O famoso ditado acima, atribuído à "filosofia do comportamento da tartaruga", da Fábula de Esopo, continua sendo um ponto de reflexão para nós todos: a conhecida corrida entre a lebre e a tartaruga, em que a primeira, com supervelocidade, deu-se ao luxo de dormir, esperando a tartaruga que vinha em ritmo lento e constante, mas acabou dormindo demais e acordou com a comemoração da vitória pela tartaruga. O tempo presente nos convida a lembrar da moral da história: "o trabalho com persistência e com zelo leva ao êxito".
A vida no cotidiano nos desafia em como nos comportamos nos inúmeros acontecimentos que ocorrem ao longo do tempo. Alguns que ocorrem todos os dias, outros com periodicidade própria. Fatos que acometem a família ou o emprego. Decisões que só dependem de você. Pendências que estão esperando pelos outros. Pequenos percalços que podem facilmente ser contornados... Imprevistos que podem nos forçar a mudar de programação, ou mesmo de estrada. Para caminhar bem na estrada é necessário se conhecer melhor a cada dia.
Somos todos diferentes uns dos outros, cada um com suas características e estilos próprios. Alguns ágeis para começar, mas que desanimam fácil pelo caminho. Outros que demoram a pegar, mas depois aceleram e vão longe. Aqueles que mantêm sempre o mesmo ritmo e às vezes irritam os apressados. Os que gostam de observar a paisagem e pensar a cada passo. E os que vão direto ao ponto, não param para nada, sequer para reavaliar o itinerário por algum fato imprevisto. Os que pensam em tantas possibilidades para não esquecer nada que possam precisar que acabam perdendo a hora. Aqueles que saem tão apressados e ficam sem gasolina numa estrada deserta. Os que dão preferência ao que gostam ou o que é mais fácil e deixam o mais importante sem atenção. Comportamentos entre extremos da preguiça e agitação, onde devemos buscar a virtude da laboriosidade com prudência. Como dar conta de tantas solicitações diferentes que crescem no dia a dia, com critério, hierarquia, ordem e velocidade adequadas?
Recordo-me de uma paciente, senhora idosa, da época em que se casava aos 18 anos. Dizia sobre seu pai, um "português analfabeto": "Filha, você vai se casar. Só digo isto: tenha sempre na vida este lema: primeiro Deus, segundo a família e terceiro o trabalho. Quando faltar isso, sua vida não estará bem". O "português analfabeto" era um sábio. Apresentou o critério da hierarquia das decisões para se manter no caminho seguro. É preciso, agora, encontrar a velocidade ideal para percorrê-lo. Meu filho caçula, num jogo de palavras, diz: "almacalma". A serenidade do espírito é o estado a ser preservado, em que nos comportaremos na ordem com a velocidade mais adequada.
Voltemos à tartaruga. Era consciente de seus limites nas pernas curtas e casco pesado, e das dificuldades que se impunham por isso na corrida. No entanto, não invejava a lebre pelo seu corpo esguio e pernas que superavam o vento. Não se queixou do peso do casco, e via nele um ponto de segurança. Não se lamentava do tempo de demora, porque sabia onde e como queria ir e chegar. Manteve-se no caminho, um passo seguido do outro, e não dormiu fora de hora como a lebre, tão confiante de si, que desperdiçou o tempo que a levou a perder.
"Almacalma" na presença de Deus, convivendo em família e santificando-se pelo trabalho ordenado. Uma reflexão para os próximos dias. Não espere ter um tempo em que você não terá nada para fazer para poder pensar nesse assunto. Não espere acabar tudo o que tem iniciado, para depois refletir a respeito. Não considere que isso não se aplica a você porque a "minha vida é muito complicada". Não desanime, considerando que já perdeu a corrida e não vale mais a pena pensar. "Nunc coepi!" - Agora começo! -, afirmava um sacerdote muito santo. E quando sabemos para aonde queremos ir, e acreditamos que não estamos sós, nunca será tarde demais! Avante: Sem pressa e sem pausa!
(texto publicado no jornal O São Paulo - edição 3048 - ano 60 - 23 a 28 de abril de 2015)
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