigas da humanidade, e o lugar onde se faz a comida, por exemplo, nem sempre foi separado daquele em que se pode conversar ou dormir. Você já vai entender melhor essa história...

Em construção

De acordo com alguns filólogos, pesquisadores que estudam a língua e a cultura dos povos, a palavra casa, de origem latina, designava uma habitação modesta, rústica. Ela apareceu em substituição à palavra domus, cujo sentido se associava a uma habitação rica, senhorial. Em sua origem, portanto, casa significava algo bastante precário: era o abrigo de pessoas pobres.

Esse sentido, aos poucos, foi sendo abandonado, porque as casas foram se tornando mais sólidas e estáveis. Durante a Idade Média, entre os séculos 3 e 15, ter uma casa em uma aldeia europeia significava fixar-se, pertencer à comunidade dos cidadãos, ser estimado e protegido por aquele grupo.

Saiba, porém, que, nesse período, casa era tanto um lugar de abrigo como de trabalho, de encontro, de armazenar utensílios e de criar animais. Pois é! Nas vilas europeias, as atividades econômicas não se separavam do lugar de moradia. As oficinas de artesãos, o pequeno comércio e outros elementos do dia a dia eram reunidos em uma única construção. Foi com esse modelo na cabeça que os europeus se lançaram ao mar em busca de novas terras por descobrir e conquistar, no período das grandes navegações.

E assim aconteceu na colonização do Nordeste brasileiro. Nessa região, que rapidamente desenvolveu uma vocação para a agricultura e a exportação dos produtos cultivados, o padrão mais comum foi o da casa-grande, um espaço amplo que servia tanto como residência quanto como local de negócios. Essa construção imponente, típica dos séculos 17 e 18, contrastava com outro lugar que você já deve ter ouvido falar nas aulas de História: a senzala. Ali, os escravos descansavam da exploração diária de seu trabalho. Com um telhado, nenhum utensílio, muita umidade e pouca luz, a senzala estava longe de ser considerada uma casa.

Essa estrutura de casa-grande e senzala persistiu até a abolição da escravidão, o que não impediu que em outras regiões do país existissem modos distintos de organização do trabalho e da moradia. Quer um exemplo? As colônias de alemães e italianos que vieram para o Brasil e se estabeleceram como pequenos produtores rurais na região Sul do país. Nelas, predominou um tipo de construção de madeira erguida com uma técnica que eles trouxeram de seus países de origem.

Já a partir do século 19, nas grandes cidades brasileiras proliferaram os sobrados. Essas construções você já deve ter visto, porque até hoje existem algumas na nossa paisagem urbana, preservadas por sua importância histórica. Os sobrados costumavam funcionar assim: embaixo ficavam os armazéns: em cima, a residência dos donos e, no sótão, as dependências dos empregados.

Lar, doce lar

Continua acompanhando nossa linha do tempo? Então, guarde essa: foi com o surgimento das indústrias e o desenvolvimento das cidades que o lugar de morar foi separado do de trabalhar. Em outras palavras, o trabalho passou a ser concentrado na fábrica, e o descanso, enfim, nas casas! Mas esse ir e vir de casa para o trabalho incomodava um pouco alguns empregadores, que, para ter maior controle sobre os seus empregados, diminuindo o índice de faltas e os atrasos, construíam vilas operárias. A arquitetura era uniforme, o que privilegiava a disciplina.

O século 20 trouxe inovações na construção, mas nem sempre elas foram boas. Um exemplo são as habitações que, no Brasil, estão bastante presentes em favelas ou bairros mais deteriorados. Essas casas normalmente são feitas de alvenaria, mas remendadas, digamos assim, com todo tipo de material, como caixotes, pedaços de lata ou de papelão. Além da construção precária, elas geralmente abrigam um grande número de moradores, com a presença de avós, tios, afilhados... Quer dizer: uma família mais numerosa do que aquela "pai, mãe e filhos" de que falamos no começo do texto. Nesses espaços, pode acontecer de duas ou mais famílias habitarem a mesma casa.

Minha casa, sua casa

Com o passar do tempo e tantas influências históricas, as casas de hoje não se restringem a um só estilo ou material. Algumas moradias ainda subsistem de outras épocas, como os sobrados brasileiros, as vilas operárias ou os castelos europeus. E mesmo com a separação entre local de descanso e de produção, muita gente tem seu escritório em casa, por opção. Existe até casa sem teto, chão ou parede... Pelo menos, na música feita quando você ainda nem tinha nascido era assim:

"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão..." (A Casa, de Toquinho)

Casa curiosa, essa! Pois saiba que há um jeito de viver que se aproxima muito da letra desta música: o dos povos nômades. Eles não têm residência fixa, vivem se mudando, desmontando e montando suas barracas. Eles são o oposto dos povos europeus da Idade Média, que com o tempo caminharam para uma vida estabilizada no interior das vilas e aldeias. E já que o assunto é viajar, o que dizer das casas orientais? Em algumas regiões mais tradicionais do Japão, as casas são de madeira, com divisórias que abrem e fecham, móveis baixos e pouco espaço.

Aqui do lado onde vivemos, no Ocidente, as casas são muito parecidas entre si. O clima frio ou de calor é um dos fatores que determinam pequenas variações... Países tropicais tendem a preferir construções com varandas. Já os países de temperatura temperada preferem janelas menores. As escadinhas na frente dos antigos prédios residenciais norte-americanos se explicam pela existência de longos períodos de nevadas. A porta na altura da rua muitas vezes impedia que seus moradores entrassem ou saíssem de casa com tanta neve!

A casa do futuro

Agora que você já sabe um pouquinho sobre a história das moradias, não limite sua imaginação: casas de barro, de madeira, de alvenaria... Todas representam padrões de construção que levaram em conta, primeiro, o material disponível na natureza, como a madeira, depois, um artefato como o tijolo, e, finalmente, o cimento armado, o concreto, que permitiu a elevação de edifícios em tempo recorde e com grande segurança.

Uma dica: fique esperto com as novíssimas casas ainda em experimentação! Feitas de material ecologicamente sustentável, aproveitando a energia do Sol ou dos ventos, elas deverão ditar o padrão das moradias do século 21. Enquanto você lê este texto, as pesquisas sobre casas, as formas de construir e os tipos de materiais continuam a se desenvolver. Os engenheiros, arquitetos e especialistas em tecnologia trabalham para que nossas casas, no futuro, sejam mais econômicas e agridam menos o ambiente, sem deixar de nos dar conforto, claro. Esse é o caminho para que nossa maior casa, o planeta Terra, possa continuar oferecendo tudo o que precisamos para viver.



(texto publicado na revista Ciência Hoje das crianças nº 224 - ano 24 - junho de 2011)

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