domingo, 6 de setembro de 2015

Tédio leva ao stress - Cynthia de Almeida


Espero que, quando você estiver lendo esta coluna, esteja em férias. Ou ao menos usufrua daquele clima mais vagaroso que paira nas cidades no verão e desacelere o ritmo mental. Mais relaxadas, as pessoas, principalmente as que têm um estilo de vida frenético (ou seja, quase todas), tendem a desejar prolongar a sensação de bem-estar que fazer menos promove. Quem já não sonhou poder estar em férias para sempre? Ou imaginou que, se não precisasse fazer mais nada, estaria finalmente livre de um dos maiores algozes do homem contemporâneo, o stress? Em geral associado ao excesso de trabalho e à pressão da falta de tempo para realizá-lo, o stress é descrito como "o conjunto das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por vários agentes externos agressores". Entre eles estão as condições de uma vida muito ativa. Pois novos estudos vêm questionar tal pensamento e associar a síndrome exatamente a... fazer pouco" Ou, então, a cumprir apenas tarefas monótonas e repetitivas, incapazes de despertar interesse. Em uma definição bem clara: a ficar entediado.

Uma pesquisa da Universidade de Waterloo, no Canadá, demonstrou que o tédio pode ser um indutor de stress. Submetidas a situações de monotonia (por meio da exibição de vídeos desinteressantes, como de gente colocando roupas na máquina de lavar), os participantes do experimento tiveram seus batimentos cardíacos acelerados, a condutividade da pele reduzida e os níveis do hormônio cortisol elevados - sinais característicos do stress. Pessoas nessas condições, concluíram os cientistas, perdem a capacidade de manter a atenção à sua volta. E a falta de conexão com o mundo externo leva, como em um círculo vicioso, à perpetuação do estado de stress.

O que se produziu em laboratório é uma situação comum na vida cotidiana. Se não temos o que fazer, andamos metaforicamente em círculos sem achar nada que atraia nosso interesse. Não descansamos nem relaxamos. Entramos em uma espiral de angústia e ansiedade. Mais: diferentemente das situações de exaustão por excesso de trabalho, não sabemos muito bem como definir ou justificar essa sensação.

Estudiosos alertam para a má compreensão do tédio. Não é o contrário de uma vida ativa. Uma tarefa extenuante mas repetitiva e nada desafiadora pode ser tão prejudicial á saúde psíquica quanto atividades sempre associadas ao stress, como a dos controladores de voo, cirurgiões e (por que não?) das mães que trabalhavam e cuidam de filhos pequenos. Ter "todo o tempo" para si. As pessoas mais ocupadas do mundo nem sempre são estressadas. Depende, diz a pesquisa, do poder de aquilo que estiverem fazendo captar, de fato, sua atenção, seja pela via do prazer, seja pela dificuldade. A euforia de encarar um desafio é o que se chama de stress positivo - a mesma liberação de hormônios afia o funcionamento cognitivo do cérebro e ajuda a ser melhor naquela atividade. Alguns cientistas criticam o excesso de negatividade associado ao termo stress. É a forma como lidamos com seus efeitos que define se ele é nosso amigo ou inimigo.

Assim como o corre-corre do trabalho nem sempre é negativo, a monotonia pode ser positiva. Par citar um "tédio bom", pense na "monotonia" desejável quando estamos tão cansadas que tudo o que queremos é não fazer nada ou fazer muito pouco, como lagartear ao sol e olhar as nuvens . Um e outro, porém, têm limites - e, como bons vinhos e pratos, devem ser degustados com parcimônia. É para isso que servem as férias.




(texto publicado na revista Claudia nº 1 - ano 54 - janeiro de 2015)

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