Vivemos tão pressionadas pelo tempo e pelo stress permanente da sua dupla contagem, analógica e digital - característica que nos permite sobrepor e executar tarefas simultaneamente, como se estivessem em universos paralelos - , e nos esquecemos (ufa!) de pensar nele, o tempo, a nosso favor. Já conhecemos bem os efeitos da sua aceleração: estamos perdendo a percepção da sua passagem. Em palavras bem simples, não sentimos mais as horas ou minutos ou, vá lá, os segundos que existem entre uma coisa qualquer começar e terminar. Mas o ponto aqui, embora um pouco consequência de toda essa inconsequência, é outro, até mais feliz. Temos mais tempo do que nunca em nossa existência. E ele está bem diante de nosso nariz: viveremos 30 anos mais do que as gerações de nossos avós. E isso pode ser muito bom.
Uma mulher com 50 anos hoje tem 40% de chance de chegar até os 100. A média da expectativa de vida feminina no Brasil é agora de 78,6 anos. Isso faz toda a diferença, especialmente quando pensamos sobre o que faremos com a metade (ou mais) da nossa vida. A jornalista americana Suzanne Braun Levine, autora de diversos livros sobre o tema da "segunda idade adulta" e estudiosa desse bônus geracional, faz algumas reflexões interessantes a respeito da nova perspectiva. A primeira coisa que devemos ter em mente, diz Suzanne, é que se trata de uma situação sem precedentes. Não há, portanto, uma referência que possamos buscar em nossos pais e avós, uma receita de como fazer para aproveitar mais o tanto extra que ganhamos. Estamos construindo esse novo tempo à medida que o vivemos. abe a nós fazê-lo da melhor forma possível.
A premissa para se beneficiar do tempo é não temê-lo. E não tentar pará-lo, pois isso, além de angustiante, é totalmente impossível. Em seu livro A Reinvenção dos Cinquenta - Lições de Vida para Mulheres na Segunda Adolescência (Rocco), a autora rejeita a afirmativa-clichê que prega: os 30 são os novos 20; os 40, os novos 30; os 50, os novos 40; e assim por diante. Garante, ao contrário, que os 50 são os novos 50, e diz isso já no título (o original, em inglês): Fifty is The New Fifty - Ten Life Lessons for Women in Second Adulthood. O subtítulo original também é melhor porque se refere a lições para uma segunda vida adulta, e não para a "segunda adolescência". Essa mania de cortar uma década para redefinir as idades atuais pode trazer algum alento, principalmente para nós, mulheres, no processo de envelhecimento, mas nos distrai da verdadeira aquisição: viver intensamente idades que antes não existiam.
Muito mais sábio que tentar driblar a cronologia é se apoderar da sua. Aos 30 anos, hoje você tem tempo de mudar de ideia quanto à escolha da profissão e começar uma nova faculdade. E pode fazer isso também aos 40, quando ainda é concebível ser mãe pela primeira vez ou mudar de carreira. Nos novos 50, é possível abraçar projetos e haverá cerca de 30 anos pela frente para se dedicar a eles. Aos 60, pode-se ter mais do que sossego. Quem de nós quiser está liberado para empreender, inventar um negócio ou apenas respirar a liberdade da recém-independência e cuidar mais de si. E tudo começa com a forma que escolhermos pensar sobre nosso tempo a mais. Devemos compreender que, á medida que ele passa, podemos nos tornar, como diz Suzanne, uma versão melhor de nós mesmas.
(texto publicado na revista Claudia nº 8 - ano 53 - agosto de 2014)
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