segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Quem range ou aperta seus dentes pode ter problemas sérios na boca - Dr. Alessandro Silva


Conhecido como bruxismo, esse distúrbio atinge aproximadamente 35% da população, mas a maioria não percebe ou, mesmo ciente dele, não busca tratamento. Com o passar dos anos, pode levar à retração da gengiva, ao desgaste e amolecimento dos dentes e a problemas na articulação da mandíbula. Os principais desencadeadores são o estresse e o mau alinhamento dos dentes.

O bruxismo é uma desordem da função da boca que se caracteriza pelo ranger ou apertar dos dentes em especial à noite, mas de dia também. Atinge mais mulheres (65%) do que homens (35%) de todas as idades, sendo mais comum dos 30 aos 50 anos. Em geral está associado a uma disfunção da articulação da mandíbula conhecida como ATM (articulação temporomandibular).

Estima-se que 15% das crianças tenham o problema. Quando começa na infância, tende a sumir na adolescência, mas provoca a perda rápida dos dentes de leite, que têm estrutura mineral menos resistente do que os permanentes. Essa perda prematura pode causar problemas no desenvolvimento bucal, como a perda do espaço pela movimentação dos dentes vizinhos.

As causas do bruxismo são desconhecidas, mas se sabe que é um distúrbio que envolve fatores psicossomáticos (estresse, ansiedade) e problemas na oclusão dentária (contato dos dentes inferiores com os superiores ao fechar a boca). Substâncias estimulantes como bebidas alcoólicas, drogas ilícitas, tabaco e cafeína, de outro lado, podem intensificar o bruxismo. Outras doenças, como mal de Parkinson e apneia obstrutiva do sono, também podem desencadear o problema.

Há pessoas que começam a ranger ou apertar os dentes em uma situação específica - na época de prestar vestibular, por exemplo - e param assim que a superam. A maior parte dos portadores, porém, faz isso todas as noites sem perceber e só se dá conta de que é bruxismo quando alguém ouve e avisa, ou se o desgaste dos dentes fica perceptível. Muitas vezes os dentes até se tornam pontiagudos e começam a ferir os lábios e a bochecha.

O bruxismo pode levar a sérios problemas dentários, como retração da gengiva com a exposição da raiz e quebra ou amolecimento dos dentes. Os molares, por serem os de maior atrito na mastigação, são os primeiros a serem perdidos. Com o passar do tempo, pode causar ainda problemas crônicos degenerativos na ATM, por causa da pressão constante nos músculos da mandíbula. Nesse caso, é comum a pessoa sentir dor de cabeça de ouvido, no pescoço, na mandíbula e nos músculos da face, além de estalos quando abre e fecha a boca.

Bruxismo não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento, que leva em conta os fatores emocionais e o alinhamento dentário da arcada do paciente, alcança sucesso em muitos casos e evita os males futuros. O mais indicado é o paciente usar uma placa rígida de acrílico, moldada de acordo com sua arcada dentária. É usada, de início, de dia e à noite, e, quando os sintomas diminuem, só para dormir. Outros tratamentos são botox ou laser de baixa intensidade, que relaxam a musculatura.

Pacientes com estresse e/ou ansiedade podem precisar tomar remédios para dormir e ansiolíticos. Muitas vezes têm também de fazer psicoterapia. Quando há dor, anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes musculares ajudam a aliviá-las. 

É fundamental, enfim, estar atento e consultar um dentista capacitado caso se perceba desgastes nos dentes, sensação de cansaço na musculatura facial ao acordar e dor na cabeça ou nas proximidades dos ouvidos para detectar o bruxismo e tratar logo no início.




(texto publicado na revista Caras edição 1108 - ano 22 - nº 5 - 30 de janeiro de 2015)




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