por Myrna Silveira Brandão
O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon), do americano
Julian Schnabel, é uma história impressionante de superação, baseado num fato
real.
Schnabel, por sinal, gosta de retratar a vida real. Um de seus maiores
sucessos, o controverso Antes do Anoitecer (Before Night Falls), estrelado por
Javier Barden, é sobre o escritor cubano Reinaldo Arenas, homossexual assumido e
perseguido na Cuba de Fidel.
Anteriormente, Schnabel também já havia despertado polêmica com seu filme
sobre o pintor e grafiteiro americano Basquiat.
O Escafandro e a Borboleta – destaque da 45ª edição do Festival de Nova York
– se baseia igualmente numa história real, no caso a vida do jornalista
francês Jean-Dominique Bauby, ex-editor do Elle.
Em 1995, Bauby sofreu um acidente cerebral e ficou totalmente privado da
palavra e dos movimentos.
Embora paralisado, Bauby ditou um livro, mas até conseguir esse fato
extraordinário, o jornalista deve ter experimentado uma situação como a expressa
no título do livro: viver entre uma espécie de escafandro pesado que o puxava
para um abismo, diferentemente de sua imaginação, que era uma borboleta livre
querendo voar.
Na verdade, o extremo isolamento em que passou a viver após a doença, lhe
deu uma outra percepção da vida. A família, o amor e tudo o que ele estava
perdendo funcionaram também como incentivo para a busca de uma forma para
voltar a se comunicar.
A interpretação de Mathieu Amalric como Bauby é impressionante, transmitindo
toda a angústia desse homem prisioneiro do próprio corpo.
A sensibilidade para o que o roteiro do filme pedia deve também ter influído
no seu desempenho, porque embora o seu talento para atuar, Amalric tem revelado
que está parando com a carreira de ator para se concentrar na de diretor.
“Acho que dirigir filmes é uma atividade muito prazerosa, que envolve
pesquisa, decisões, escolhas”, ensina.
Schnabel – que ganhou o prêmio de direção em Cannes – tem uma explicação
interessante para as razões de ter elegido Amalric para ser o protagonista de
seu filme.
“Inicialmente eu pensei em outros nomes para viver Bauby, mas após conhecer o
trabalho de Amalric, não tive dúvidas, são incríveis as coisas que ele pode
fazer com os olhos. Além disso, como a história é narrada pela voz de um
francês, achei que a sensibilidade poética da língua era necessária”,
complementa. Além de Amalric estão no elenco Emmanuelle Seigner e Marie-Josée
Croze.
Outro ponto salientado por ele foi quanto às locações. “Eu quis fazer o filme
no hospital da cidade de Beerck, onde Bauby ficou internado nos últimos anos de
sua vida. Não queria que as coisas parecessem falsas”, ressalva Schnabel, que é
também pintor e, ao que parece, seu olhar de artista esteve presente nos
momentos de pura plasticidade em várias cenas.
O Escafandro e a Borboleta aborda um tema difícil, que facilmente poderia
cair numa história lacrimejante ou voltada para captar a comiseração dos
espectadores. Mas tal não acontece. A história é muito bem desenvolvida e
consegue passar, sem apelar para tais artifícios, parte do que deve ter sido o
drama pessoal e a angústia de Bauby.
Trailer do filme
Análise do filme
Entrevista com o elenco
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