sábado, 21 de fevereiro de 2015

"Eu parei em uma ciclovia" - Julio Lamas (Planeta Sustentável)


Expandir a malha cicloviária em uma cidade como São Paulo não é fácil. A cultura e o planejamento carrocêntrico de décadas não são obstáculos pequenos a serem superados. Se um número assustou paulistanos no ano passado, mais até do que os da vertiginosa queda de volume do Sistema Cantareira, foi o de 40 mil vagas de estacionamento para carros que progressivamente sumirão de ruas e avenidas para abrir espaço para as bicicletas (e 400 quilômetros de ciclovias). "Afinal, onde nossas clientes ricaças vão parar seus carros?", os meios mais conservadores se perguntam ainda.

Com pouca surpresa, o número de multas aplicadas contra motoristas desrespeitando ciclovias cresceu exponencialmente. Entre janeiro e setembro do ano passado, 375 infrações - invadir e estacionar em ciclovias, na sua maioria - foram pegas na cidade pela Companhia de Engenharia e Tráfego. Um aumento de 32% em comparação com 2013. Para fazer valer a lei, a Prefeitura colocou além dos fiscais de trânsito, a Guarda Civil Metropolitana e parte da Polícia Civil nas ruas.

Da mesma maneira estão fazendo os administradores de Toronto, no Canadá. Desde o ano passado, um projeto-piloto de ampliação de rotas para bicicletas no centro da cidade é acompanhado de um reforço na fiscalização para educar motoristas. E, embora a multa de 150 dólares por estacionar nas novas ciclovias tenha seu valor pedagógico, alguns motoristas desavisados, ou simplesmente despreocupados, não parecem aprender. Mas os ciclistas de lá também não estão dispostos a aceitar isso.

Com a famosa civilidade canadense, dois ativistas sob rodas anônimos decidiram "sujar" um pouco as mãos para dar uma lição nos que desrespeitam as ciclovias e irritá-los um pouco. Sempre que um carro está parado ou obstruindo o caminho da bicicleta, o motorista infrator ganha um adesivo verde e bem chamativo no carro com os dizeres "Eu parei numa ciclovia" (I Parked in a Bike Lane, no original). Mesmo que ele saia impune e sem multa, o adesivo está lá para lembrá-lo de que a cidade é para todos.

Sem ser muito ofensiva, a ideia viralizou nas redes sociais e está pegando mais infratores do que a fiscalização. Não é para menos. Desde 2006, o número de viagens casa-trabalho com a bicicleta aumentam a uma média de 10% ao ano em Toronto, segundo dados do censo da prefeitura. "Colocamos quase mil adesivos em uma semana. E teve um resultado positivo para alertar. Muitas pessoas dependem das bicicletas para sair e trabalhar em uma cidade grande. É uma parte integral da minha vida diária. É incrivelmente frustrante quando vejo motoristas de maneira despreocupada e egoísta colocando os outros em perigo", justifica um dos criadores da ação para um site, sem revelar sua identidade. De acordo com ele, carros de polícia e entregadores de mercadorias estão entre os principais vilões para ciclistas.

Mas algo do tipo funcionaria em São Paulo? Talvez um grupo de russos nos dê outro cenário para avaliar. A exemplo dos canadenses, alguns ativistas da mobilidade alternativa de lá também lançaram em 2015 uma campanha pública polêmica para combater a violência no trânsito contra pedestres e ciclistas, a Stop a douchebag (na minha tradução, "Pare um babaca"). Com adesivos bem maiores e mais diretos na lição, algumas ações foram filmadas e parece que os motoristas russos não bebem da mesma fonte de paciência que os canadenses. As cenas são fortes, rapidamente muitos motoristas partem para a violência, inclusive, uma das "vítimas" volta com uma metralhadora Ak-47 em um dos vídeos.

















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