domingo, 4 de agosto de 2013

Como a música contribui para o otimismo? - Denise Chrysostomo Suzuki (musicoterapeuta) e Leandro Padin (professor de música e músico)


O otimismo pode ser considerado a partir de diversos pontos de vista, desde a manifestação da vontade como apresenta Leibniz, até o bem estar e a autoestima, na psicologia. O otimista pode ser visto como aquele que acredita na sua vontade e no princípio de ordem da existência.

Uma audição musical, bem como, uma expressão pode ser um princípio de organização ou do estabelecimento da melhora na autoestima devido aos recursos existentes, como: o canto, a letra, a dança, a execução instrumental; acrescentando-se a esses elementos a interação social, a catarse, o aprofundamento pessoal e o desenvolvimento do indivíduo e da comunidade onde vive.

Falaremos com base na musicoterapia, uma ciência que busca levar a pessoa ou grupo a um contato efetivo com a música, de modo que este produza resultados benéficos em relação ao desenvolvimento perante a vida.

A escuta e a apreciação musical permite ao ouvinte reconhecer aspectos e interações sonoras que correspondam ao seu momento.

Tanto a música em si poderá levar o indivíduo a esta mudança por meio da identificação com o sentimento presente, como também poderá conter recursos que transformem o sentimento do ouvinte. Como, por exemplo, uma música que apresenta um início tenso e se modifica para o relaxamento ou uma resolução.

Muitas peças eruditas costumam ter esse tipo de movimento de transição de emoções. Um recurso poderia ser a modulação entre uma tonalidade menor (triste) para uma modalidade maior (alegre). O ouvinte, no momento em que está ouvindo, deixa suas emoções em segundo plano, então a influência desta tonalidade menor para maior poderá fazê-lo sentir-se melhor, tendo uma visão mais otimista do momento atual. Obviamente, devido ao caráter polissêmico da música, ou seja, a mesma música pode provocar diferentes sensações para diferentes pessoas, não podemos dizer que, para todas as pessoas, a escala menor soa triste e a maior alegre, mas é possível dizer que existem diferentes sensações em relação a uma e à outra.

Portanto, a música sendo um acontecimento espaço/temporal, ao se modificar de triste para alegre poderá conduzir o ouvinte também a uma mudança, já que as emoções dele são manifestações espaço/temporal modificáveis. Trata-se de um processo sutil e muitas vezes inconsciente que pode necessitar de um procedimento terapêutico ou acontecer naturalmente.

Não somente os elementos sonoros, mas também a letra da música trabalhará estes aspectos através de mensagem e poesias.

Em relação ao fazer música, podemos utilizar o canto como exemplo. Trata-se de uma maneira espontânea de se fazer música que, geralmente, se inicia desde os primeiros anos de vida ao escutar a voz materna acalantando. Já desde cedo este canto ajuda no desenvolvimento: existem terapias que comprovam que ao escutar a mãe cantando, o desenvolvimento cognitivo da criança que necessita estimulação e reabilitação acontece mais rapidamente.

Além disso, o canto é uma manifestação antiga que acompanha a humanidade desde os primórdios - nas comemorações, nas guerras, em rituais religiosos e nos hinos patrióticos. Inclusive, um exemplo onde fica mais claro a relação entre música e otimismo são os cantos de guerra, que serviam principalmente para aumentar a autoconfiança em relação à batalha e ao momento de perigo. Os cantos religiosos também conferem ao indivíduo o otimismo por reforçarem a fé na ordem da vida.

O canto é uma ferramenta para todos, pois para se alcançar tais objetivos não é necessário cantar afinado ou no tempo correto. Para aqueles que não se identificam com esta atividade, ao contrário do que talvez pensem, poderão se beneficiar imensamente e retirar muitos benefícios do canto, como: uma oportunidade de ganharem segurança na comunicação verbal ou; uma maneira de administrar a raiva contida; uma forma de trabalharem a respiração liberando tensões e promovendo mais consciência acerca de si e do meio; interagir com um grupo, como no coral, e melhorar a experiência afetiva em relação ao social. Inclusive, muitos terapeutas recomendam aulas de canto ou canto de coral visando o desenvolvimento da prática com resultados notáveis para o aumento da autoconfiança e consequentemente do otimismo.

Assim vemos que a música contribui de diversas maneiras: não somente no espaço terapêutico como no dia a dia, onde escutamos e cantamos desde a primeira infância.



(texto publicado na revista Leve & Leia - agosto 2013)



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