segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Por uma enfermagem baseada em evidências - Romulo Osthues


Conheça a professora que defende a diária reavaliação desse trabalho que se traduz em amor ao próximo

As cenas da infância de Ana Cristina de Sá, enfermeira e docente do Centro Universitário São Camilo (SP), são a prova de que cuidar do outro é, em grande parte, uma vocação. "Adorava brincar de guerra com meus amigos porque eles eram 'feridos' nas batalhas e eu fazia 'bandagens' com meias três quartos em suas cabeças, braços e pernas", rememora. Agora, na maturidade, a essa dedicação ao próximo foram agregados o conhecimento e a experiência, formando uma mulher que pensa deste jeito: "Os pacientes necessitam de seres humanos palpáveis junto a eles, e não de máquinas técnicas. Se assim fosse, não precisaríamos de pessoas cuidando de pessoas". 

"Quando se cuida com amor, atinge-se o centro de cura do paciente - sua alma. Um cuidado de enfermagem é um carinho que se faz à humanidade. Uma boa enfermeira é, antes de tudo, uma boa pessoa", avalia. Temos aí metade do caminho percorrido, segundo ela, por alguém que quer se enveredar pela profissão. A outra metade é a criatividade. "Digo aos meus alunos: o bom enfermeiro é um CSI! Não existe rotina em nosso dia a dia e os desafios que se apresentam são deliciosos testes para nosso conhecimento e nossa capacidade criativa e de resolução de problemas, além de nos levar ao amadurecimento em nossa reflexão diária sobre a prática", ela salienta. Essa sapiência resulta de uma sensibilidade que se misturou às suas outras formações acadêmicas (pedagogia e psicologia) e experiências profissionais (em importantes hospitais e universidades). Trinta e três anos, dos seus 54 anos de idade, foram dedicados à enfermagem e nem tudo foi tão fácil, especialmente, nas relações interpessoais. "Fui trabalhar em um hospital público maravilhoso do ponto de vista técnico (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - HC-FMUSP), mas bem complicado quanto às relações humanas, principalmente, com os novatos cheios de vontade de fazer mudanças em um ambiente avesso a elas e carregado de vícios. A estratégia que utilizei foi não me deixar corromper e seguir meu caminho pelo mais difícil - o do coração, ou seja, procurando compreender as atitudes desumanas, praticando o contrário, a humanização, tendo muita paciência e um único objetivo que era o de prestar a melhor assistência de enfermagem possível aos pacientes", conta. Uma conversa com Ana está envolta por uma atmosfera de carinho e atenção que raramente se encontra por aí. 

Embora ela pareça um ser do outro mundo, é gente como a gente: faz Pilates, mima a família e seu cachorro, participa de bancas avaliadoras e palestras, assiste a seriados de TV, gosta de postar crônicas no Facebook, joga Angry Birds... e até fica "brava" com o trânsito de São Paulo. "A enfermeira convive com o ciclo vital humano. Ela vê pessoas nascerem e morrerem. Este é um aprendizado e tanto para nós, quanto a ser a vida curta e frágil. Aprendi, no contato com esses fatos, a viver muito bem minha vida pessoal. Esse é um fator primordial para nos tornarmos pessoas felizes e boas com nossos pacientes e equipe, ou acabamos entrando em um estado de estresse incontrolável pelo contato com o sofrimento humano".



(texto publicado na revista VivaSaúde nº 133)




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