terça-feira, 1 de setembro de 2015

Uma erupção de energia


"Os vulcões podem sepultar cidades, mas têm também suas aplicações práticas', sustenta a geofísica Marta Mantovani, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. Ela se refere ao possível aproveitamento da energia que vem da terra, chamada geotérmica, para a produção de energia elétrica a baixo custo, e outras aplicações, como o aquecimento de habitações - o que a torna atraente fonte alternativa para países carentes tanto de recursos como de energia. Nas regiões vulcânicas, parte do calor contido no magma se dissipa nas erupções. Mas a porção maior permanece aquecendo as rochas e seus fluídos. Estes estão presentes nas áreas por onde o magma sobe em direção à superfície. Os fluídos aquecidos só conseguirão subir se não forem barrados por uma cobertura de rochas impermeáveis.

Se isso acontece, apenas uma mínima parte daqueles fluídos rompe o obstáculo; o resto vai formar os campos geotérmicos, que uma vez perfurados fornecerão energia. Nesses campos, as temperaturas alcançam de 200 a 300 graus, mesmo a profundidades inferiores a mil metros. Quando a broca penetra na formação porosa onde estão os fluídos, eles alcançam a superfície rapidamente devido à pressão. Canalizados, movimentam as turbinas de uma usina geradora de eletricidade. Os pioneiros na exploração dessa modalidade foram os italianos: desde o início do século uma central movida a energia geotérmica existe em Larderello, na Toscana. Sua capacidade instalada é da ordem de 400 Mw, ou dois terços da malfadada usina nuclear de Angra I, em Angra dos Reis. Uma central semelhante serve para aquecer as habitações da gélida Reykjavík, capital da Islândia. Outras usinas funcionam no México e em El Salvador, periodicamente assolados por desastres vulcânicos. Assim, as manifestações da natureza que castigam populações inteiras podem também beneficiá-las.



(texto publicado na revista Super Interessante nº 2 - ano 3 - fevereiro de 1989)

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