quinta-feira, 3 de março de 2016

7 erros que acabam com a promessa de emagrecer no Ano Novo (e os conselhos dos especialistas sobre como evitá-los) - Chris Martinez


Na virada do ano, depois de se empanturrar de lentilha, farofa e lombo, você pulou as sete ondas e prometeu que iria despachar os pneus da cintura e ganhar um abdômen digno de modelo de capa de revista fitness. Jurou ainda que, desta vez, a coisa era séria. Nenhum pote de Nutella ou chopinho seria capaz de acabar com a disposição de deixar para trás a vida bandida de excessos. Sei que a ideia não é nada original. Trata-se de uma das resoluções mais manjadas do réveillon: tirar os dois pés da jaca e encarar seriamente aquela dieta. Agora vai. Só que não vai. Você fez patuá com sal grosso, jogou rosa branca para Iemanjá e, no quinta dia útil do ano, deu ruim. Depois de um dia péssimo no escritório, chutou o pau da barraca e se atracou com um sorvete com cobertura de calda de chocolate quente. Afinal, a vida é uma só, não é?

Bem-vindo a bordo! Esse enredo que começa promissor e termina de um jeito frustrante não é novo. Richard Wiseman, um psicólogo da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, acompanhou em 2007 cerca de 3 000 pessoas que haviam feito resoluções de Ano-Novo. Entrar na linha era um dos objetivos de desejo mais comuns na virada da folhinha do calendário. Da turma que tinha prometido exercitar-se mais, só 29% perseveraram até o fim. Entre os que desejavam perder peso, apenas 28% foram bem-sucedidos. 

Confesso: já jurei mil vezes fazer a mesma coisa. Só que três anos atrás - aleluia! - cumpri a promessa. Perdi 18 quilos em doze meses e nunca mais deixei a peteca cair. Há um ano divido com leitores essa e outras experiências no blog Cansei de Ser Gorda. Sem pretensão alguma de converter alguém à seita da malhação, conversei com especialistas e selecionei dicas para você não falhar desta vez. Confira nas páginas a seguir os conselhos e nunca esqueça: 366 novos dias representam 366 novas chances de mudar seu estilo de vida.

1. Pressa

Você jurou ser magro em dezembro e quer ser a Gisele Bündchen ou o Brad Pitt no Carnaval. Claro, não vai dar. As pessoas esquecem que levaram pelo menos alguns meses para ganhar peso e simplesmente não percebem que o caminho inverso também demanda tempo. A ansiedade para emagrecer do dia para a noite, certamente fará com que você opte por dietas bem restritivas, de baixíssimas calorias ou baseadas em proteínas. A perda inicial de quilos ocorrerá rapidamente, mas com certeza você não aguentará bancar o esquema por mais de um mês. Segundo pesquisas, duas de cada três pessoas que perdem em torno de 5% do peso em um prazo muito rápido graças a regimes severos engordam novamente. Após 45 ou sessenta dias de dieta, o corpo muda o metabolismo e começa a produzir substâncias anti-emagrecimento. "Com isso, a perda de peso passa a se tornar mais lenta", diz Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração.

Solução: seja paciente (é difícil, eu sei), consulte um médico, um nutricionista, veja como está sua saúde e, aí sim, siga um caminho sem volta. Emagrecer é uma mudança de hábito, não tem jeito. Uma meta viável é perder entre 10% e 15% do peso em um ano. "Dá para queimar mais, mas isso pode provocar doenças e o indesejável efeito sanfona de emagrece-engorda", diz a nutricionista Cynthia Antonaccio. É preciso também ficar de olhos nos alimentos. Um adulto que acrescenta 1 000 calorias por dia à média das 2 000 que precisa ingerir vai ganhar 1 quilo por mês. Uma ida inofensiva ao cinema com consumo de um balde de pipoca com manteiga e um refrigerante dieta é um tiro no pé. Para queimar essas calorias, um adulto precisa caminhar três horas. A executiva Noelle Pessoa, de 34 anos, tomou remédio para emagrecer (sibutramina) durante dois anos, fez uma hidrolipo (espécie de lipoaspiração), saiu da calça 42 para a 36. Casou-se, parou com a medicação e voltou para a 42. Até que, em 2013, deu um basta: fez sua corrida de rua e aprendeu a comer. Hoje não viaja sem tênis na mala. "Já estou na segunda meia maratona", comemora.

2. Falta de planejamento

Sem nada para comer em casa, ao chegar do trabalho, exausto e faminto, você facilmente vai traçar o que aparecer pela frente. E, sabemos, aquela fatia de pizza na geladeira é sempre a primeira oferta. Tenha em mente que, se você não se organizar, um prato saudável não brotará na sua mesa.

Solução: planeje o cardápio semanal, faça as compras e busque receitas criativas para não cair na mesmice. A jornalista Amanda Brum, de 36 anos, deu um chega pra lá na obesidade em 2013, ao perder 16 quilos. Seu atual manequim, 38, é mantido há três anos graças ao empenho de levar marmitas saudáveis para o trabalho diariamente. Como tem pouco tempo durante a semana, Amanda prepara as refeições aos domingos. "Levo de três a quatro horas cozinhando. Tornou-se um ritual de mim para mim mesma."

3. Amigos sabotadores

Não adianta estabelecer uma meta de emagrecimento e seguir com os mesmos velhos companheiros que ainda cultivam hábitos de comer e beber à vontade, além de ser sedentários. A pior escolha é ceder àquela frase: "Ah, só hoje, só um chopinho... Começo na segunda". Não funciona. Claro, ninguém está pregando abstinência total. Mas dá para ficar bem com doses no fim de semana, né ?

Solução: fuja por um tempo de eventos sociais, descubra outros hábitos, faça novos amigos. Quando você reaparecer sorrindo, 5 quilos a menos, depois de um mês, seus velhos parceiros (também acima do peso) vão entrar na sua. Pode apostar. O designer gráfico José Leandro de Lima, de 30 anos, fez um pacto com amigos de infância (e bons de copo) para que ele mais dois conhecidos emagrecessem para o casamento de outro - justamente um profissional de educação física. Do trio, todos perderam os quilos extras, mas dois já recuperaram a pança. Lima, ao contrário, eliminou 15, manteve o peso e saiu do sedentarismo para se tornar um corredor assíduo no Parque do Ibirapuera. "Treino três vezes por semana, variando de 6 a 15 quilômetros, dependendo do humor do dia", conta.

4. Hábitos ruins

A contagem de calorias, pura e simplesmente, ou a compra de tratamentos estéticos com promessas milagrosas não resolvem o problema de mudar o que é preciso no dia a dia na nutrição. Comparar as calorias de um brigadeiro com as de uma maçã, ou algo assim, não funciona. Os valores são semelhantes, mas essas coisas possuem nutrientes diferentes. A conta não é essa.

Solução: busque um plano alimentar equilibrado, sem radicalismo. "Planeje sempre com cuidado sua refeição e, ao se servir, preencha metade do prato com verduras e legumes, 25% com proteína e o restante com carboidrato", diz Marcio Atalla, professor de educação física com especialização em treinamento de alto rendimento. "Mais importante do que contar calorias é medir a circunferência abdominal para checar se o regime está funcionando". Homens que têm mais de 102 centímetros já podem sofrer uma série de doenças cardiovasculares. Para mulheres, a medida é 88 centímetros. Tenha em mente também que a principal refeição do dia é  o café da manhã; depois vem o almoço e, na sequência, o jantar. É importante fazer um lanchinho entre as refeições.

5. Cobrança

Embora você tenha prometido, de corpo e alma, que vai mudar de vida, acreditar única e exclusivamente nisso pode não ser suficiente para se manter na linha durante meses ou um ano inteiro. É um erro achar besteira pedir ajuda a alguém, confiando na sua determinação pretensamente inabalável. A consciência e a força de vontade são fundamentais, claro, mas é importante que alguém supervisione seu comprometimento e puxe você na hora em que estiver pensando em jogar a toalha.

Solução: contrate um personal, um nutricionista... Vale o investimento. Se a grana estiver curta, tente uma solução criativa, como fazer uma aposta, para valer, com um bom amigo. "O comprometimento, uma parceria bem afinada ou a preparação para uma prova, como uma corrida, por exemplo, são estímulos e comprovadamente fórmulas eficazes", ensina a educadora física Camila Hirsch, da assessoria esportiva Personal Life. Concluir uma prova e receber a medalha são coisas que empolgam. Mas preste atenção: um sedentário leva dois anos para conseguir correr um circuito de 42 quilômetros. Uma prova de 5 quilômetros, só após três meses de treino, orientado por um profissional. Em menos tempo que isso, nem o Superman.

6. Exagerar no exercício

Seu último tênis é da década de 80, e agora, de repente, você decidiu que vai ser triatleta. O sonho é bacana e pode, sim, se tornar realidade. A curto prazo, porém, não rola. Janeiro é o mês de maior procura nas academias. Na rede Competition, por exemplo, o número de visitas aumenta mais de 50% nesse período. "Pouco mais da metade dos novos matriculados continua conosco depois de alguns meses", afirma Giuliana Sant'Anna, gerente de vendas da Competition.

Solução: escolha uma atividade razoável, que esteja de acordo com seu ritmo, ainda lento, e proponha-se metas compatíveis, como exercitar-se duas vezes por semana. Jamais saia do sofá direto para uma maratona. "O 'atleta repentino' pode ter uma arritmia cardíaca e sofrer morte súbita até durante o sono", alerta o cardiologista Nabil Ghorayeb.

7. Buscar modelo inatingível

Fotos antigas em que você estava arrasando no verão podem ser ótimos estímulos. Mas cuidado ao se inspirar em outra pessoa. O problema é imaginar que seu corpo ficará igual ao desse (a) modelo. Se a comparação cria uma falsa expectativa, você terá problemas na certa. E a decepção, nesse caso, pode ser um duro golpe. Você fica pior do que quando começou e empurra com a barriga a decisão de emagrecer para o próximo ano. Ciclo repetitivo.

Solução: encontre sua própria autoestima e entenda que sair da calça 48 para a 44 é, sim, uma grande vitória. A sua saúde não pode ser comprada, precisa ser adquirida. "Vejo uma postura passiva, no consultório", conta Alessandra Fraga, dermatologista do Hospital Albert Einstein. "O paciente quer 'ser emagrecido'. Isso não é real. Ele precisa querer emagrecer", completa a especialista.



(texto publicado na revista Veja São Paulo de 13 de janeiro de 2016)

Nenhum comentário:

Postar um comentário