segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Vida de fã - João Victor Bastos realiza o sonho de assistir ao show da Barbra Streisand


Continuando com a série de depoimentos cujo tema é "Vida de fã", eis o relato do João Victor que se tornou um grande admirador da Barbra Streisand por "minha culpa" como ele sempre diz. 

Sou apaixonado pela Barbra Streisand desde os meus 10 anos! Desde que uma amiga muito especial, Neide Furukawa,  emprestou um VHS com o filme Hello, Dolly! Filme que se tornou o meu favorito e a ponte que me levou ao universo dos musicais e ao talento de Barbra.

Durante anos e anos colecionei tudo sobre a Barbra: filmes, CDs, shows, revistas, livros... Comecei a acompanhar cada notícia: quando em 1996 ela dirigiu e protagonizou O Espelho tem Duas Faces, a gravação de um CD em 1997 que lançaria um dueto inédito com a Celine Dion, seu casamento com James Brolin em 1998 e até a grande novidade... uma notícia rara que poucas vezes foi lida: Barbra faria um novo show na virada do século, entre 1999 e 2000 (mais pelo simbolismo numérico que pelo próprio cálculo de mudança de séculos, que só aconteceria na verdade em 2001). Um show fantástico, com inúmeras atrações, inclusive com direito a uma mini-Barbra, a cantora Lauren Frost de 13 anos que interpretava a artista quando jovem e cantou diversas músicas em dueto com a Barbra. O show Timeless anunciava enfim a aposentadoria de Barbra dos palcos. Desde que esqueceu uma letra durante um show memorável em pleno Centra Park em 1967, ela criou uma aversão por apresentações ao vivo. Em 2000, com quase 20 anos, tinha a certeza que o sonho de talvez um dia assistir Barbra cantando jamais iria se realizar.

Continuei a vida de fã, acompanhando tudo sobre ela. Durante esse tempo a notícia mais inusitada foi a participação de Barbra no filme Entrando Numa Fria Maior Ainda. Barbra voltaria às telas de cinema, surpreendentemente, numa comédia rasa, onde não teria participação muito expressiva e principalmente, não seria diretora, que declaradamente seria o objetivo da artista em relação ao universo cinematográfico.

Muitos boatos revelaram que na verdade Barbra só topou a "aventura" devido a grande insistência de Ben Stiller, Robert De Niro e do seu parceiro de cena e amigo de longa data, com o qual nunca havia contracenado: Dustin Hoffman.

Em 2006 finalmente uma notícia que nunca imaginaria veio à tona: Barbra faria uma nova turnê pelos Estados Unidos. A notícia foi vinculada em diversos sites, inclusive nos brasileiros que geralmente pouco falam sobre a artista. Finalmente, a essas alturas com 25 anos, já trabalhando e com uma certa quantia de dinheiro guardado, percebi que essa era a grande chance de realizar o sonho de assistir um show da Barbra!

Inúmeras pesquisas de como comprar o ingresso, de pacotes, de tirar passaporte, afinal seria minha primeira viagem internacional, e também o visto norte-americano. O dia da compra do ingresso foi chegando, todos os sites onde se comentava o assunto diziam que era necessário muita atenção pois os ingressos se esgotariam rapidamente. Dito e feito, varei a noite esperando iniciarem as vendas, e por pouco não perco a chance, mas sim, consegui comprar o ingresso, que acabaram em alguns minutos.

No dia seguinte deveria fechar o pacote de uma semana em Nova York! UAU! Ver Barbra em Nova York! Era quase um sonho duplo que estava se realizando! Junto com o pacote, era hora também de agendar o passaporte e o visto norte-americano! Demorou uma eternidade até o dia de pegá-lo, mas depois de semanas consegui tirar meu passaporte. O visto seria mais complicado. Depois dos atentados de 11 de setembro em 2001, tudo tinha ficado muito mais rigoroso. Após ler inúmeros casos de visto negado pelas comunidades do Orkut, comecei a temer essa hipótese. Mas tinha que fazer minha parte e deixei toda a documentação em ordem, certinha, inclusive com os comprovantes de compra do ingresso e o pacote que já havia reservado.

Enfim o dia do visto. Um frio de lascar. Cheguei bem cedo pra nada dar errado. Uma fila interminável. Um descaso e um desprezo que me deixavam ainda com mais frio! Eu estava uma pilha de nervos. Primeiro os requisitantes do visto passavam por uma pré-entrevista com funcionários brasileiros do consulado. Depois de horas fomos levados para a entrevista com os americanos, que diferente dos outros ficavam protegidos por uma cabine com vidros grossos e impenetráveis, e a comunicação com eles era feita através de um telefone como os de presídio. Senti-me um verdadeiro terrorista. Após passar pelo julgamento de uma funcionária que estava mais interessada em continuar a jogar paciência no computador do que me atender, recebi a seguinte resposta, com um sotaque horripilante: "VOCÊ NÃO ESTÁ APTO A ENTRAR NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA." Passou tanta coisa na minha cabeça nessa hora! É como um castelo de areia que se  desmancha! Era o sentimento de que aquele sonho não era pra mim. Não veria o show. Não deixaram!

Voltei pra casa e sem brincadeira nenhuma, fiquei de cama durante o dia todo. Minha mãe ficou arrasada e só falava pra eu ter calma e ficar bem porque ela tinha certeza que a Barbra faria novos shows. Quem sabe da carreira dela e sabia que em 2000 ela havia já anunciado sua aposentadoria de palcos, sabia que dificilmente aconteceria. No dia seguinte era como se eu tivesse levado uma surra, me arrastei para o trabalho... o dinheiro que era pra ser gasto na viagem, tempos depois serviu para trocarmos a geladeira aqui em casa e repintar todo o apartamento e foi a distração que arrumei pra afastar esse pesadelo.

Não podia, contudo,  deixar barato tudo isso.  Escrevi para o consulado americano relatando o caso, para a embaixada brasileira, para a produção do show... A única resposta que obtive foi uma foto autografada do escritório da Barbra! Até que foi simpático, mas passou longe da resposta que eu imaginava... Entrei nas mesmas comunidades do orkut que lia sobre vistos negados e relatei o ocorrido... foi aí que conheci o Rodrigo, com quem fiz amizade por ele ter vivido a mesmíssima situação em relação ao show da Barbra. Senti-me menos injustiçado!

O tempo passou e como palavra de mãe tem poder,  em 2007 a Barbra anunciou uma nova turnê. Diferente de todas as outras. Ela iria finalmente fazer shows em países que nunca havia feito! Barbra faria shows por toda a Europa, onde GRAÇAS A DEUS não é necessário visto!

Decidi então que seria questão de honra realizar esse sonho. Dentre cidades como Londres, Paris, Berlim, Barcelona, Dublin, Estocolmo, a que mais me chamou a atenção sem dúvida nenhuma foi Roma. Afinal cresci na comunidade italiana, no meio de italianos e de toda a cultura do país! Seria enfim o sonho duplo que não foi realizado um ano antes! Conhecer um outro país e assistir ao tão sonhado show!

A história se repetiu: mesma tensão na compra dos ingressos que se esgotariam rapidamente. Mas depois de comprar o tão concorrido ingresso estava mais aliviado. Agora era só ter a preocupação com o pacote para Roma! E foi assim, no dia seguinte estava fechando um pacote para uma semana incrível em Roma!

Mas aconteceu outra reviravolta  Dias depois de ter comprado o ingresso, inúmeras notícias bombaram na internet, dizendo que os italianos estavam revoltados com o preço cobrado pelo show da cantora. Horas depois das primeiras notícias, a mais nova bomba da novela: Barbra havia cancelado o show de Roma.

Entrei em completo desespero. Mais uma vez o sonho de ver a Barbra ao vivo escorria pelo ralo. O site de compra de ingressos italianos havia mandado um e-mail dizendo que todos os clientes seriam ressarcidos. Claro que queria meu dinheiro de volta, mas queria mesmo era viajar para ver o show. Para compensar o cancelamento de Roma, a produção abriu mais duas novas datas no mesmo dia: Viena e Zurique.

Como já havia feito as reservas não tinha mais como voltar atrás ou perderia mais dinheiro nessa história toda. O choque da notícia do cancelamento não impediu a minha vontade de superar mais esse obstáculo e decidi que se fosse pra ir para a Itália que assim fosse. Mas eu daria um jeito para vê-la em outra cidade.

As datas e cidades mais próximas seriam justamente a das duas abertas após o cancelamento. Por via das dúvidas, escolhi Zurique cuja data estaria mais próxima das reservas do hotel que já havia feito para Roma. Então era só esperar as vendas do show na Suíça começarem para comprar o novo ingresso!

Dias depois do anúncio, as vendas começaram. Comprei o meu ingresso. Ufa. Ufa? Claro que não! E mais um obstáculo surgiu nessa história! Tanto o ingresso de Nova York, como o de Roma, eram daquele tipo que você imprime o comprovante de pagamento e troca pelo ingresso na bilheteria. O da Suíça não oferecia isso. A única possibilidade era enviá-lo para o endereço fornecido. Detalhe: o prazo de entrega para o Brasil era tão longo que quando chegasse aqui eu já estaria passeando pela Itália!

Então logicamente o natural era fornecer qualquer endereço na Itália, de qualquer hotel nas três cidades que eu visitaria antes de embarcar para o show em Zurique: Roma, Florença ou Veneza. Mas ao questionar essas possibilidades com o site de venda dos ingressos a resposta foi a de que não seria possível determinar exatamente a data dessa entrega. O que significava que o ingresso poderia chegar em Roma depois que eu já tivesse ido embora da cidade, por exemplo. DESESPERO! Eu teria que ter endereço de alguém que morasse na SUÍÇA! Para quem estiver lendo essa história, faço a seguinte pergunta: QUANTAS PESSOAS VOCÊ CONHECE QUE MORAM NA SUÍÇA!? Eu, nenhuma.

Bom, agora era hora do VAI OU RACHA. Eu teria que achar urgentemente alguém que morasse em Zurique para poder pegar esses ingressos! Ou então seria meu TERCEIRO ingresso perdido!

Dias de agonia, noites em claro tentando achar alguém, pensando em mil possibilidades. Como nada nessa vida se faz sozinho, comecei a perguntar a todos os amigos e conhecidos se conheciam alguém. NADA. Amor de pai e mãe não tem limites e eles também começaram a fazer a mesma coisa.

E não é que certo dia meu celular toca e era meu pai: ACHEI! ACHEI ALGUÉM QUE MORA NA SUÍÇA!

No trabalho do meu pai havia uma mulher que era casada com um homem que tinha uma tia casada com um cara suíço e moravam em ZURIQUE! Meu pai implorou de joelhos pra que ela fizesse o meio de campo e desse um jeito de explicar a situação para esse parente longínquo! A mulher ficou tão comovida com esse bafafá todo que resolveu ajudar e depois de alguns dias me deu a notícia que salvou a situação toda e fez com que eu finalmente realizasse meu sonho. O Sr. Urz Boss (sim, o nome dele era esse) receberia com prazer o ingresso em sua casa e eu poderia retirá-lo um dia antes do show. Sim ele caiu do céu!

Como todo suíço mais do que prestativo e pontual, ele mesmo levou os ingressos no hotel. Foi muito gentil. E depois de conhecer Roma, Florença e Veneza, realizei o grande sonho da minha vida e consegui ver a Barbra ao vivo, cantando lindamente. As primeiras imagens dela, surgindo de um elevador subterrâneo até o palco, digno de uma verdadeira diva, eu não posso descrever com precisão, porque havia muitas lágrimas escorrendo dos meus olhos e lembro apenas de um grande borrão!

Mas a primeira música de seu artista favorito ao vivo você nunca esquece. E no meu caso foi Starting Here, Starting Now... E era bem isso, começava ali mesmo, bem naquela hora... a realização do meu sonho.




João Victor na frente da casa de espetáculos onde Barbra iria se apresentar. Reparem que ele está vestindo a camiseta com o título do filme estrelado pela cantora-atriz, "Essa pequena é uma parada" (What's up, doc?)



"Starting here starting now", a canção com a qual Barbra começou seu show



Cena do filme "Essa pequena é uma parada" na qual Barbra canta "As time goes by" para Ryan O'Neal




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