Alguns (poucos) verbos de nossa língua têm um particípio curto, irregular, ao lado do particípio normal que todo verbo tem (em -ado ou -ido). Esses verbos são os famosos abundantes: PAGAR, pagado e pago, ACENDER, acendido e aceso, IMPRIMIR, imprimido e impresso, e assim por diante. Qualquer gramática razoável tem uma lista desses verbos. Cuidado, contudo, com o poderoso efeito da analogia, que pode criar (ou tentar criar) novos verbos abundantes. Isso já aconteceu com o verbo pegar. Para a língua culta formal, só existe pegado: o povo, por analogia com pagar (pagar está par pagado e pago assim como pegar está para pegado e...) criou pego, que ainda é visto com desconfiança pelos acadêmicos (eu, particularmente, nem uso: aliás, nem sei como é a pronúncia do E da primeira sílaba - já ouvi aberto, como em prego, e fechado, como em preço).
Na esteira dessa analogia proporcional (X está para Y assim como A está para B), já me perguntaram se trazer, além de trazido, tem a forma trago (!); se cegar, além de cegado, tem a forma cego; se pregar, além de pregado, tem a forma prego; se chegar, além de chegado, tem a forma chego. A resposta é NÃO para todos eles. Ou melhor: não que eu saiba, afinal, a Linguística me ensinou que nada impede que venham a existir essas formas algum dia - quando espero estar debaixo de sete palmos de terra. O que diria um estudioso do século passado se lhe perguntassem se pegar tinha dois particípios? Claro que responderia que não, mal sabendo que o controvertido pego já vinha vindo a galope.
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