sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Paulistanos Nota Dez: Fernando e Humberto Campana - Julia Flamingo



Nome: Fernando e Humberto Campana
Profissão: designers
Atitude transformadora: comandam um instituto para a capacitação artística de pessoas carentes

Os irmãos Fernando, de 55 anos, e Humberto Campana, de 63, figuram no posto de designers brasileiros mais conhecidos no exterior. Assinam peças famosas pela abordagem bem-humorada, como a poltrona afeita com bichinhos de pelúcia. Outra marca registrada da dupla é a utilização de referências nacionais nos projetos, como a cultura do cangaço. Criados em Brotas, no interior paulista, eles vivem na capital desde o início da década de 70. Entre as viagens internacionais e inúmeros compromissos de trabalho, arrumam tempo para se dedicar ao Instituto Campana, fundado por eles há sete anos. De duas a três vezes por semana, visitam a Favela do Moinho - próxima ao ateliê dos profissionais, em Santa Cecília - onde ministram oficinas de arte a moradores carentes. Ali, já se formaram sete turmas, somando cerca de 170 alunos. Os pupilos têm entre 5 e 16 anos e lidam nas aulas com objetos coletados pelos catadores da região. As caixas de papelão, por exemplo, viram material de construção de maquetes. Uma das aprendizes, Catarina Machado, 17, conseguiu emprego na Garagem Fab Lab, na Barra Funda, laboratório dedicado a criações digitais. "Moro em um lugar muito pobre, nunca imaginaria que teria uma oportunidade assim", conta. Segundo Humberto, a iniciativa foi pensada mesmo para abrir portas. "Oferecemos outro caminho que não o das drogas, realidade cotidiana de várias dessas pessoas", afirma.

Por meio de acordos com o Sesi e a Faculdade de Belas Artes, entre outras instituições, os Campana inauguraram uma biblioteca na escola no ano passado, além de reformar a precária sala de artes. "A procura por parceiros é interminável", diz Fernando, que ajuda principalmente na administração. Os irmãos fazem um  trabalho semelhante em Taubaté. Nos últimos seis anos, capacitaram 100 bordadeiras para fabricar produtos posteriormente comprados por eles. No futuro, pretendem realizar oficinas em seu ateliê. "Assim como nós, esses aprendizes podem começar a vida com as próprias mãos", deseja Humberto. O instituto atua também no Rio de Janeiro, em Alagoas e em Sergipe.



(texto publicado na revista Veja São Paulo de 6 de julho de 2016)

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