quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Treine o cão grande dentro do apê - Camila Rodrigues


Saiba como educar o seu gigante companheiro peludo para se comportar adequadamente, além de adaptar a casa para ele viver bem no pequeno espaço

Criar um pet dentro de um apartamento não é tarefa fácil. Ainda mais quando aquele lindo filhote escolhido para fazer parte da sua família cresce e se transforma em um peludo gigantesco! Foi isso que aconteceu com a escritora Ana Maria Cuder, de São Paulo (SP). Depois de atender aos incessantes pedidos do filho Eric, ela viu o serelepe Apollo, um Golden Retriever, de 3 anos, dobrar de tamanho do dia para a noite. "Eu não entendia nada de cães, e meu filho disse que a raça era pequena e especial para apartamento. Eu acreditei, mas Apollo com 2 meses já estava enorme". ri.

Assim como Ana, muitos tutores desconhecem características marcantes correspondentes a cada raça. Além da falta de informação, existe o mito de que cachorro grande é sinônimo de bagunça e destruição.

Sociabilização já

Para Carolina Rocha, especialista em comportamento animal (SP), "mais importante que a raça e o porte é o temperamento do pet, como vão lidar com ele e como será socializado". Já para Ana Rita Carvalho Pereira, especialista do Hospital Veterinário Santa Inês (SP), antes de criar um animal de estimação, os donos devem levar em conta aspectos comportamentais e estruturais de cada pet. "Temos de pensar na personalidade que estamos procurando e no tipo de ambiente que vamos proporcionar para o peludo." Ainda é necessário adequar a residência às necessidades naturais do bicho para que ele possa conviver em um local estimulante.

O ideal para um cachorro grande é, sim, habitar uma área espaçosa. Porém, antes que você cogite expulsar o pet de casa, saiba que é possível um animal viver saudável dentro de residências menores, desde que tomados os cuidados para o bem-estar do peludo - e a sua sanidade, claro!

Sinal de alerta

Independentemente do porte do mascote, como citado, a criação no apartamento deve ser baseada em um conjunto de estímulos mentais e físicos, oferecidos desde as primeiras semanas do animal. Do contrário, o filhote pode se transformar em um cachorrão estressado e cheio de problemas comportamentais, como a Síndrome da Ansiedade da Separação - quando o peludo age de maneira inadequada na ausência do dono.

Caso não sejam oferecidos esses encorajamentos, os tutores podem identificar a presença de distúrbios comportamentais por meio de três atitudes recorrentes: "Vocalização excessiva, destruição do mobiliário da casa e eliminação inadequada, como xixi e cocô fora do local determinado", pontua Carolina. Ainda de acordo com a comportamentalista, tais sinais são mais corriqueiros em raças menores, pois estes cães costumam receber mais mimos e têm apego excessivo ao dono. Porém, os cachorros de grande porte também podem apresentar esses comportamentos, pois além de também não terem certa independência em relação ao dono, precisam de mais espaço para gastar energia.

Comida para um batalhão

Todos os cachorros, seja qual for o tamanho ou a raça, devem ter uma alimentação balanceada que sane as suas necessidades nutricionais. Todavia, donos de pets grandes precisam ficar ainda mais atentos ao peso de seus companheiros peludos. "Eles devem se alimentar ao menos duas vezes ao dia, com uma quantidade adequada de ração", ensina Ana Rita. A veterinária ainda alerta sobre um problema que afeta de 24 a 44% dos cães domésticos, principalmente os de grande porte. "Se o pet tiver iniciado um quadro de sobrepeso por falta de exercícios, a quantidade de ração deve ser reduzida ou substituída por uma light. Já existem rações específicas para animais de apartamento, chamadas indoor, que possuem menos calorias", complementa.

Limpeza impecável

A higienização dentro da residência também deve ser bastante rígida. "Durante a limpeza, não utilize produtos à base de amônia, pois o cão pode sentir o cheiro e fazer xixi no local em que foi aplicada a solução", adverte Carolina.

Isso acontece porque o peludo pode associar o odor à urina de algum outro animal. Para que esse "mal-entendido" não ocorra na casa, as melhores opções de desinfetante são os bactericidas e os enzimáticos, que conseguem quebrar as moléculas da urina.

A higiene do pet também é essencial para manter um ambiente saudável. "A frequência de banhos deve ser regular e a limpeza das patas e barriga, uma constante, pois ele terá livre acesso a sofás e camas", comenta Giulianna Portes, adestradora da Cão Cidadão (SP).

De olho na saúde

Com uma anatomia superior a 51 cm de altura, os cachorros grandalhões exigem cuidados específicos com as articulações e músculos, pois estão mais propensos a desenvolver problemas ortopédicos. A patologia que mais atinge esses pets é a displasia coxofemoral, doença hereditária que causa má formação nas articulações, dificultando a locomoção do animal. Essa complicação é muito comum nos cachorros das raças Boxer, Pastor Alemão, Labrador ou em cães nascidos de cruzamentos indiscriminados.

De acordo com Ana Rita, a disposição dos móveis pode contribuir para o desenvolvimento desse quadro clínico. Para evitar que o pet sofra, os tutores devem liberar espaço na residência e adequar os móveis para que ele possa se locomover livremente. O piso é também um fator importante dentro do apartamento. "A superfície errada pode dificultar a mobilidade do cão. Por isso, dê preferência aos assoalhos com uma maior aderência para o peludo não escorregar enquanto caminha", salienta.

Na hora de escolher os materiais para revestir o seu apê, procure opções de carpetes de madeira ou de cortiça.

Exercícios essenciais

Por falta de tempo e rotina corrida, algumas pessoas acabam proporcionando passeios rápidos e pouco atrativos para seus animais. "O ideal para os cães dessa estatura são os passeios com duração entre 40 minutos e uma hora, de três a quatro vezes por semana. Durante esse tempo, o mascote vai fazer suas necessidades fisiológicas e se exercitar o suficiente para auxiliar na diminuição da ansiedade", explica a especialista Carolina.

Ana Rita acrescenta que não adianta levar o peludo para passear no ritmo do condutor, erro comum cometido pela maioria dos tutores. "A caminhada deve começar com velocidade acelerada para o cachorro gastar a energia acumulada, e aos poucos o dono pode deixar o companheiro peludo mais solto para que ele possa interagir com outros animais, sem falar que, assim, ele irá descobrir novas sensações na rua, o que é importantíssimo", complementa.

Para deixar seu mascote mais tranquilo e cansado (tarefa bem difícil, ela conta) para não ter problemas em casa, Ana Maria colocou o peludo em um daycare, para ele não ficar sozinho em casa cheio de energia. "O Apollo vai à escolinha todos os dias, no período da tarde. Lá ele brinca bastante, sociabiliza com outros animais, além de passear pelo menos três vezes por dia, o que deixa ele superfeliz", explica.



(texto publicado na revista Meu Pet nº 23)


















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