sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Elevada autoestima ou narcisismo? - Patrícia Aragão Morello e Cintia Baraúna


Onde termina um e começa o outro? Você é um candidato a este tipo de transtorno? Confira.

A expressão narcisismo tem sua origem na mitologia grega. Narciso, um jovem muito bonito, desprezou o amor da ninfa Eco e por isso foi condenado a apaixonar-se por sua própria imagem espelhada na água. Este amor impossível levou Narciso à morte, afogado em seu reflexo. O narcisismo, portanto, retrata a tendência do indivíduo de alimentar uma paixão por si mesmo. Segundo Freud, isso acontece com todos até certo ponto, a partir da qual deixa de ser saudável e se torna doentio, conforme os parâmetros psicológicos e psiquiátricos.

Segundo a psicóloga Patrícia Aragão Morello, é muito comum o "narcisista" não identificar que está doente, ele começa a ser acusado por aqueles com quem convive de ser arrogante, de não perceber o outro como bom ou até melhor que ele próprio, de ser individualista, egoísta, convencido e assim por diante. "É importante que se preste atenção no discurso das pessoas que nos rodeiam. Se várias repetem conteúdos parecidos, muito provavelmente eles sejam verídicos. O narcisista é considerado o Deus do amor próprio", destaca. Ela explica que pessoas com este transtorno prejudicam a si próprias de uma forma muito simples: se fecham em um mundo que não cabe mais ninguém porque não há pessoa tão boa e bela quanto eles para dividir o mesmo espaço e acabam paralisados totalmente, não crescendo o quanto poderiam, não ensinando o quanto seriam capazes, fazem poucas trocas interpessoais, tornando-se seres de conteúdo reduzido.

Quanto às que convivem com pessoas com este problema, Patrícia ressalta que é um relacionamento bastante complicado. Ele é o dono da razão e sente-se sempre melhor que qualquer um. Não é a pessoa para quem se deve perguntar, por exemplo, se a roupa está bacana ou não, ele se preocupa somente com sua própria imagem.

A também psicóloga Cintia Baraúna lembra que amor por si é necessário para confirmar e sustentar a autoestima, mas o exagero é sinal de fixação numa identificação vivida na infância. Ela explica que, quando crianças, acreditamos que o mundo gira em torno de nós e que nossos pais vivem em nossa função, mas com o desenvolvimento saudável da personalidade é necessário que haja uma mudança nesse comportamento e o indivíduo comece a se deparar com as frustrações. Alguns, no entanto, se iludem com o fascínio do papel e passam sua vida almejando o modelo inatingível de perfeição.

O sofrimento que pode ser gerado através das dificuldades nas relações humanas e da busca pela felicidade, onde é necessário que se tenha novas formas de agir e, muitas vezes, essas pessoas são incapazes de mudarem seu comportamento.

Cintia esclarece que o que parece uma elevada autoestima na verdade é um forte complexo de inferioridade, mas a acentuada dificuldade do indivíduo em lidar com isso faz com que este se comporte de forma exageradamente superior, o que dificulta as relações interpessoais que poderiam acrescentar muuito em seu convívio social.

De acordo com ela, o narcisismo pode ser primário, o que seria a persistência a uma fase arcaica do desenvolvimento psicossexual, ou retorno a ela, em que o objeto de amor é a própria personalidade. Quando esse estado de coisas se realiza com a identificação da pessoa a um objeto anteriormente amado, o narcisismo é chamado de secundário.

Patrícia Aragão Morello arremata dizendo que a classe da saúde mental acredita em uma melhora bastante significativa do narcisista patológico, a psicoterapia é uma forte aliada deste "perfil", é importante que ele entenda que sua satisfação pode e deve ser também a satisfação do outro. "Acredito que a psicoterapia em grupo deve ser introduzida após algum tempo da individual, é um excelente exercício do aprendizado ao olhar e escuta do próximo" recomenda.




(texto publicado na revista Tudo nº 31)





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