Andar de bike transforma visões de mundo, o que é o começo de uma grande mudança na realidade propriamente dita
É muito divertido. A sensação de liberdade e o contato direto com o ambiente. A surpresa de poder cobrir distâncias longas simplesmente pedalando sem pressa. Respirar intensamente traz alegria borbulhante e duradoura, sensação de força, de saúde.
Mesmo uma bici bem equipada é muito mais fácil de comprar do que um carro. Sua manutenção é infinitamente menos dispendiosa. No imaginário, grandes aventuras possíveis e impossíveis - Patagônia, Cordilheira dos Andes, Florianópolis, Montevidéu, o contorno da Laguna dos Patos, o contorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros...
Também outros sonhos possíveis e impossíveis - ciclovias efetivas nas cidades, bons acostamentos nas estradas. Rede de paradas para ciclistas nas estradas para apoiar suas incursões pelos mundos circundantes - vi na rodovia de entrada em Florianópolis um hotel internacional que oferece muitas facilidades para ciclistas, como horários flexíveis, alimentação a qualquer hora, tarifas reduzidas.
Sonhos mais fáceis como bicicletários seguros nas cidades e mesmo acolhimento nos estacionamentos pagos destinados aos automóveis. Os cientistas falam de endorfina, calorias, músculos, hidratação, coração, pulmões. Os engenheiros de tráfego falam em mobilidade, integração de modais, investimentos, malha viária, colapso do modelo de transporte baseado em automóveis.
Os ciclistas pedem atenção dos demais, respeito por suas vidas, faixas exclusivas ou compartilhadas.
Quem pedala pensando que já tem bastante força e capacidade sempre encontra alguém passando veloz, sem olhar para trás. Quem se acha paralítico e fraco se surpreende com o próprio progresso constante e vê que já foi muito mais fraco e incapaz. Quem medita logo vê que manter um estado equilibrado da mente, sem expectativas nem medos, apenas pedalando, o faz ir muito mais longe sem cansar; circulando as energias sutis, pode-se andar quase que infinitamente.
Desde os gloriosos anos 60, que viram a eclosão da contracultura, as pessoas progressivamente se deram conta de que as fontes alternativas de energia, as tecnologias alternativas, as formas alternativas de vida são modos lúdicos e inteligentes de andar no mundo, mas não seriam meios de prolongar ou equilibrar a falta de lucidez da cultura globalizada.
As bicicletas não vêm para salvar o mundo, mas talvez já sejam o sinal dos novos mundos que vão surgindo, felizes, lúdicos, lúcidos. Enfim, vamos andando e pedalando...
(texto publicado na revista Vida Simples nº 150 - setembro de 2014)
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