domingo, 25 de agosto de 2013

Entrevista com Luiz Roberto Mattos: Diante da morte - Alexei Bueno


Nesta entrevista, o pesquisador espiritualista e escritor Luiz Roberto Mattos fala sobre como podemos lidar com a morte de forma equilibrada

Luiz, na sua opinião, mesmo tendo a consciência da continuação da vida após a morte, devemos frequentar velórios de forma a cumprir com nosso "papel social"?

Luiz Roberto Mattos - Com certeza! A morte, para a maioria das pessoas ainda é um ato de perda e um momento doloroso. Ir ao velório e sepultamento de alguém conhecido ou parente próximo de um amigo é levar consolo e amparo psicológico e emocional às pessoas, em um momento de dor e fraqueza. Não podemos nos eximir disso apenas porque somos espiritualistas e não vemos a morte como uma perda. Além disso, é preciso respeitar as crenças e as limitações das pessoas, pois isso é tolerância... é caridade!


Por qual motivo o ser humano teme com tanta intensidade a morte?

Penso que o medo da morte é um misto de medo do desconhecido, ou seja, por ignorância do que acontecerá após a morte, e ainda apego às pessoas, sobretudo, a pais, filhos, irmãos, esposo (a), aos bens materiais...

Deixar a nossa casa, a nossa família, o nosso mundo conhecido, as nossas coisas, para seguir para um mundo desconhecido dá insegurança e medo a muita gente! E quanto mais ignorante sobre a vida no mundo espiritual, mais temor a pessoa sente! Precisamos ler muitos livros que descrevem o mundo no qual viveremos, como as obras de André Luiz, psicografadas por Chico Xavier, e tantas outras.

Escrevi recentemente um livro com essa finalidade, que se chama O Mundo Espiritual: de onde viemos e para onde vamos, que está disponível para baixar gratuitamente no meu site, e penso dar uma pequena contribuição para o conhecimento do mundo onde viveremos em breve, e de onde viemos.


O processo de "morrer" é sempre doloroso?

Se você se refere ao momento da morte, morte física mesmo, nem sempre é doloroso. Há mortes dolorosas, que duram anos ou meses, por meio de um câncer, por exemplo, em que a pessoa pode sentir muita dor. Há processos de morte que duram semanas, com muita ou pouca dor também.

E há mortes instantâneas, por meio de um acidente ou um tiro na cabeça, por exemplo, em que a pessoa muitas vezes não sente dor alguma, tal a dimensão do dano no cérebro, que impede até mesmo a sensação de dor. Não dá tempo nem de sentir dor.

Há gente que tem um infarto fulminante e em poucos segundos nada mais sente. E há ainda aqueles que morrem dormindo, como um "passarinho", e que nada sentem também. Simplesmente dormem e não acordam mais para este mundo, mas continuam vivos no outro mundo, o espiritual.


O que ocorre, espiritualmente falando,com a pessoa que morre dormindo?

Se for uma morte natural, como, por exemplo, uma parada cardíaca em um idoso, acredito que ele não sente dor, pois seus mentores e técnicos da desencarnação já o prepararam antecipadamente, procedendo ao desligamento gradativo do corpo espiritual. O espírito está na outra dimensão, pois saiu do corpo físico no momento do sono, e simplesmente não volta mais ao corpo de carne após ser completada a "operação de desencarne". Essa, para mim, é a melhor forma de morrer. Gostaria de morrer assim...

Por qual motivo, segundo relatos de pessoas que passaram por experiências de quase-morte, há um retrospecto de toda sua vida até aquele momento?

Como essas pessoas não estavam destinadas a morrer, acredito que seus mentores e guias espirituais procuram lhe mostrar a sua vida até aquele momento, em perspectiva, como um filme em curta-metragem, para lhe dar a exata dimensão de como anda a sua vida, do que tem feito até aquele momento, a fim de que a pessoa faça mudanças, alterações e ajustes de vida para melhorar ainda mais. É um momento importante, e que deve ser bem aproveitado!

A chamada quase-morte, na verdade, é uma projeção astral também, um desdobramento, mas decorrente de um acidente ou cirurgia, normalmente, e apenas isso diferencia a experiência de qualquer outra projeção astral. A experiência serve para revisão e redirecionamento de vida, como aconteceu de fato com o homem que é mostrado no filme "Salvo pela Luz".


Quais as consequências espirituais que podem ocorrer após a morte, para a pessoa que praticou suicídio? Como podemos auxiliá-la?

Normalmente, as consequências são trágicas! Mas isso não decorre de nenhuma condenação divina! Quem chega a tirar a própria vida, na maioria das vezes, está muito desequilibrado, psíquica e emocionalmente, sem esperanças, e está desejando "terminar" a vida e a consciência, acabar com tudo.

Dessa forma, sua mente em desequilíbrio a levará, naturalmente, a zonas escuras e, muitas vezes, a locais onde já se concentram outros suicidas, que se atraem sem querer, inconscientemente, por mera afinidade de pensamentos e emoções.

O suicida não é levado a esses lugares! Ele vai sozinho, sendo atraído como por um imã, devido ao seu estado interior. Pode ficar nesse lugar até ser resgatado, mas o tempo é relativo, e depende muito de vários fatores. Um suicida pode ser logo levado para um hospital no mundo espiritual, como aconteceu com um conhecido meu. Cada caso é um caso. Não podemos generalizar! Há motivações diferentes para o suicídio, além da influência espiritual- a obsessão - que, em alguns casos, atenua a situação após a morte.

Devemos tentar ajudar aqueles que estão pensando em suicídio. Ajuda material, moral, emocional... dar o ombro para chorar, ouvir, apoiar, orientar, fazer tudo para demover a pessoa da ideia de suicídio, pois ele não resolve nada, apenas cria novos e piores problemas depois da morte. O suicídio é uma porta falsa de escape dos problemas. É, na verdade, um "portal" para dores maiores.

Além disso tudo, em futura encarnação o novo corpo pode ter dificuldades e limitações decorrentes do suicídio praticado, como deformidades físicas, deficiências em órgãos, etc.


É possível pressentirmos o momento de nossa morte?

Sim, é possível. E é possível pressentirmos também a morte de outras pessoas, sobretudo, daquelas muito ligadas a nós.

Há realmente videntes com grande capacidade de visualizar o futuro. Já conheci alguns muito bons nesse sentido.

Esse pressentimento pode vir por meio de sonho. Já sonhei com mortes, inclusive a de meu pai, quatro anos antes de acontecer. Já vi, em sonho, velório de parente que ainda não desencarnou.

Algumas pessoas conseguem pressentir esse momento por terem sido avisadas de sua partida enquanto estavam fora do corpo, mas isso depende de certa maturidade espiritual. Poucos estão preparados para receber a notícia da própria morte e não entrar em pânico! Isso porque a perspectiva da maioria das pessoas ainda é, de fato, materialista, ou seja, a maioria ainda vive para o mundo material, e o mundo espiritual é uma realidade distante, quando isso deveria mudar, pois o mundo espiritual é que é o mundo original, de onde viemos e para onde vamos. Mesmo os espiritualistas vivem, na prática, como se fossem materialistas, o que é uma incoerência!


Com relação à cremação, é possível a pessoa recém-desencarnada sentir os efeitos do fogo no seu corpo físico que deixou?

Uma vez inteiramente desligado o corpo espiritual do corpo físico, nada mais do que se faça ao corpo físico implicará em qualquer sensação no corpo espiritual, como a dor, por exemplo.

Assim, se a pessoa morreu e seu corpo será cremado, ela, como espírito, nada mais sentirá quando o fogo consumir o corpo físico.

Dessa forma, a cremação nada representará para o espírito, a não ser um sofrimento psíquico se ele insistir em ficar perto do corpo, por apego excessivo a ele, pois aí ele terá a ilusão de que está sendo queimado, mas não é uma dor real, pois o espírito já está desligado do corpo.

Exceção a isso é o caso de apego extremo ao corpo, quando, então, o duplo etérico fica tão fortemente ligado ao corpo físico e ao corpo espiritual que pode transmitir algumas sensações da matéria para o espírito.

É assim que alguns espíritos relatam estar em cemitérios junto ao corpo sepultado, assistindo e sentindo os vermes devorando o corpo de carne. São situações extremas de apego excessivo ao corpo, e isso ainda depende também da vida que se levou, pois isso implicará em apoio maior no momento e também após o desencarne.


Então é comum a pessoa, após desencarnar, assistir ao seu próprio funeral?

Pelos relatos que já ouvi até hoje, em reuniões mediúnicas, é de certo modo comum pessoas assistirem ao próprio funeral, estando algumas, inclusive, deitadas dentro do caixão e ouvindo tudo o que falam sobre elas.

Algumas são "desligadas" de seu corpo físico durante o velório; outras, ainda no hospital ou no necrotério, quando a morte é violenta, por meio de acidentes ou crimes. Tudo isso depende só da pessoa que morre. Quem não tem medo da morte e leva um vida digna e equilibrada, sempre tem apoio e suporte para o devido desligamento do corpo físico antes do sepultamento, na maioria das vezes, no hospital, onde há sempre equipes espirituais especializadas em desencarne.

Há aqueles que querem assistir ao seu enterro, mas com muita tranquilidade, para dar apoio aos que ficaram e não por apego ao corpo. Mas esses são raros entre nós!


Qual deveria ser nossa atitude ideal diante da questão da morte?

Bom, a pergunta dá margem a duas respostas, mas que estão interligadas. Uma diz respeito à atitude diante da nossa própria morte, e a outra está relacionada com a morte de outras pessoas.

Penso que devemos ler e refletir sobre a morte para nos acostumarmos com a ideia, pois a morte é certa, só não sabemos quando acontecerá.

Ouvir palestras, fazer projeção astral, tudo isso também ajuda. Mas precisamos mesmo é mudar a nossa consciência e a nossa maneira de encarar a morte. Ela não é o fim da vida. É apenas o começo de outra vida, só um pouco diferente desta.

Devemos estar preparados para partir a qualquer momento! A morte não dá aviso prévio, salvo em raras situações.

Devemos ter uma atitude positiva diante da morte, acreditando que estaremos apenas retornando ao mundo de origem, e aqueles entes queridos que partem também estão voltando para casa, e nos encontraremos em breve em outro "país", o mundo espiritual, que fica ali pertinho.

Morrer é como viajar a outro país para morar lá! Em breve pegaremos o mesmo avião e também nos mudaremos definitivamente para lá! Morrer e nascer, reencarnar e desencarnar faz parte da via de mão dupla que leva e traz espíritos de um plano para outro, sem que ninguém morra de fato. Precisamos pensar que há um fluxo, um tráfego permanente entre os dois mundos. Essa, para mim, é a atitude ideal e que diminui muito o medo da morte.


Qual influência terá para o desencarnado as lamentações dos que aqui ficaram?

Perturbação! Imagine alguém que já parte para outro mundo com medo, despreparado, e ainda fica ouvindo ou sentindo as vibrações de desespero e lamentação dos entes queridos que aqui ficaram. As duas perturbações se somam! Precisamos aprender a sentir saudade de uma forma mais positiva, lembrando apenas das coisas boas, dos bons momentos, e sempre sorrindo, e mandando bons pensamentos, de forma equilibrada, para auxiliar aquele que partiu para o mundo espiritual.

Ficar se lamentando pela ausência somente aumenta o sofrimento psíquico e emocional do desencarnado. Orar por ele! Jamais se lamentar pela sua partida! O desencarnado precisa de bons pensamentos e boas vibrações, e os lamentos carregam uma vibração pesada, que faz o desencarnado sofrer.


Qual a sua opinião a respeito do luto?

O luto, seja aquele demonstrado nas roupas, seja pela falta de vontade de sair por um tempo, de fazer tudo o que fazia antes, deve ser sempre respeitado. Cada um tem um tempo diferente para processar a sua dor decorrente da partida de um ente querido! Não devemos nunca querer apressar o luto dos outros! Respeito! Tudo a seu tempo! O luto é a falta que sentimos do outro! É a saudade!

E isso nos afeta muitas vezes de modo que levamos um tempo sem vontade de fazer tudo que costumávamos fazer. Mas todo luto um dia termina! Porém, a hora de acabar o luto ninguém pode dizer ao outro!


Como poderemos ser úteis às pessoas que se encontram em período de transição para a morte, muitas vezes ligadas ainda a aparelhos no hospital?

Se a pessoa acredita na vida após a morte, e está consciente, ler junto dela e conversar sobre as coisas boas que existem no mundo espiritual, para que a pessoa se acostume com a ideia e vá se preparando. Se a pessoa está inconsciente, em com, por exemplo, na verdade o espírito pode estar consciente fora do corpo, inclusive sendo preparado para o desencarne. Orar também ajuda sempre! Pedir ajuda a bons espíritos para que auxiliem na conscientização do ser que está prestes a voltar para casa.


Devemos nos preparar para a morte ou evitar pensar nela?

Para mim, é muito melhor se preparar, já que a morte é inevitável! Evitar pensar na morte em nada vai ajudar, mesmo porque ela chegará um dia e poderá nos pegar totalmente desprevenidos.

Mas se preparar para a morte implica em levar uma vida equilibrada, trabalhando, estudando, aprendendo coisas boas, porém, sabendo que tudo aqui é temporário, que nosso tempo neste mundo material é provisório, e que ele não é o mundo definitivo, não é a nossa verdadeira casa.

Aproveitar a vida não é destruir o corpo para ter prazer de qualquer forma! Aproveitar a vida é aprender todas as lições que a vida pode nos dar. Quem tiver uma boa vida, não no sentido negativo, nada tem a temer quanto à morte, nem quanto à vida futura no mundo original, nossa casa verdadeira.

Não precisamos ficar pensando na morte para nos preparar para ela. Mas precisamos estar sempre lendo livros e assistindo às palestras sobre o mundo espiritual, até entendermos piamente que ele é real!


Como superar a morte de um ente amado?

Para isso não há fórmula! Só o tempo vai amenizar a dor da "perda". Na verdade, a "perda" é apenas um afastamento temporário entre seres que se amam! Em breve, se encontrarão novamente! E é possível encontrar a pessoa que desencarnou ao sairmos do corpo durante a noite, e lembrarmos desse encontro ao acordarmos.

Muitos sonhos com parentes e amigos que morreram são lembranças reais do encontro com eles no mundo espiritual durante a noite, pois, enquanto o corpo dorme, o espírito sai dele e vai procurar seus parentes e amigos em outros planos mais sutis. Isso dá um grande consolo e ajuda a amenizar a saudade! O resto é com o tempo...


Seremos auxiliados no momento de nosso desencarne por meio do nosso guia espiritual?

O tipo de auxílio que receberemos no momento do desencarne depende muito de quem somos nós e do que fazemos em vida. Cada um tem um mentor, protetor, amparador ou guia que merece! Há níveis evolutivos diferentes entre os guias espirituais! Há espíritos perversos, terroristas ou assassinos frios que ficam entregues à própria sorte após a morte por longo tempo.

Alguns são aprisionados por organizações das trevas e levados para cativeiro nas zonas inferiores, onde chegam a ficar séculos, e alguns até milênios, como vemos no livro O Abismo, de Rannieri. Mas os que não fazem mal aos outros, e sobretudo os que fazem muito bem ao próximo, sempre são muito bem amparados, auxiliados, assistidos e encaminhados para cidades no mundo espiritual, para tratamento e repouso e depois para estudo e trabalho, e para nova vida.


Uma criança que desencarna continua a crescer no plano espiritual?

O corpo espiritual não cresce como o corpo físico! Mas os espíritos podem mudar de forma, pela vontade, pela força do pensamento, pois o corpo espiritual é feito de matéria muito mais flexível e maleável do que aquela que compõe o corpo físico. Dessa forma, um espírito mais elevado pode, pouco tempo após o seu desencarne, assumir uma forma adulta de outra vida passada.

Mas os espíritos sem muita evolução, por condicionamento mental, permanecem na forma infantil por algum tempo, podendo chegar a alguns anos como criança, mas isso não quer dizer necessariamente que o espírito mantenha a mente infantil, apesar da forma de criança. Já conheci um espírito bem antigo, um capelino, que se apresentava como criança, falando com voz de criança, mas com o conhecimento e a sabedoria de um adulto raro.

Um espírito razoavelmente evoluído pode assumir a forma que quiser! Há pouco tempo encontrei no mundo espiritual, estando eu em projeção astral, um espírito que desencarnou com 17 anos, estando em forma de criança de cinco anos, mais ou menos, ao lado de seu pai, que tinha desencarnado há pouco tempo. Ele assumiu a forma de criança apenas para a alegria de seu pai!


Como podemos auxiliar aos que partiram?

Lembrando apenas das coisas boas que fizeram em vida, orando por eles, pedindo a Deus por eles, e tentando levar a vida da melhor maneira possível, para que o desencarnado não tenha preocupações com aqueles entes queridos que ficaram.

Quando nossos pais, por exemplo, sabem que estamos bem aqui na Terra, eles ficam muito mais tranquilos, e podem levar uma vida melhor e seguir o seu caminho evolutivo. Se eles percebem que não estamos bem, então ficam ansiosos, tristes e passam a se preocupar conosco, e isso atrapalha a sua vida. Fiquemos bem, e os que partiram terão menos motivos para tristeza e preocupação.



(texto publicado na revista cristã de espiritismo nº 116 - ano XIII)


site de Luiz Roberto Mattos: www.mestresanakhan.com.br











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