quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Fruto do deserto - Daniela Spilotros


Pequeno fruto de cor marrom-escuro e polpa carnosa, extremamente açucarada, a tâmara é ingrediente tradicional na mesa natalina, fresca ou seca. Apesar de pouco consumida por aqui - a verdade é que só damos atenção a essa especialidade nesta época do ano -, é um alimento sagrado para os árabes.  Além de apreciadíssima por sua natural doçura, também se revela muito nutritiva e energética, rica em fibras e sais minerais. Por essa razão, tornou-se parte essencial da alimentação dos povos que habitam as grandes faixas desérticas do norte da África e do Oriente Médio. A tamareira é uma árvore de vida longa, que pode alcançar 30 metros de altura. Desenvolve-se em regiões quentes e secas, sendo a principal cultura agrícola da zona do Saara, cujos frutos são consumidos por todos, independentemente do nível socioeconômico.

A terra natal da tâmara é incerta. As suspeitas recaem sobre o Egito, no norte da África, embora também possa ter surgido nos oásis do Golfo Pérsico. Mas certamente era cultivada e consumida fartamente desde a Antiguidade - os atenienses já importavam o fruto da Fenícia no século a. C., e a tâmara fazia parte dos banquetes mesopotâmicos. Além de saboreada ao natural, como fruta de mesa, entrava na produção de inúmeros doces, especialmente bolos e tortas, além de pães e molhos para acompanhar carnes, como o cordeiro, e peixes, conferindo sabor agridoce e maior consistência às receitas. Também servia-se o vinho de tâmara, obtido da fermentação do fruto. A quantidade de açúcar que contém é espantosa - corresponde a cerca de 50% do peso da tâmara fresca, e quando seca o porcentual atinge 70%.

Também para os romanos a tâmara possuía valor inestimável. Eles tinham de importar o fruto, e conta-se que as melhores vinham de Jericó, na Palestina. A especialidade também se encontra presente nas festas judaicas, sendo um dos alimentos simbólicos no Rosh Hashaná, e está relacionada à fertilidade. 

Os árabes introduziram seu cultivo na Europa e atualmente sua produção alcança a costa setentrional do Mediterrâneo, as Ilhas Canárias e até a região da Califórnia, nos Estados Unidos. Mas os principais produtores continuam sendo Egito, Irã, Iraque, Arábia Saudita, Paquistão, entre outros.

Na época do Natal, as tâmaras secas são as mais consumidas, na fabricação de bolos, tortas, pudins, pães e até brownies, e ainda em receitas muito simples, como as tâmaras semi cobertas de chocolate, que se transformam em deliciosos doces. Frescas, podem ser acrescentadas a saladas, molhos, churneys, entre outros pratos salgados. Uma receita tradicional, fácil e saborosa, apresenta a  tâmara recheada de queijos cremosos, como o de coalho, e também o cream cheese ou o cottage.



(texto publicado na revista Gula nº 122 - ano 10 - dezembro de 2002)

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