quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Efeito coruja - Diego Benine


Não lute contra o travesseiro: você sempre vai sair perdendo! Saiba como a privação do sono afeta negativamente o seu corpo
 
A maioria das pessoas repousa cada vez menos e colhe os efeitos negativos desse mau hábito. "Em 1900, elas dormiam em média 9 horas diárias. Hoje, esse número fica abaixo de 7. Embora não exista uma indicação ideal de horas, pois isso variará conforme cada indivíduo, pode-se dizer que estamos nos privando do sono", afirma Geraldo Lorenzi Filho, especialista em medicina do sono do Hospital Santa Cruz (SP).
 
Para o médico Shigueo Yonekura, do Instituto de Medicina e Sono (SP), essa mudança de comportamento está associada, principalmente, ao excesso de trabalho, ao acúmulo de funções e ao uso ostensivo da internet - hábitos muito evidentes na sociedade contemporânea e que, de certa forma, estão interligados. Afinal, o indivíduo que passa muito tempo no escritório tende a querer aproveitar a noite em frente à televisão ou no computador. A sensação de "dia perdido" leva as pessoas a buscarem lazer nesses aparelhos e, por consequência, a sacrificarem suas preciosas horas de descanso.
 
"Elas vão dormir cada vez mais tarde e continuam acordando cedo. Além disso, a insônia costuma afetar aqueles que estão em estado de estresse ou ansiedade. Grande parte das pessoas com depressão também sentem dificuldades para adormecer", completa o especialista.
 
Outro fator que afasta o sono é a alimentação inadequada. Consumir pratos calóricos tarde da noite faz com que o estômago tenha de desempenhar um esforço extra para realizar a digestão. Isso provoca desconfortos físicos, como a famosa sensação de "barriga pesada" que faz você rolar na cama de um lado para o outro. Bebidas alcoólicas ou à base de cafeína (café, refrigerantes de cola, e chás do tipo preto e mate), tão presentes nas refeições noturnas, também acarretam o problema, já que atuam como estimulantes do sistema nervoso central.
 
 
Vida perigosa na madrugada
 
Geraldo Lorenzi Filho, do Hospital Santa Cruz (SP), afirma que dormir não é perda de tempo, mas sim uma atividade que regula as funções do organismo, e cujos benefícios estão além do descanso muscular e mental. "Ela é importante para a liberação de hormônios, metabolização dos radicais livres que são tóxicos para o corpo, fixação de memória e equilíbrio do humor", explica. Sendo assim, abster-se dessa prática frequentemente é sujeitar o organismo como um todo a uma série de prejuízos. Veja a seguir como as noites em claro afetam a sua saúde.
 
 
Imunidade
 
Uma pesquisa brasileira provou que dormir regula as defesas do corpo: 32 homens foram divididos em três grupos: indivíduos totalmente privados de descanso, os que não atingiram o estado de sono profundo (REM) e os que repousaram. Ao final, constatou-se que quanto mais tempo eles ficavam sem dormir, maior era a produção de neutrófilos, células que combatem infecções, o que indicaria uma inflamação em todo o organismo.
 
 
Coração
 
A privação de sono está associada ao estreitamento das camadas celulares da artéria carótida, estrutura que tem a missão de levar sangue para o cérebro. É o que mostrou uma pesquisa da Associação Americana do Coração, a qual avaliou 617 pessoas. Divulgada no jornal Stroke, ela mostrou que a alteração na artéria facilita o surgimento de um AVC e doenças cardiovasculares, como arritmia e infarto.
 
 
Aparelho digestivo
 
O consumo excessivo de café pode acarretar gastrite e até úlcera. Estudos japoneses também apontaram uma relação direta entre os distúrbios do sono - categoria que abrange a dificuldade em adormecer - e a doença do refluxo gastroesofágico, que provoca queimação na região do esôfago.
 
 
Cérebro
 
Irritabilidade, sonolência, lapsos de memória e déficit de atenção são algumas das principais queixas dos notívagos. Pesquisas também comprovam que as capacidades cognitivas são reduzidas, assim como a produção de serotonina (neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar). Isso facilitaria o desenvolvimento de um quadro de depressão.
 
 
Pâncreas
 
Sabe-se que o problema afeta o sistema nervoso simpático de tal modo que este inibe a produção do hormônio insulina pelo pâncreas. Uma vez que a substância responsável por controlar a taxa de açúcar no sangue, o risco de desenvolver diabetes aumenta consideravelmente.
 
 
Sistema endócrino
 
Ficar sem dormir compromete a emissão do hormônio GH, responsável pelo crescimento. No caso dos adultos, a falta dessa substância causa redução do vigor físico, envelhecimento precoce e diminuição do tônus muscular. A produção de leptina é prejudicada. O déficit da substância está ligado ao aumento de peso e à obesidade", diz o médico do Instituto de Medicina e Sono (SP).
 
 
Aparência facial
 
Um experimento realizado pelo Instituto Karolinska (Suécia) avaliou retratos de cinco mulheres. Parte das imagens foi registrada após uma noite de sono normal, enquanto que as demais fotografias foram tiradas depois de 31 horas de privação de sono. Dentre os sinais notados, estavam os olhos avermelhados e inchados, olheiras, palidez, rugas e marcas nos cantos da boca. Os analistas concluíram que as fotografadas pareciam mais tristes quando não repousaram.
 
 
Circulação sanguínea
 
De acordo com um artigo recente divulgado na revista Sleep, pessoas que dormem menos de cinco horas diárias têm 500 vezes - não, você não leu o número errado! - mais chances de se tornarem hipertensas. Lembrando que os portadores desse quadro são mais propensos a desenvolverem um acidente vascular cerebral (AVC).
 
 
Músculos
 
Além de sofrerem com as dores e fadiga causadas pela falta de repouso, eles passam a responder mais lentamente devido à redução do tônus muscular.
 
 
 
(texto publicado na revista Viva Saúde nº 126)
 
 
 
 

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