domingo, 18 de agosto de 2013

Menos sal para a criançada - Joana Alves


Agora é oficial: a Organização Mundial da Saúde limita a quantidade de sódio para os pequenos. Entenda por que isso pode livrá-los de encrencas futuras

É comum ouvir por aí que as crianças estão cada vez mais parecidas com os adultos. E pode ter certeza de que, quando se trata de saúde, há um fundo de verdade no comentário. Já passou a época em que a hipertensão, por exemplo, era exclusividade de gente mais velha. A partir do momento em que os alimentos industrializados e ricos em sódio se popularizaram na mesa da meninada, até a pressão alta se tornou cada vez mais precoce. Não por menos esse hábito alimentar chamou a atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), que está preocupada com os casos de pressão nas alturas na infância.

Em relatório recém-divulgado, a entidade de alerta para o distúrbio que tem enorme probabilidade de se perpetuar n vida adulta. E é aí que entra o sódio, um dos principais responsáveis pela elevação permanente da pressão arterial. O mineral, que estende o prazo de validade dos alimentos, está presente na maioria dos produtos consumidos (e adorados) pelas crianças, como bolachas recheadas, pães, comidas de fast food e, óbvio, nos célebres salgadinhos, que não receberam esse apelido à toa.

A OMS passa a recomendar uma ingestão de menos de 2 gramas de sódio por dia para meninos e meninas entre 2 e 15 anos. Para ter uma ideia, um único lanche com hambúrguer, queijo, catchup, maionese, mais um copo de refrigerante chegam muito perto dessa cota diária.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que entre 6 e 8% das crianças brasileiras já são hipertensas. A questão é que muitas delas - e, claro, seus pais - ignoram o problema. "Ele é o famoso assassino silencioso. Uma minoria dos pacientes apresenta sintomas, seja criança, seja adulto", afirma o nefrologista Dante Giorgi, do Instituto do Coração de São Paulo.

A enxurrada de guloseimas e junk food abre caminho para a hipertensão primária, aquela que não tem uma razão específica e, há algumas décadas, era rara entre a garotada. isso porque o tipo mais comum da doença ainda é a secundária, fruto de distúrbios renais, disfunções hormonais...

Quando o pediatra desconfia que o paciente tem um desses distúrbios, ele não hesita em aferir a pressão a cada consulta. Mas tende a ignorar o exame quando a criança parece esbanjar saúde - isto é, quando a hipertensão é primária.

"A partir dos 3 anos, a pressão deveria ser medida em todas as visitas ao médico, da mesma forma que a temperatura, a altura e o peso", opina o pediatra João Tomás Carvalhaes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Mas isso ainda não é comum", lamenta informar. "Nas faculdades, a medição da pressão na infância ainda não é enfatizada com a devida grandeza", nota Carvalhaes.


Na infância é diferente

Apesar de os aparelhos de medição serem os mesmos usados nos adultos, a diferença está na tira de pano que envolve o braço e que deve ser adequada ao tamanho de cada criança. Os valores que cravam o diagnóstico de hipertensão também diferem. "Enquanto todo adulto com pressão acima de 14 por 9 é considerado hipertenso, não há um valor único para a garotada. Um menino de 7 anos com pressão de 11 por 6 já pode ser hipertenso", compara o cardiologista Jorge Afiune, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Na consulta, os pequenos precisam estar relaxados para não alterar demais a aferição. Segurá-los no colo pode garantir essa tranquilidade.



(texto publicado na revista Saúde nº 363 - abril 2013)



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