sexta-feira, 8 de junho de 2012

Diário de vida - A alma da cidade, ou seja, os taxistas

Na incessante busca de autoconhecimento, tenho visto muitos filmes, lido alguns livros (vou precisar de anos para ler todos que estão em minha estante) e inúmeras revistas. Além do prazer em escrever no blog, ele está servindo como triagem principalmente em relação às revistas. Seleciono o que me interessa e depois as passo para outras pessoas porque senão teria publicações até o teto e como digo sempre, a minha casa não é elástica, não se expande :-).

Antes de  transcrever o texto escrito por Paulo Nogueira para a revista Viagem e Turismo,  gostaria de relatar a minha experiência com os tassisti italiani. Na verdade eu peguei táxi uma única vez na Itália. Eu já nem me lembro em que cidade isso aconteceu, mas estava indo do hotel para a estação ferroviária e tinha comprado um carrinho com rodinhas para ajudar a carregar a mala. O taxista colocou tudo junto no bagageiro, mas na hora de descarregar foi tão impaciente que acabou entortando o carrinho e foi bem desconfortável me locomover daquele jeito. Ainda bem que nas viagens seguintes todas as malas que comprei já vinham com rodinhas. Não fiquei com uma má impressão do povo porque não era a primeira vez que viajava para a Itália, senão teria brigado feio com ele.

No Brasil tomei táxi poucas vezes, mas me lembro da viagem que fiz até um banco que não existe mais,  onde tinha ido fazer um teste para trabalhar lá. Quando estava para descer do carro, percebi que tinha esquecido a carteira em casa. O taxista foi muito gentil, pegou o meu endereço e passou em minha casa no final da tarde para receber pela corrida.  

Peguei táxi algumas vezes no aeroporto de Cumbica ao voltar de viagem.  E nunca tive problemas.

Quando estive no Japão em 1994 pude constatar a gentileza dos taxistas. Por uma questão de etiqueta todos eles usam luvas (os motoristas de ônibus também). São eles que acomodam a bagagem, abrem e fecham a porta do veículo para o passageiro. E ninguém fura a fila para pegar um táxi na estação de trem. Eu me lembro de uma taxista muito gentil que nos levou da estação até o centro da cidade de Wakayama e quando dissemos que o meu pai tinha nascido naquela cidade, ela nos deu de presente um lenço com o mapa da cidade (souvenir típico para turistas).

A seguir  o artigo sobre a análise do comportamento dos taxistas em algumas cidades: Londres, Paris, Lisboa e Praga. Para um turista eles são geralmente o nosso primeiro contato logo que chegamos em um outro país.

É possível conhecer um lugar pelos humores de seus taxistas. Especialmente se você estiver em Londres, Paris, Lisboa e Praga.

Não entendi direito quando vi meu filho Pedro apanhar o iPhone no black cab que nos trazia de Picaddilly para casa, em Fulham, em Londres. Era uma noite fria e molhada de inverno. Não ganháramos tanto assim no Empire, o cassino em Leicester Square em que jogáramos Texas Hold'em, mas o lucro fora suficiente para voltarmos de táxi e não de metrô ou de ônibus, como de hábito.

Pedro simplesmente adora o black cab, com sua aparência de carro antigo e o espaço dos passageiros em que você pode fazer uma reunião com alguém, com os bancos em que uma pessoa pode ficar de frente para outra ou para as outras. Eu brinco dizendo que as mãos de Pedro se levantam automaticamente em sinal de chamada quando vê um black cab.

Não quis que eu deixasse gorjeta ao chegarmos, ele que é um jovem generoso. Depois me contou a razão. Com o GPS de seu celular, ele verificou que o motorista dera uma volta desnecessária. Nos enrolara, em suma.

Que os ciganos que dominam a praça de Praga façam isso, tudo bem. Mas os legendários black cab, um símbolo de Londres tão forte quanto o Big Ben, a Harrod's e os double deckers?

Sim. Até eles. O mesmo trajeto em outro dia, sem enrolações, provaria.

A conclusão é que os britânicos enfrentam uma crise de valores. Você até aceita que políticos sejam pilhados reembolsando com o dinheiro do contribuinte despesas como a construção de uma casa para patos ou a afinação de piano ou até o aluguel de fitas pornográficas, como aconteceu recentemente na Inglaterra.

Mas um black cab dar voltas desnecessárias?

O que aconteceu com a Inglaterra?

Você conhece um país pelos seus motoristas de táxi. O caráter nacional está grudado neles como um chiclete. Preste atenção neles e você conhecerá um povo. Londres sempre se orgulhou dos black cabs. Eles só conseguem a licença depois de provar, em concursos, que conhecem simplesmente todas as ruas da cidade. Você não tem de explicar nada. Eles costumam também guardar, no vidro que os separa dos passageiros, a tradicional reserva dos britânicos. Não falam nada a não ser se perguntados. Não são loucos, como os taxistas brasileiros, de palpitar sobre futebol, novelas ou mesmo política e economia.

Mas também eles, como Pedro solertemente notou em seu iPhone, já não são os que foram.

Se quiséssemos encrencar, poderíamos. Era só ligar para a associação que congrega os black cabs de Londres e relatar o ocorrido. Contar o trajeto e o preço cobrado. Receberíamos de volta o dinheiro. Um amigo nosso mais combativo fez isso, no ano passado. Pegou as libras cobradas a mais.

Não foi o meu caso. Simplesmente anotei mentalmente a crise moral britânica.

Quem morou na Inglaterra sofre com este relato de prevaricação de um black cab. Veja a dor deste depoimento de um brasileiro que experimentou uma prolongada temporada britânica. "Morei mais de oito anos na Inglaterra e me orgulhava de afirmar que os motoristas dos black cabs eram os mais eficientes e honestos do mundo. Em duas ocasiões, deixei pertences neles para logo depois encontrá-los sem problemas. Em uma dessas vezes, o motorista até foi ao meu apartamento, pois era a minha mochila que eu tinha deixado, com muita coisa importante. Para minha sorte, minha agenda estava dentro, com endereço e tudo. Eles eram infalíveis."

Poucas coisas machucam mais que verbos no passado.

Se tive uma decepção com os taxistas ingleses, os franceses jamais me surpreenderam negativamente porque sempre confirmaram minhas expectativas baixas. Os taxistas de Paris, como os parisienses, são arrogantes e preguiçosos. Um dispositivo nos carros impede que eles trabalhem mais de 11 horas por dia, mas mesmo sem nada seria difícil imaginar um motorista de táxi em Paris fazendo longas jornadas, como acontece em São Paulo.

Táxi em Paris é escasso. E é uma questão de sorte se, ao acenar para um motorista livre, ele parar o carro para você. Muitas vezes eles nem olham para a sua cara. Estão indo sempre para a folga, aparentemente. Às vezes gesticulam alguma coisa que você não consegue compreender senão pelo fato básico de que continuará a esperar um carro. Aprendi, depois de algumas idas a Paris, que a maneira mais fácil de pegar um táxi é indo a um ponto de alguma estação. Você enfrenta uma fila mas consegue um táxi.

O francês não nasceu para servir. Parece que está fazendo um favor para você. Uma vez, em um hotel, perguntei por que não conseguia conectar a internet em meu laptop. O hotel prometia internet. A recepcionista primeiro me disse que eu estava fazendo "muitas perguntas". Depois, finalmente, esclareceu que só o gerente - que nunca estava presente - poderia resolver o problema. Ela procurou o cartão dele para pegar o número de seu celular. Quando achou, em vez de ligar ela mesma, me passou o número para que eu me virasse.

Os motoristas de Paris são assim, mesmo quando nasceram em países como Portugal. Os estrangeiros assimilam os defeitos do francês rapidamente. As virtudes, nem tanto. Para sorte dos turistas, sempre existe o metrô em Paris - muito bom, embora menos conservado que o de Londres. E os ônibus.

Tão antipáticos quanto os taxistas de Paris são os de Praga. Adicionalmente, são frequentemente desonestos. A prefeitura de Praga sabe que eles são um problema para o turismo. Muitos ciganos búlgaros dirigem táxis na cidade. Dão voltas desnecessárias sem o menor pudor. Mesmo quem vai para Praga pela primeira vez logo percebe que o trajeto feito é um assalto.

Ma não há nada a fazer. Os ciganos búlgaros não falam inglês. Aliás, eles não falam. Em poucos dias de Praga desisti de cumprimentar os motoristas. A única boa notícia na praça de Praga é que as corridas são baratas mesmo com as voltas, se comparadas  às de Londres ou Paris.

Mas Praga é uma cidade tão interessante com seu teatro de sombras, tão bela em sua arquitetura clássica preservada, tão rica em seus museus em que você vê originais de artistas como Munchen, tão graciosa em seu ar que lhe valeu o apelido de Petit Paris - tão cheia de virtudes que compensa os aborrecimentos com os búlgaros dos táxis.

Sem em Praga os taxistas não falam, em Lisboa é o contrário. Os motoristas portugueses falam muito. Não é fácil compreendê-los. Quando notam que você é turista querem oferecer serviços extras de condução. Eles costumam provar que é mais fácil e barato viajar de táxi do que trem para ir a lugares turísticos nas imediações de Lisboa, como Estoril, por exemplo.

O sonho do taxista de Lisboa é ir trabalhar na praça de Paris porque o motorista trabalha menos e ganha mais. Anotei mentalmente uma queixa que o taxista que me conduziu fez dos parisienses. "Eles detestam falar outra língua." Percebi, com alguma surpresa, que aquele motorista gostaria sinceramente de poder usar o português no caso de tentar a vida em Paris.

Não passava pela cabeça dele Berlim, mas seria uma boa alternativa. Estive nessa cidade no aniversário de 20 anos da queda do muro. O motorista que me levou ao aeroporto, na volta, falava inglês o suficiente para eu conseguir me informar sobre a vida de um taxista na cidade. Ele me contou que trabalhava - em sua Mercedes - nove horas por dia, cinco ou no máximo seis dias por semana.

Contei essa história para um motorista de táxi em São Paulo que simplesmente comentou: "A gente jamais poderia viver desse jeito aqui. São Paulo não para." Ele também tinha as características básicas do lugar  em que trabalha.

Existem livros. Existem teses. Existem pesquisas. Existem muitas ferramentas para você conhecer um povo, um país, uma cultura. Uma delas não é das piores, dispensa rigores acadêmicos e precisões estatísticas. Mas é extremamente eficiente. Observe o motorista de táxi. Com calma e atenção. A alma de uma cidade, ou mesmo de um país, está contida nele.


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Para terminar o assunto sobre os taxistas, gostaria de comentar sobre a cena que inicia o 1º episódio da 3ª temporada da série Monk na qual o protagonista, juntamente com a sua assistente Sharona, o capitão Stottlemeyer e o tenente Disher, vai para Nova York atrás de uma pista a respeito do assassino de sua esposa, Trudy.

Todos descem e o taxista muito estressado diz que nunca mais pegaria Monk como passageiro porque ele, durante toda a viagem, ficou limpando o carro.

No artigo transcrito acima, foi feita uma crítica a respeito dos taxistas, mas muitas vezes é preciso muita paciência para aguentar certos passageiros, devemos reconhecer.

Quando os 4 estavam para pegar o táxi para a viagem de volta a San Francisco, o capitão Stottlemeyer teve que algemar Monk para que o motorista (sempre o mesmo) aceitasse levá-los ao aeroporto.








 










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