Apesar da má fama, ela pode ser essencial para definir boa parte do nosso comportamento e até mesmo influenciar a percepção visual
Em 1972, o cantor Jorge Ben Jor lançava seu disco Ben. Nele, há uma faixa que eterniza um velho ditado popular: "Quem cochicha o rabo espicha". A advertência, feita em tom de brincadeira, pode cair em desuso no que depender da ciência, que atualmente reúne esforços para descobrir por que falar dos outros é tão importante no nosso cotidiano. O fato é que a fofoca é uma habilidade inata e não há como simplesmente abolir esse costume ou, por que não, necessidade. "Ela é uma das principais formas de comunicação social e com certeza não é um fenômeno recente", aponta o sociólogo Bruno Cardoso, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na capital fluminense.
Em busca do impacto do mexerico no comportamento humano, pesquisadores da Universidade Northeastern, nos Estados Unidos, exibiram a um grupo de voluntários fotos de pessoas desconhecidas e passaram a eles informações sobre os retratados - criaram, enfim, uma espécie de buchicho científico. Em seguida, os participantes foram equipados com binóculos especiais que mostravam duas figuras ao mesmo tempo: um dos retratos e uma casa. Como o cérebro só consegue processar bem uma de duas imagens simultâneas, observou-se que os indivíduos fotografados e que tinham histórias negativas eram muito mais lembrados depois. A hipótese do estudo é que, desde a pré-história, precisamos desse reconhecimento a jato para saber quem e o que evitar e, assim, sobreviver.
Falar bem dos outros também colabora para o nosso bem-estar. Cientistas da Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, descobriram que o nível de emoções positivas do fofoqueiro sobe ao mesmo tempo que os sentimentos negativos despencam quando ele elogia alguém. Já aqueles que só fazem comentários depreciativos - e injustificados - não experimentam a mesma sensação. Ou seja, falar bem da vida alheia alivia a tensão.
A fofoca ainda sedimenta as amizades. "É um sinal de confiança mútua e contribui para a sensação de inclusão ou exclusão em um grupo - não contamos coisas a pessoas nas quais não confiamos", explica a psicóloga Catarina Tanaka, ex-professora da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná.
Fuxicar pode ser, de quebra, um artifício inconsciente. "Se criticamos algo, é para ressaltar que não concordamos com determinada ação", observa Cardoso. O bom senso e uma dose de reflexão devem imperar na hora de decidir se você vai ou não alimentar o próximo burburinho. Às vezes, pode valer a pena.
(texto publicado na revista Saúde é Vital nº 350 - maio de 2012)
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