sábado, 1 de novembro de 2014

Sensível demais - Patrícia Affonso


Uma em cada dez pessoas sofre com a síndrome do intestino irritável, uma doença que provoca falhas no funcionamento do órgão - além de muitas dores! Mas é possível evitar que o mal interfira na qualidade de vida

Constantemente tensa e suando frio, à espera de um desconforto abdominal que não tem hora certa para acontecer. É assim que a vítima de SII (síndrome do intestino irritável) se sente. Um dos sinais de que o problema etá a caminho são os gases, que incham a barriga a ponto de a pessoa ter que desabotoar a calça! Isso sem falar na emergência de parar em algum banheiro de repente. Ou, o contrário, se contorcer de dor e não conseguir evacuar por dias...

Estima-se que essa realidade atinja cerca de 10% da população mundial e isso representa um montante gigantesco. "A doença ocorre quatro vezes mais em mulheres do que em homens", diz o gastroenterologista Flávio Steinwurz,  dos Hospital Israelita Albert Eisntein (SP). Saiba mais...

O que é SII?

Mal caracterizado por uma desordem funcional, ou seja, uma espécie de anormalidade no metabolismo do intestino. A gente explica melhor: no tubo digestivo ocorrem os movimentos peristálticos, um conjunto de contrações musculares responsável por juntar o bolo fecal e empurrá-lo para ser expelido. "No caso dos portadores da SII, o intestino fica muito sensível a esses estímulos, tornando a coordenação de movimentos imperfeita e ineficaz", explica o médico Flávio. Resultado? Dores abdominais, sensação de estufamento e diarreia ou prisão de ventre, que podem, inclusive, se alternar no mesmo paciente.

Por que a doença acontece?

As pesquisas ainda não são conclusivas sobre o que de fato desencadeia essa hipersensibilidade. O que se sabe é que o estado emocional e a alimentação costumam ter grande relação com o surgimento do quadro. "Apesar de não existirem estudos que comprovem isso, a suscetibilidade feminina para desenvolver a síndrome pode estar relacionada aos hormônios e ao maior índice de ansiedade nas mulheres", observa Ricardo Portieri, cirurgião geral e gastroenterologista do Hospital Bandeirantes (SP).

Como identificar?

Não existe um exame para detectar o distúrbio. Pior: os sintomas são semelhantes aos de muitas outras doenças do intestino. O diagnóstico é longo porque geralmente a pessoa demora a procurar o médico e a análise é feita por exclusão. É necessário, primeiro, afastar a hipótese de inflamações, infecções e tumores. "Vão uns seis meses da primeira consulta até o diagnóstico. Geralmente, exames de sangue e fezes, radiologias e colonoscopia são confrontados com as queixas e o histórico do paciente para se chegar ao veredito", revela Flávio. O sinal mais importante da SII é dor abdominal contínua ou recorrente durante, pelo menos, 90 dias num período de um ano. O grupo de maior prevalência é o de pessoas entre 30 e 50 anos, a maioria mulheres.

Dá para evitar?

Um passo importante para fugir das crises é controlar a ansiedade e cuidar da alimentação. Aliar momentos de lazer com a prática de esportes também costuma trazer benefícios, assim como recorrer à psicoterapia. Já a alimentação pede uma análise minuciosa, pois a sensibilidade a determinado item pode variar caso a caso. Para saber a que o paciente é sensível, o médico recomenda uma dieta de exclusão, que retira do cardápio o alimento suspeito. Com um acompanhamento, especialista e paciente observam se há alívio dos sintomas. "Existem, porém, certos alimentos que parecem ser mais agressivos e, por isso, devem ser evitados. É o caso do leite e dos  seus derivados; da cafeína, presente em alguns  tipos de chá, como o preto, o mate e o verde, no café, no chocolate e em refrigerantes de cola, dos condimentos e especiarias, como canela, pimenta, alho e cebola; das frutas cítricas; da carne de porco; e das comidas gordurosas ou doces", enumera o médico Ricardo Portieri.

Tem cura?

Não e sim. Se a síndrome for controlada com a mudança de hábitos e com medicação, o paciente pode ficar meses e até anos sem os incômodos. Mas nada garante que eles não voltem. A administração de medicamentos depende do quadro apresentado. Em geral, os médicos indicam drogas que regulam os movimentos peristálticos, tratam diarreia e prisão de ventre, combatem dor e ajudam a formar o bolo fecal. "Existem também receptores de serotonina no intestino que estão ligados a esse quadro. Certas drogas são capazes de soltar ou prender o intestino", explica Flávio.

Falso alívio

"Períodos difíceis se alternam com o desaparecimento dos sintomas, que pode durar vários anos. Isso faz muita gente acreditar que o quadro se resolve sozinho e daí, não busca tratamento adequado", conta Ricardo Portieri.



(texto publicado na revista Máxima edição 54 - nº 6 - ano 5 - novembro de 2014)





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