domingo, 30 de novembro de 2014

'Quem mais sofre com a violência é o pobre' - Ana Elisa Faria


"Rei da noite paulistana" nas décadas de 1980 e 1990 fala sobre Carnaval, trânsito e falta de segurança na cidade

José Victor Oliva ama as ruas e o cheiro de São Paulo, ao mesmo tempo em que detesta o trânsito e a violência da cidade.

Conhecido como "rei da noite paulistana" nos anos 1980 e 1990, quando comandou casas noturnas badaladas - como Gallery, Banana Café e Resumo da Ópera -, ele, agora diretor-geral da Holding Clube, grupo de empresas de marketing promocional, não frequenta mais as baladas da capital e afirma não sentir falta delas. "Saía de casa às 21h e voltava às 7h. Hoje, trabalho de dia, durmo à noite e tudo bem."

Sua rotina se divide entre os bairros de Pinheiros, onde fica seu escritório, e o Morumbi, onde mora. "Também gosto muito de sair para comer. Acho que a praia do paulista são os restaurantes e os bares."

Como foi ser o "rei da noite"?

Trabalhar à noite em São Paulo foi uma delícia. Amo esta cidade, ela me deu tudo o que tenho. Agradeço a quem me chamava de rei, mas nunca me senti um.

O que te fez mudar de ramo?

Trabalhei com festas por 22 anos e achei que já estava bem-sucedido, na hora de fazer outra coisa. Meus filhos eram pequenos e eu queria ficar mais com eles.

Conhece as casas noturnas atuais de São Paulo? Sente falta das festas?

Não conheço, nunca mais saí assim. Passo os fins de semana na fazenda [em Sorocaba, a 99 km de São Paulo]. Trabalhei cerca de 8.000 noites. Saía de casa às 21h e voltava às 7h. Para mim, deu. Hoje, trabalho de dia, durmo à noite e tudo bem.

O que você ama na cidade?E o que te deixa com raiva?

Odeio o trânsito e a violência. O resto eu adoro tudo: as ruas, as luzes, o cheiro, os parques. Às vezes, até do barulho eu sinto falta. Mas acredito que não existe nenhum tipo de cidade que pare em pé com a violência que temos aqui. Não dá para investir em outras áreas enquanto não se fizer um investimento fortíssimo em segurança.

Qual seria esse investimento?

Dobrar a quantidade de policiais nas ruas, aumentar o número de blitz da lei seca. Se não acontecer como em Nova York na época da "tolerância zero" [medidas implantadas na metrópole americana, na década de 1990 e que visavam diminuir a criminalidade], nós vamos perder para a violência. E quem mais sofre com isso é o pobre, pois o rico tem segurança, carro blindado. Na periferia, todos os dias você vê gente ser morta. Temos de ter mais respeito pelo povo que faz toda a diferença para a cidade.

Você é o criador do camarote Brahma na Sapucaí. Pretende fazer algo parecido no Carnaval paulistano?

O Carnaval daqui melhora a cada ano. Em breve vai ser tão bom quanto o do Rio de Janeiro, é só uma questão de investimento. Faço no Rio há 25 anos porque foi convidado. Se houver um convite para São Paulo, faço com muito prazer.




(texto publicado na revista São Paulo da Folha de São Paulo - 2 a 8 de novembro de 2014)






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