quinta-feira, 29 de março de 2012

Bioquímica do bem

Os estados emocionais são acompanhados por mudanças nas "moléculas de emoção", os polipeptídeos. A cada alteração de humor, uma cachoeira de hormônio e neurotransmissores flui através do corpo, afetando todas as células. Robert Sapolsky, premiado neuroendocrinologista da Universidade Stanford, é um dos mais reconhecidos especialistas nesse tema. Ele explica que a característica definidora de um surto depressivo é a perda de prazer. "Se eu tivesse de definir depressão severa em apenas uma frase, diria que é um distúrbio genético-neuroquímico que requer um forte gatilho ambiental, cuja característica manifestada é a incapacidade de apreciar o pôr do sol", diz. Essa perda de prazer é oficialmente chamada de "anedonia", a incapacidade de sentir prazer.

O correlato fisiológico desse estado é um aumento na secreção de glucocorticoides, especialmente do cortisol, hormônio do estresse produzido pelas glândulas suprarrenais. O comando para a produção dessa substância parte do eixo hipotálamo-pituitária, no cérebro. Quando o indivíduo se expõe a um agente estressor, o hipotálamo, por meio da glândula pituitária, mobiliza a secreção de cortisol das suprarrenais. Em uma pessoa saudável, quando o nível de cortisol sobe o hipotálamo desacelera a estimulação das suprarrenais, fazendo com que os níveis de cortisol diminuam e o corpo alcance novamente uma situação de equilíbrio (homeostase).

Mas se a pessoa está deprimida, esse circuito de retroalimentação não funciona adequadamente, e o hipotálamo continua a estimular a secreção de ainda mais cortisol. Aqueles que sofrem não apenas de estresse e depressão, mas também de ansiedade crônica, transtorno e outros distúrbios têm níveis de cortisol cronicamente elevados, a chamada hipercortisolemia: "Uma das anormalidades biológicas mais frequentemente encontradas em pacientes com depressão é a hipersecreção contínua de cortisol - uma reação de estresse generalizada que escapou da contrarregulação normal, como se estivesse 'travada' na posição 'ligada'. Esses processos bioquímicos anômalos resultam provavelmente de um estresse sistêmico, com constante aumento do nível de cortisol", afirma Sapolsky.

Pesquisadores da College em Londres descobriram como a felicidade transforma nossa bioquímica. Pessoas felizes secretam cerca de 30%  menos cortisol durante o dia - mesmo quando estão passando por algum estresse! "Essa pesquisa demonstra que a busca de um aumento da felicidade deveria ser uma preocupação dos órgãos de saúde pública", acredita a epidemiologista Jane Wardle, uma das autoras do estudo. Uma vez que a sensação de bem-estar subjetivo está diretamente relacionada com processos biológicos, os cientistas estão examinando os meios possíveis de mudar a nossa biologia e, assim, transformar nosso humor. O desafio agora é encontrar formas de regular esse excesso e reduzir a incidência de emoções negativas.



(texto extraído da revista Mente Cérebro)


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