Encare de vez a verdade: ninguém é perfeito. Mas, diferentemente do que
se pensa, isso é bom. Aprenda com especialistas a virar esse jogo, aumentar a
autoestima e conquistar tudo que deseja.
Errar é humano, mas ninguém gosta quando comete deslizes. Basta ver uma
cara de reprovação do chefe em uma reunião ou dar uma mancada com o parceiro e
surge aquela sensação incômoda que mistura culpa e arrependimento, dá suadouro
e às vezes provoca rubor. Por mais breve que seja, o momento de fraqueza parece
insuportável e, por instinto, a vontade é que ele não volte a acontecer. A
verdade, porém, é que vulnerabilidades podem ser construtivas. “A imperfeição,
a dor e o medo nos levam a procurar novos caminhos, nos fazem crescer”, diz a
psicanalista Anna Veronica Mautner, de São Paulo. Ou seja, o que parece
retrocesso deve ser encarado como um estímulo para seguir adiante de modo ainda
mais corajoso. “Gastamos muita energia tentando esconder que não somos
perfeitos”, afirma a americana Brené Brown, em seu novo livro A Coragem de ser Imperfeito (Sextante).
“E, quando assumimos que temos fraquezas, em vez de mascará-las, dirigimos esse
esforço para alguma tarefa em que ele será mais bem aproveitado”, completa essa
pesquisadora da Universidade de Houston, que se dedica ao tema há mais de uma
década. Sem armaduras para esconder nossos erros, deixamos claro nosso objetivo
e eliminamos joguinhos que desperdiçam energia e obstáculos do caminho. “Não dá
para controlar como ou quando seremos expostos a nossas vulnerabilidades, mas
podemos escolher lidar com isso da melhor maneira possível”, explica. A saída,
portanto, é baixar a guarda.
1) Permita-se sentir tudo
Apesar de as vulnerabilidades estarem sempre ligadas a sentimentos
negativos, elas também nos permitem vivenciar o lado bom do desconhecido. Estar
alegre, por exemplo, é desligar nossos sensores de alerta para o mundo e curtir
o momento sem temer ser julgado. “Quando estamos abertos para o outro é que o
amor acontece”, lembra a psicóloga Marcia Almeida Batista, diretora da
Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Às vezes, por medo da exposição, nos fechamos. No extremo, somos
capazes até de destruir momentos bons com pensamentos trágicos. Ambas as
atitudes limitam nossas possibilidades. “Sentir plenamente, sem temer o que vem
a seguir, atrai gente para perto de nós. E compartilhar desprotegido leva a um
vínculo maior e a mais autoconfiança”, explica Brené.
2) Não perca tempo com comparações
A grama do vizinho é sempre mais verde, como diz o ditado. Mas apenas
aos nossos olhos. É comum criarmos uma imagem falsa do outro, achando que é
mais bem-sucedido, feliz, realizado e sem defeitos. Com isso, entramos em um
ciclo de insatisfação e passamos a traçar objetivos baseados no próximo. Pior:
quando fracassamos, a comparação com o outro nos deixa ainda mais frustrados –
justamente por causa da visão distorcida que criamos. “Aceitar nossas
imperfeições é um processo de mudança profunda e envolve aspectos essenciais,
como abraçar até as fraquezas, cultivar a autenticidade e acreditar em nós
mesmos”, lembra Brené. Traçar metas sem confrontar com o outro, levando em
conta apenas as próprias capacidades, desejos e objetivos, resultará em ações
mais eficientes para alcançar o que quer.
3) Abra mão de ter 100% de
controle
No mundo ideal, teríamos sempre domínio da situação. A proteção seria
total. Contudo, na realidade, não dá para fugir. Quem muito tenta manter as rédeas
da situação desperdiça tempo e potencial com o que é secundário. Por exemplo:
imagine que você tem algo nas mãos que não quer mostrar para ninguém e, bem
nesse momento, um amigo se aproxima. Será impossível se concentrar na conversa
porque você estará pensando em como esconder o objeto. “Agora, troque o objeto
por uma vulnerabilidade sua. Todo o esforço de esconder drena a energia do que
realmente deveria receber atenção”, explica Marcia. Como a energia é limitada,
ao gastá-la tentando manter controle do que você não tem, perderá a chance de
investir mais no que realmente importa.
4) Dê menos peso ao fracasso
Vivemos em uma sociedade que valoriza líderes e vencedores. “Esse
movimento gera o que eu chamo de cultura da escassez: nunca nos consideramos suficientemente
bons”, diz Brené. Por isso, é normal relacionar os retornos que recebemos
diretamente à nossa capacidade e autoestima. Se nos dão uma boa avaliação, o
amor-próprio recebe uma injeção de ânimo. Quando o comentário é ruim ou não tão
bom, porém,vira um golpe, e a gente se sente um lixo. “Falhar em algo não faz
de você uma pessoa pior”, enfatiza a autora. Essa associação, aliás, pode ser
extremamente destrutiva. Não encare a falha como algo definitivo ou
determinante. Assim, conseguirá restabelecer sua segurança e seguir adiante.
5) Rejeite o perfeccionismo
Você gasta horas na realização de uma tarefa pequena para evitar erros e
acha que isso é esforço pela excelência? Não se engane. O perfeccionismo é um
mecanismo para mascarar vulnerabilidades. “É a tentativa de evitar crítica ou
humilhação”, defende Brené em seu livro. Libertar-se da necessidade de acertar
garante mais tranquilidade para experimentar e dar vazão às habilidades. É
comprovado que, quando nos permitimos falhar, abrimos mais espaço e adquirimos
mais autonomia para produzir com criatividade e inovação qualquer que seja o
desafio. “É quando nos surpreendemos com o desconhecido que ganhamos e
crescemos como pessoa”, reforça Anna Veronica.
(texto
publicado na revista Claudia – abril
de 2014)
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