domingo, 13 de setembro de 2015

Como ter sorte sempre - Richard Wiseman


A prova científica de que você cria suas próprias oportunidades

Há séculos as pessoas reconhecem o poder da sorte e fazem de tudo para tentar aproveitá-la. Por exemplo, bater na madeira, que se acredita remontar a rituais pagãos que visavam a evocar a ajuda de poderosos deuses das árvores. Ainda fazemos isso hoje, embora poucos de nós venerem deuses das árvores. Então, por que passamos esta e outras superstições de geração a geração? A resposta está no poder da sorte.

Viva com encanto

Para pesquisar cientificamente por que algumas pessoas têm sorte e outras não, coloquei um anúncio em jornais de circulação nacional pedindo voluntários de ambos os tipos. Responderam ao chamado 400 homens e mulheres, com idades entre 18 e 84 anos, de diversas profissões e posições sociais.

Por um período de dez anos, entrevistei esses voluntários, pedi que escrevessem diários, respondessem a questionários para avaliação de personalidade e fizessem testes de QI, entre outros. Descobri que pessoas com sorte são assim por causa de alguns princípios básicos: aproveitam oportunidades, têm expectativas positivas; adotam uma atitude flexível que reverte o azar.

Abra sua mente

Analise as oportunidades: pessoas com sorte a têm regularmente; pessoas azaradas, não. Para determinar a causa disso, dei um jornal a um grupo de pessoas, e pedi que me dissessem quantas fotos havia dentro do jornal. Na média, as sem sorte gastaram cerca de dois minutos nesse exercício; as com sorte gastaram segundos. Por quê? Porque na segunda página do jornal - em letras grandes - havia a mensagem: "Pare de contar: há 43 fotos neste jornal." Pessoas com sorte tendiam a localizar a mensagem;  pessoas sem sorte, não. No meio do jornal, eu havia colocado uma segunda mensagem: "Diga ao pesquisador que você viu esta mensagem e ganhe 250 dólares." Mais uma vez, as pessoas sem sorte deixaram de ver o aviso. A lição: as pessoas perdem oportunidades porque estão muito ocupadas procurando algo. As com sorte vêem o que está lá, em vez de apenas o que estão procurando.

Isso é apenas parte da história. Muitos dos sortudos que participavam da pesquisa se esforçavam para acrescentar variedade a suas vidas. Antes de tomar decisões importantes, um alterava seu caminho para o trabalho. Outro descreveu um modo de conhecer pessoas. Ele percebeu que, nas festas, geralmente conversava com o mesmo tipo de pessoa. Para mudar isso, pensava numa cor e depois conversava só com convidados que estivessem usando aquela cor - mulheres de vermelho, por exemplo, ou homens de preto.

Essa técnica funciona? Bem, imagine-se vivendo no centro de um pomar de maçãs. Todos os dias você tem de colher uma cesta de maçãs. No início, o pomar todo tem maçãs. Gradativamente, torna-se mais difícil encontrar maçãs nos lugares em que você esteve antes. Se for a novas partes do pomar a cada vez, a probabilidade de encontrar maçãs aumentará. O mesmo se dá com a sorte.

Aprecie o positivo

Outro princípio importante estava na maneira pela qual pessoas com sorte e sem sorte lidam com os reveses da vida. Imagine-se representando seu país nas Olimpíadas. Você compete e ganha uma medalha de bronze. Agora imagine uma segunda Olimpíada. Dessa vez você se sai ainda melhor e ganha uma medalha de prata. Em qual das duas situações se sentiria mais feliz? A maioria de nós acha que após ganhar a medalha de prata.

Mas pesquisas sugerem que atletas que ganham medalhas de bronze sentem-se na verdade mais felizes. Isso porque medalhistas de prata acham que, se tivessem se saído um pouco melhor, talvez ganhassem a medalha de ouro. Em comparação, os medalhistas de bronze percebem que, se tivessem se saído um pouco pior, não teriam ganho nada. Os psicólogos denominam essa capacidade de imaginar o que poderia ter acontecido, em vez de o que realmente aconteceu, de "raciocínio contrafactual".

Para descobrir se pessoas com sorte usam esse tipo de raciocínio para atenuar o impacto do infortúnio, pedi que os participantes da pesquisa se imaginassem num banco. De repente, um ladrão armado entrava e dava um tiro que os atingia no braço. Pessoas sem sorte tendiam a dizer que era um azar estar no banco durante o assalto. Pessoas com sorte diziam que poderia ter sido pior: "E se eu tivesse levado um tiro na cabeça?" Esse tipo de raciocínio faz com que as pessoas se sintam bem em relação a si mesmas, mantém as expectativas altas e aumenta a probabilidade de continuar a viver uma vida com sorte.

Aprenda a ter sorte

Finalmente, criei uma série de experimentos para examinar se o pensamento e o comportamento podem acentuar a boa sorte.

Primeiro vieram as entrevistas individuais, durante as quais os participantes preencheram questionários que lhes mediam a sorte e a satisfação em seis áreas de suas vidas. Depois resumi os princípios mais importantes da sorte e descrevi técnicas destinadas a ajudar os participantes a reagir como pessoas de sorte. Por exemplo, foi-lhes ensinado como ser mais abertos às oportunidades à sua volta, como quebrar rotinas e como lidar com o azar ao imaginar as coisas sendo piores. Pedi que fizessem exercícios específicos durante um mês e depois voltassem a me ver.

Os resultados foram fantásticos: 80% deles estavam mais felizes e mais satisfeitos com a vida - e com mais sorte. Uma participante disse que, depois que mudou sua atitude - esperar a boa sorte, não se prender ao negativo -, o azar desapareceu. Um dia, ela foi às compras e gostou de um dos vestidos que viu. Mas não o comprou e, ao retornar à loja na semana seguinte, ele não estava mais lá. Em vez de ir embora decepcionada, ela olhou em volta e encontrou um vestido melhor - e mais barato. Acontecimentos como esse a tornaram uma pessoa muito mais feliz.

Sua experiência mostra como pensamentos e comportamentos afetam nossa sorte. Prova que o mais esquivo objeto dos nossos desejos - um modo eficaz de tirar proveito da sorte - está disponível a todos nós.



(texto publicado na revista Seleções  de agosto de 2004)

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