quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pavio curto pode ser doença! - Suzana Dias


Ataques de raiva com xingamentos, violência física ou quebra de objetos sinalizam um distúrbio que exige tratamento

Você conhece alguém que vive perdendo a cabeça por pouca coisa, a ponto de agredir os outros, xingar ou até mesmo quebrar o que estiver por perto? Então saiba que ataques frequentes e repetitivos de fúria podem ser sintomas de um distúrbio psiquiátrico, o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI). Conhecido também como síndrome do pavio curto, essa doença atinge homens e mulheres. Conheça melhor o problem e procure ajuda se ele estiver afetando sua vida.

Reação imediata não escolhe lugar

Quem tem o mal do pavio curto reage sem pensar nas consequências. É aquele sujeito que leva uma fechada no trânsito, vai atrás de outro motorista, xinga e nem pensa que esse tipo de briga pode acabar em tiro. “O que ocorre é uma falta do controle do impulso, não dá tempo de pensar”, diz Liliana Serger, coordenador do ambulatório do TEI do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (PqHC) de São Paulo. Alguns portadores desse distúrbio explodem com parentes, em casa, mas se controlam bem no trabalho. Outros, nem isso conseguem. Às vezes, o pavio curto se manifesta na rua ou em um local público.

Esse mal atinge quem é rigido

Segundo Liliana, o portador de TEI não é mau-caráter. Acontece que ele é muito rígido com tudo e com todos e fica furioso, por exemplo, quando alguém pisa na bola na sua frente. “Se uma pessoa com TEI estiver esperando para atravessar a rua e, de repente, um carro avançar o sinal vermelho, ela pode xingar o motorista e partir para a briga ali mesmo. É capaz até de pegar um objeto para destruir o veículo, simplesmente porque o outro desobedeceu a lei”, exemplica a médica.

Excesso de adrenalina é nocivo

Esse tipo de comportamento acaba provocando uma série de problemas. Quem tem pavio curto sofre bastante com as consequências de seus atos. Muitas vezes as explosões trazem até prejuízos financeiros. “A pessoa pode quebrar uma TV, uma geladeira ou até um computador sem pensar”, diz Liliana. Estudos mostram que pessoas com TEI são, inclusive, mais propensas a doenças cardíacas, já que estão sempre com a adrenalina em alta. Sem contar que a família fica esgotada com os atritos e os relacionamentos podem azedar. No trabalho, nenhum chefe tolera esse tipo de descontrole. Por todas essas razões, vale a pena buscar ajud médica e se tratar logo.

Para detectar o transtorno

A raiva é um sintoma comum a vários transtornos. Portanto, só um médico pode fazer o diagnóstico do Transtorno Explosivo Intermitente. Mas você deve ficar atenta se esses sinais típicos do distúrbio fizerem parte de sua rotina:

1) As explosões forte de raiva acontecem, no mínimo, duas ou três vezes por semana.

2) As reações são sempre desproporcionais, ou seja, um motivo pequeno provoca um piti exagerado.

3) A cena ocorre sem premeditação, isto é, a pessoa não planeja fazer aquilo. Simplesmente explode.

4) Durante os ataques, há destruição de objetos e propriedades, sem preocupação com o valor.

5) Passado o acontecimento, a pessoa sente culpa, vergonha ou até mesmo arrependimento.


Até criança pode sofrer disso!

- Geralmente, na mesma família há mais de uma pessoa com o problema.

- O distúrbio pode começar a aparecer já na infância. Fique de olho se seu filho tem um comportamento explosivo com frequência e procure ajuda em caso afirmativo.

- Se os rompantes ocorrem apenas quando a pessoa está sob o efeito de álcool ou outras drogas, não se trata de TEI.


Onde procurar ajuda?

De acordo com Liliana, a família deve estimular o parente que tem um perfil de pavio curto a se tratar. “A maioria dos pacientes só procura ajuda por vontade própria quando percebe que está prestes a perder algo importante: o emprego, o parceiro ou o afeto dos filhos”, diz a médica. O caminho é marcar uma consulta com um psiquiatra. O tratamento combina remédios com sessões de terapia.

(texto publicado na revista AnaMaria de 9 de maio de 2014)





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