sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Paulistano Nota Dez: José Guimarães Júnior - Andreza Monteiro


Nome: José Guimarães Júnior
Profissão: treinador
Atitude transformadora: criou há 46 anos uma escola gratuita de futebol para crianças e adolescentes

Aos 19 anos, em 1953, José Guimarães Júnior, recém-chegado da Bahia, encantou-se ao visitar as instalações do Jockey, de onde não quis mais sair. Ingressou na função de cavalariço e logo passou a montar. Em 1961, no entanto, uma grave queda interrompeu sua carreira. Ele teve duas costelas quebradas e começou a mancar. Hoje, ganha a vida como funcionário do setor administrativo da instituição. Em 1970, fundou um clube amador de futebol, o Pequeninos do Jockey, como forma de não largar o mundo esportivo. Os alunos consistiam, no início, em filhos de funcionários. O local das atividades até hoje, é a Chácara do Jockey, na Zona Oeste - espaço que pertenceu à entidade até 2014 e, em abril, foi inaugurado como parque pelo município. Hoje, cerca de 250 crianças aprendem ali, de graça,a o bê-á-bá da bola com professores. Outros 45 jovens, vindos de bairros carentes ou não, praticam o esporte em um campo próximo, por mensalidades simbólicas de 10 a 100 reais. "Quando o pai não pode pagar, a gente jamais recusa a criança", diz.

Aos 82 anos, Guima, como ele é mais conhecido, está prestes a embarcar para a Europa pela 26ª vez. Quarenta jogadores do Pequeninos, divididos em categorias sub-14 e sub-15, vão disputar campeonatos por lá entre julho e agosto. Na sala de troféus da sede, instalada na própria chácara, entre os aproximadamente 1 600 títulos conquistados, brilham oito taças da Gothia Cup, realizada anualmente na Suécia e considerada a Copa do Mundo infanto juvenil. "Transformamos crianças em grandes craques e em seres humanos gigantes", acredita. Mesmo com a idade avançada e com dificuldade para enxergar, ele acompanha diariamente as atividades em campo. Nos intervalos dos treinos, entrega aos aprendizes frases sobre superação. Para se filiar à instituição, é preciso ter de 4 a 16 anos e exibir notas azuis na escola. Mantido por verba da prefeitura (16 000 reais por mês), mensalidades da escolinha e doações, o projeto já revelou craques como o meio-campista Zé Roberto, que atuou na seleção brasileira e defende no momento a camisa do Palmeiras. "Seu Guimarães era praticamente um pai, aprendi muito com ele", conta o jogador. Em reconhecimento a esse trabalho, o ex-jóquei participará do revezamento da tocha olímpica na capital no próximo dia 24.



(texto publicado na revista Veja São Paulo de 13 de julho de 2016)

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