quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ervas sp: "matinhos" que brotam do concreto ganham intervenções artísticas - Laís Semis (Planeta Sustentável)


Diferente de muitas plantas que você pode ter em casa, elas não precisam de tanto cuidado. Aliás, basta uma rachadura no concreto, entre o asfalto e a calçada, no canto ou meio do muro, entre as lajotas ou em qualquer outro buraquinho - somado a um pouco de sol e chuva - para que elas nasçam e se desenvolvam. Para a maioria das pessoas, elas são só mais um matinho, uma planta-praga, uma erva daninha. Ninguém dá muita importância para elas e a opção geralmente é arrancá-las, de preferência, pela raiz - para evitar que cresçam novamente. Se identificou?

Sem nomes conhecidos, elas vivem às margens das outras plantas. Mas, na contramão de quem quer seu extermínio, a artista visual Laura Lydia as coloca como protagonistas da iniciativa Ervas sp. Observando a relação entre cidade, pessoas e vegetação, Laura enxergou no pavimento que parecia impermeável um suspiro de vida. "Pra mim, essas plantas são como uma metáfora de vida: persistência de brotar aonde parece não ter possibilidade alguma. Eu faço uma analogia com esse direito e com o  direito ao espaço e à cidade. Quero chamar a atenção para a necessidade que a vida tem de acontecer", explica Laura no teaser de apresentação do Ervas sp

A ideia surgiu em 2010, com pequenas expedições e intervenções, mas ganhou todo o elevado e reuniu uma equipe multidisciplinar para expandir o trabalho no início deste ano, quando o Ervas sp foi contemplado pelo Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais 2015.

A partir daí, se tornaram mais frequentes as explorações pelo Elevado Costa e Silva, o polêmico Minhocão, aos domingos, quando os carros são impedidos de passar pelo local e as pessoas o ocupam. Nos passeios pela via, ela mapeou as plantas que encontrou - cerca de 1.500 plantas e 44 ervas diferentes - e fez lindas intervenções: pintou um fundo branco ao lado de cada erva que conseguiu identificar, desenhando-a em detalhes e indicando seu nome científico. Para a catalogação, Laura contou com a ajuda do fotógrafo e biólogo Vitor Barão. Ainda integram a equipe o câmera Caio Dias, o editor de vídeo Christian Caselli, a designer Ana Dias, além da Goitacá Produções e a artista visual Isadora Ferraz.

Além de dar protagonismo à vegetação, o conceito trazido por Laura também é o de ocupação. Afinal, o que existia ali antes do Elevado Costa e Silva ser construído, nos anos 70, e antes mesmo da urbanização tomar conta do espaço? As ervas daninhas apenas ocupam um espaço que é delas por direito.

Infelizmente, as identificações feitas em 2010 pela artista (e outras mais recentes) foram apagadas em ações de "limpeza" realizadas pela prefeitura no local, cobertas por tinta cinza. Mas todo esse trabalho deu origem a um catálogo impresso, com imagens do processo e seu resultado final, distribuído gratuitamente pelo Ervas sp em 12/04. Nesse dia, o grupo convidou os apaixonados por botânica, artes, fotografia e pelo Minhocão para participar da expedição coletiva para reconhecimento das espécies e de oficina de desenho ministrada por Laura Lydia, além de assistir à projeção de vídeo de apresentação de todas as ações realizadas até agora.

Desde que foi criado, o grupo não se limitou ao trabalho realizado no Minhocão. Produziu uma série de gravuras em metal de ervas daninhas encontradas pela cidade. E, em 2012, explorou novos territórios a convite da Galeria Gravura Brasileira: promoveu expedição pelos arredores da galeria, no bairro de Perdizes, também em SP, em projeto desenvolvido para o festival de artes gráficas SP Estampa.


Ervas sp (teaser)



























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