A "geopolítica" do papa: o bem comum dos povos e da Terra. Cada cristão e cristã é chamado a viver a vocação de guardião da obra de Deus.
Nos próximos dias, Francisco fará dois movimentos muito importantes no "tabuleiro" da vida da Igreja e do cenário internacional. Mas não se trata apenas de ações de política interna eclesial ou de "geopolítica' mundial: são dois gestos concretos que encarnam o seu apelo em defesa de dois eixos inseparáveis e centrais no seu pontificado: a ecologia integral e o bem comum global.
O primeiro movimento será feito no "tabuleiro" eclesial. Em agosto passado, o Papa Francisco decidiu instituir na Igreja do mundo inteiro o "Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação". A data será celebrada todos os anos no dia 1º de setembro, começando já em 2015. O desejo de Francisco, fortemente ecumênico, foi o de se somar à iniciativa da Igreja Ortodoxa, que já celebra essa data desde 1989, "compartilhando com o amado irmão, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, as preocupações pelo futuro da criação", como afirma o pontífice na carta de instituição da festividade.
"Como cristãos, queremos oferecer a nossa contribuição para a superação da crise ecológica que a humanidade está vivendo." E o patrimônio espiritual da Igreja oferece muitas motivações que alimentam o cuidado da criação, pois, para aqueles que creem em Jesus Cristo, afirma Francisco, "a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia."
O chamado do papas a toda a Igreja é combater a crise ecológica com uma "profunda conversão espiritual: ou seja, "deixar emergir, nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus". Cada cristão e cristã é chamado a "viver a vocação de guardião da obra de Deus", e essa não é uma tarefa opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas é "parte essencial de uma existência virtuosa', diz Francisco. Como sinal desse comprometimento, o papa deseja explicitamente que a celebração seja organizada sempre "com a participação de todo o Povo de Deus: sacerdotes, religiosos, religiosas e fieis leigos."
Por isso, a partir de 2015, o dia 1º de setembro oferecerá a cada fiel e às comunidades " a preciosa oportunidade para renovar a adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos". Francisco deseja que a celebração seja "um momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir estilos de vida coerentes". Cabe agora a cada diocese, paróquia, comunidade, movimento e fiel individual colocar em prática iniciativas que marquem criativamente essa importante celebração.
Compartilhando a data com a Igreja Oriental, Francisco quer que esse dia de oração seja "uma ocasião profícua para testemunhar a nossa crescente comunhão com os irmãos ortodoxos". Mas não apenas com eles: "É meu desejo - afirma o papa - que esse dia também possa envolver, de alguma forma, outras Igrejas e Comunidades eclesiais". E aqui podemos pensar, no caso das comunidades de todo o Brasil, nas mais diversas expressões da fé cristã e de outras religiões que compartilham com todos os católicos a preocupação com o cuidado da nossa "casa comum".
Recíproca pertença - Essa preocupação ecológica também vai ganhar uma dimensão ainda maior poucos dias depois, quando Francisco fizer o seu segundo movimento, desta vez nas peças do "tabuleiro" internacional. Entre os dias 19 e 28 de setembro, o papa fará a sua 10ª viagem apostólica, dirigindo-se primeiro a Cuba e depois aos EUA.
Essa viagem já começou no fim de 2014, quando, no dia 17 de dezembro, os presidentes desses dois países, Raúl Castro e Barack Obama, anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas entre as suas nações, depois de cinco décadas de inimizade. Nos discursos que foram proferidos separadamente pelos dois presidentes, naquele mesmo dia, tanto Castro quanto Obama agradeceram publicamente a mediação de Papa Francisco na retomada dessa relação bilateral, que foi marcada pela reabertura, em julho passado, da embaixada cubana em solo americano, em Washington, depois de permanecer fechada por 54 anos. Por isso, depois de Cuba, como sinal dessa reaproximação, Francisco se dirige nos dias seguintes a três das maiores cidades dos EUA; Washington, Nova Iorque e Filadélfia.
O motivo da viagem é o 8º Encontro Mundial das Famílias, na Filadélfia, que pode deixar ainda mais claro o que Francisco pensa sobre as questões da família e do casamento, em vista do Sínodo Ordinário de outubro. Haverá ainda outros momentos muito importantes, como o discurso inédito em toda a história de um pontífice em uma sessão conjunta do Congresso dos EUA, no dia 24, o discurso do papa na sede da Organização das Nações Unidas e o encontro inter-religioso no Marco Zero, o local do ataque de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, ambos no dia 25.
Mas é o cuidado da criação que terá um papel de destaque nessa viagem. Os EUA, junto com a China, são um dos países com maior impacto negativo sobre o ambiente. Essas duas nações representam juntas 45% das emissões planetárias de CO2, um dos gases causadores das mudanças climáticas (toda a União Europeia, em comparação representa 11%). Por isso, Francisco terá a oportunidade de retomar em pleno solo estadunidense - um púlpito central no cenário mundial - alguns pontos centrais da sua encíclica ecológica, pois, "entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada" (LS 2).
Nas principais sedes politicas do principal "império" econômico contemporâneo, Francisco também poderá reiterar que a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum (LS 156). Pois o bem comum "pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral". Para marcar esse apelo, Francisco se encontrará com os sem-teto de Washington no dia 24, com as crianças e famílias imigrantes em Nova Iorque no dia 25, com a comunidade hispânica e outros imigrantes na Filadélfia, no dia 26, e com os detentos do Instituto de Correção Curram-Fromhold, também na Filadélfia, no dia 27.
Para o papa, "o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos" (LS 23), e o princípio de todo bem comum é "um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres" (LS 158). É nessa perspectiva que a viagem de Francisco, como sinal da aliança entre Cuba e EUA, vai muito além da questão geopolítica, mas aponta para "a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos" (LS 202).
Por isso, a partir de 2015, o dia 1º de setembro oferecerá a cada fiel e às comunidades " a preciosa oportunidade para renovar a adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos". Francisco deseja que a celebração seja "um momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir estilos de vida coerentes". Cabe agora a cada diocese, paróquia, comunidade, movimento e fiel individual colocar em prática iniciativas que marquem criativamente essa importante celebração.
Compartilhando a data com a Igreja Oriental, Francisco quer que esse dia de oração seja "uma ocasião profícua para testemunhar a nossa crescente comunhão com os irmãos ortodoxos". Mas não apenas com eles: "É meu desejo - afirma o papa - que esse dia também possa envolver, de alguma forma, outras Igrejas e Comunidades eclesiais". E aqui podemos pensar, no caso das comunidades de todo o Brasil, nas mais diversas expressões da fé cristã e de outras religiões que compartilham com todos os católicos a preocupação com o cuidado da nossa "casa comum".
Recíproca pertença - Essa preocupação ecológica também vai ganhar uma dimensão ainda maior poucos dias depois, quando Francisco fizer o seu segundo movimento, desta vez nas peças do "tabuleiro" internacional. Entre os dias 19 e 28 de setembro, o papa fará a sua 10ª viagem apostólica, dirigindo-se primeiro a Cuba e depois aos EUA.
Essa viagem já começou no fim de 2014, quando, no dia 17 de dezembro, os presidentes desses dois países, Raúl Castro e Barack Obama, anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas entre as suas nações, depois de cinco décadas de inimizade. Nos discursos que foram proferidos separadamente pelos dois presidentes, naquele mesmo dia, tanto Castro quanto Obama agradeceram publicamente a mediação de Papa Francisco na retomada dessa relação bilateral, que foi marcada pela reabertura, em julho passado, da embaixada cubana em solo americano, em Washington, depois de permanecer fechada por 54 anos. Por isso, depois de Cuba, como sinal dessa reaproximação, Francisco se dirige nos dias seguintes a três das maiores cidades dos EUA; Washington, Nova Iorque e Filadélfia.
O motivo da viagem é o 8º Encontro Mundial das Famílias, na Filadélfia, que pode deixar ainda mais claro o que Francisco pensa sobre as questões da família e do casamento, em vista do Sínodo Ordinário de outubro. Haverá ainda outros momentos muito importantes, como o discurso inédito em toda a história de um pontífice em uma sessão conjunta do Congresso dos EUA, no dia 24, o discurso do papa na sede da Organização das Nações Unidas e o encontro inter-religioso no Marco Zero, o local do ataque de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, ambos no dia 25.
Mas é o cuidado da criação que terá um papel de destaque nessa viagem. Os EUA, junto com a China, são um dos países com maior impacto negativo sobre o ambiente. Essas duas nações representam juntas 45% das emissões planetárias de CO2, um dos gases causadores das mudanças climáticas (toda a União Europeia, em comparação representa 11%). Por isso, Francisco terá a oportunidade de retomar em pleno solo estadunidense - um púlpito central no cenário mundial - alguns pontos centrais da sua encíclica ecológica, pois, "entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada" (LS 2).
Nas principais sedes politicas do principal "império" econômico contemporâneo, Francisco também poderá reiterar que a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum (LS 156). Pois o bem comum "pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral". Para marcar esse apelo, Francisco se encontrará com os sem-teto de Washington no dia 24, com as crianças e famílias imigrantes em Nova Iorque no dia 25, com a comunidade hispânica e outros imigrantes na Filadélfia, no dia 26, e com os detentos do Instituto de Correção Curram-Fromhold, também na Filadélfia, no dia 27.
Para o papa, "o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos" (LS 23), e o princípio de todo bem comum é "um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres" (LS 158). É nessa perspectiva que a viagem de Francisco, como sinal da aliança entre Cuba e EUA, vai muito além da questão geopolítica, mas aponta para "a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos" (LS 202).
(texto publicado na revista Família Cristã nº 957 - ano 81 - setembro de 2015)
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