Como amar o próprio corpo se ele parece trazer só infelicidade? A australiana Taryn Brumfitt encontrou a resposta e hoje ajuda quem sofre com a autoimagem
A cirurgia estava marcada. A australiana Taryn Brumfitt, 36 anos, recortaria o abdome - expandido demais em três gestações -, colocaria silicone e ergueria os peitos, em queda depois da amamentação. Era assim, feia, que ela se via. Já vinha mantendo uma rotina insana na academia e uma dieta cruel - disposta, inclusive, a participar de competições de corpos perfeitos. Queria se livrar do asco ao se ver no espelho cravada de estrias e celulite e acabar com a desconfiança de que o marido não a desejava. Taryn acordou do pesadelo quando se perguntou: "Como vou ensinar minha filha a amar o próprio corpo se não consigo fazer isso?" Mikaela, 4 anos, é a irmã caçula dos garotos Oliver, 8, e Cruz, 6. "Havia deixado de aproveitar o tempo com os meus filhos, gastando-o com as práticas de emagrecimento."
Taryn mergulhou em uma busca profunda para descobrir o porquê de se envergonhar até de sair de casa. "Entendi que o meu corpo não é um ornamento, mas um veículo para os meus sonhos", diz. "Comecei dando um basta à autodepreciação, sendo gentil comigo e entendendo que a vida é curta para me preocupar com uma barriga flácida." Ajudou no processo a conversa com mulheres em situação parecida. Em 2012, ela criou o projeto Body Image Movement (Movimento da Imagem Corporal) para encorajar as pessoas a amar o corpo de dentro para fora, sem perseguir o padrão ditado pela indústria da moda e dos cosméticos. "Minha tese é a de que devemos celebrar a adversidade corporal e reescrever os ideais de beleza", afirma. "Nas reuniões, ouvi mulheres relatarem que seus filhos pequenos se achavam gordos, faziam dietas ou usavam esteroides." Para incentivar as mães, Taryn lançava uma provocação: "No que você vai pensar quando der o último suspiro?" Ninguém citava culotes ou papadas. "Então, sugeria: 'Aproveitem enquanto estão vivas para focar no que importa e refletir sobre seus valores'." O discurso não exclui a saúde. Pelo contrário, Taryn ensina receitas de sucos verdes e orienta a alimentar melhor a família.
Ex-fotógrafa, a ativista prepara para 2015 o documentário Embrace (Abrace), para defender a necessidade de as pessoas mudarem a visão que têm de si. O trailer (em: embrace.bodyimagemovement.com) já foi acessado por 7 milhões de internautas. "Arrecadei 200 mil dólares para o filme", diz. Nele, Taryn atacará parte da mídia que, além de "coisificar" o feminino, usa truques para atingir as mulheres em suas inseguranças. "É uma lavagem cerebral para acreditarmos que rugas são algo ruim. Não são. Apenas fazem parte do viver."
(texto publicado na revista Claudia nº 8 - ano 53 - agosto de 2014)
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