terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cães que salvam vidas - Jéssie Panegassi


Muito mais do que um simples animal de estimação, esses bichos podem fazer verdadeiros milagres nos casos de emergência

A interação do homem com a mascote vai além das fronteiras de uma brincadeira. Um cão pode realmente salvar a vida de seu dono. Eles podem ajudar no processo de aprendizado, guiam o amigo cego pelas ruas das cidades, localizam pessoas perdidas e podem até resgatar uma vítima em um desabamento ou afogamento. Trabalham feito homens e mulheres. Às vezes em tempo integral.

Em diversas ocasiões a raça do animal vem em segundo plano. O que realmente importa é o treinamento que eles recebem, e o seu temperamento. O trabalho é iniciado, normalmente, com os bichinhos ainda filhotes. E o melhor é que não apenas os profissionais podem fazer esse trabalho. Várias ONGs aceitam voluntários (animais ou pessoas) que, depois de analisados e aprovados podem realizar as atividades. Confira as experiências de pessoas que têm colegas de trabalho com quatro patas.

Seu trabalho é resgatar

Se souber de alguém que se perdeu em meio à mata, acabou se afogando, ficou preso em um desabamento, avalanche, deslizamento ou outros desastres, não se assuste se ele tiver sido salvo, primeiramente, por um cachorro. Treinados desde filhotes, com dois ou três meses, eles são capazes de realizar esse trabalho e são mais do que recomendados em situações de risco.

"Os cães são indicados, principalmente, por dois motivos. O primeiro é por ter uma velocidade maior do que os humanos para encontrar desaparecidos. O segundo é que há um menor perigo - por serem menores e mais leves que os humanos - ao adentrarem em cenas problemáticas, como uma estrutura colapsada, por exemplo", explica Andrey Cardoso, consultor cinotécnico, bombeiro voluntário e presidente da Associação Voluntária de Busca e Resgate com Cães (AVBREC-SC). "Um cão adestrado para busca é capaz de rastrear um hectare em trinta minutos. Com humanos levaríamos horas", complementa Reginaldo Aranda, diretor da ONG k9 de Creixell Brasil.

O treinamento se inicia com o trabalho de socialização. "Essas brincadeiras acontecerão em todos os ambientes que ele possa enfrentar durante suas buscas no futuro", conta Aranda. Mas, para que se graduem, devem superar várias provas e atender a várias exigências. Por isso, eles são avaliados desde cedo. Um exemplo disso é que, para serem aprovados, "é importante que sejam bons em jogos de caça, obediência e que tenham a capacidade de ultrapassar e pular obstáculos", esclarece Cardoso. Depois, eles se especializarão em algum tipo de atividade. "Existem várias raças capazes de fazer esse trabalho e não dá para dizer que existe um cão específico para fazer busca e resgate. Contudo, normalmente os cães de trabalho têm melhor desempenho, mas nada impede que outro tipo participe dessas atividades", afirma o consultor cinotécnico. Esses cães são sempre acompanhados do treinador e se aposentam após oito anos de trabalho.

O "menino" dos olhos

Confiança. Essa foi a palavra que o professor de informática do Lar das Meninas Cegas em Santos (SP), Silvio Souza, usou para descrever Jerri, seu labrador e cão guia. "Eu já gostava de cães quando enxergava. Agora, além desse sentimento, há ainda a ajuda no deslocamento, no desvio de obstáculos e na aproximação das outras pessoas", relata Souza. "Às vezes, por causa dele elas vêm conversar e, com isso, eu posso pedir ajuda para atravessar a rua ou para encontrar o número do local em que preciso chegar", completa.

Para conquistar o cão, o professor foi até Brasilia onde uma associação o chamou para conhecer os animais treinados. Lá teve contato com três cães já prontos para esse serviço. E, apesar de ter se apaixonado pelo Jerri logo de início, quem escolheria o futuro companheiro não seria ele, e sim o bichinho. "Tive sorte, porque quem eu amei me amou também", observa Souza. Depois de duas semanas de integração ele aprendeu as vozes de comando, adquiriu a confiança que necessitava, abandonou a bengala e voltou com ele para casa.

Hoje os cães-guia podem entrar na maioria dos lugares, inclusive nos centros de saúde. Mas, Souza reitera que é muito importante que as pessoas não brinquem, toquem, ou falem com o animal quando ele está a serviço, ou seja, com o equipamento onde o dono segura. "Ele entende que está trabalhando quando usa o equipamento. Então, se alguém quer agradá-lo, eu devo retirar a equipagem e ele estará liberado para brincar. É importante, portanto, que as pessoas peçam ao dono antes de tocá-lo porque ele não pode se distrair. E isso ainda acontece bastante", esclarece o professor.

Ele auxilia na aprendizagem

Quando uma criança é hiperativa, disléxica ou tem algum tipo de dificuldade de aprendizado, uma forma de tratamento pode ser a terapia com animais. Através desse contato, se ela gostar do bichinho, pode se soltar ainda mais do que faria apenas com um tipo de terapia convencional. "O mais importante é que o bicho tem uma paciência que o humano não tem, mesmo quando está sendo pago para isso", defende Roberta Araújo, coordenadora geral do Projeto Pelo Próximo (RJ).

Um exemplo, segundo ela, é que quando uma criança não consegue ler direito e acaba "travando" em alguma palavra, o animal não vai tentar corrigi-la ou ajudá-la de alguma forma. Ele apenas vai continuar no lugar em que foi treinado para estar. E, com isso, a criança pode se sentir mais a vontade e conquistar esse objetivo. Para esse tipo de atividade, a raça do animal não é importante e sim a sua interação com os humanos no geral. Até cães vira-latas podem atuar e o projeto também conta com duas calopsitas. Os requisitos básicos são "ter a saúde em dia, ser castrado e não ser agressivo de forma alguma", explica a profissional.



(texto publicado na revista VivaSaúde nº 110)






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