sábado, 17 de agosto de 2013

Melhore seu desempenho na corrida e na caminhada usando o calçado adequado - Dr. Fabricio L. Correa


O primeiro passo antes de adquirir um tênis para corrida e/ou caminhada é saber qual o seu tipo de pé (cavo, normal ou plano) e de pisada (neutra, pronada ou supinada). O calçado, embora muitos não saibam, pode "corrigir" algumas falhas de marcha e da pisada, minimizando o risco de lesões músculo-esqueléticas. No entanto, poucas pessoas recebem orientação adequada na hora de comprar um tênis.

Algumas marcas já indicam em seu site os tênis ideais a partir destas informações. Calçados mais leves, ao contrário do que muitos pensam, agregam menos tecnologia e são indicados para quem busca velocidade, ou seja, atletas de alta performance (o que não é nosso alvo nesse artigo). Infelizmente, nem todos os tênis que temos no mercado atualmente são muito leves e corrigem a pisada.

Um tênis inadequado para aqueles que são praticantes de corrida pode causar desde bolhas e perdas das unhas, tendinites, fasceite plantar (inflamação na musculatura do pé) e dores nas articulações do tornozelo e do joelho. As funções básicas de um tênis são amortecimento, absorção, fácil transpiração e tentativa de correção do tipo de pisada.

A arquitetura do pé está especialmente desenhada para distribuir de forma equilibrada estas forças de impacto, mas nem sempre isto acontece. No momento em que surge alguma alteração no seu alinhamento produzem-se sobrecargas e alterações na distribuição de forças entre o solo e o pé podendo gerar lesões.

Os tipos de pé são:

- Pé cavo: A pisada se concentra em dois apoios, o calcâneo e o ante pé (parte anterior do pé). Portanto, tende a ter dores nessas regiões e tendinites nos tendões laterais (tendões fibulares);

- Pé plano: Toca o solo quase por completo e possui um formato plano (conhecido popularmente por "pé chato"). Tem tendência à pisada do tipo pronada e geralmente gera tendinite do lado interno dos tendões (tendão tibial posterior e, muitas vezes, pode causar a barra óssea, uma deformação que bloqueia a flexibilidade do pés).

- Pé neutro: Distribui de forma mais uniforme o impacto. É o pé "normal".

Os tipos de pisada são:

- Pronada: Quando o apoio no momento da pisada é concentrado no seu lado mais interno, fazendo com que o pé realize uma rotação interna (para dentro), excessiva. Mais relacionada ao pé plano.

- Supinada: Quando o apoio no momento da pisada é concentrado na parte mais externa do pé, e no decorrer do movimento esse apoio externo se acentua. Relacionada ao pé do tipo cavo.

- Neutra: Quando o apoio é  distribuído uniformemente, é o mais fisiológico ou "normal".

Algumas lojas já possuem aparelhos para avaliar o tipo do pé e da pisada, mas o ideal é consultar um ortopedista para uma melhor avaliação, visto que em alguns casos (geralmente em deformidades mais acentuadas) são necessárias correções por meio de palmilhas.

O exame de Podometria Computorizado e a análise da marcha (Baropodometria) são auxiliares no diagnóstico dos problemas de apoio do pé e no seguimento da aplicação de um tratamento personalizado por meio de uma palmilha, porém o exame clínico pelo ortopedista (muitas vezes auxiliado pelo podologista, que é um profissional de saúde, que possui conhecimentos biomecânicos valiosos para esse tipo de avaliação) é tão ou mais importante.

O conjunto dos resultados obtidos ao longo do exame clínico e complementares, quando necessários, são importantes na identificação e detecção dos fatores que desencadeiam lesões mecânicas do pé como: dor plantar (dor na "sola" do pé), fasceite (já citado acima), esporão calcâneo, etc.

A avaliação postural também é muito importante, pois permite diagnosticar o alinhamento dos segmentos corporais do paciente como: desvios da coluna vertebral, encurtamento dos tendões e assimetria dos membros inferiores. Através desta avaliação do paciente em diferentes planos, é possível analisar de forma quantitativa os possíveis desvios posturais através de ângulos articulares, o que auxilia na tentativa de prevenir lesões músculo-esqueléticas, prescrição de palmilhas quando necessário, e até mesmo o melhor tipo de calçado para cada um.

Durante a corrida, quando o pé toca o solo, aplica-se um força de 7 a 8 vezes o peso corporal do indivíduo. Cada vez que é realizado o apoio do calcanhar no solo, essa força é recebida pelo corpo tendo início no pé que progressivamente termina na cabeça. Quanto maior for essa força, maior é a tentativa do organismo absorvê-la essencialmente através dos nossos músculos e articulações, podendo gerar lesões articulares e da coluna vertebral. A primeira estrutura que recebe a maior parte desta força é o pé.

De forma geral, além da avaliação citada acima, é recomendável prestar atenção aos seguintes requisitos ao adquirir um tênis para a prática de corrida e/ou caminhada:

- Boa adaptação (conforto);
- Bom amortecimento, mas não em demasia pois pode provocar instabilidade;
- Calçado mais adequado ao tipo de pé;
- Uso de palmilhas nos casos mais acentuados.

Dessa forma, se consegue melhores resultados e minimização dos riscos de lesões nos praticantes de corridas e caminhada.



(texto publicado na revista Bom Viver nº 2 - agosto 2013)




Nenhum comentário:

Postar um comentário