quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Comfort food para o corpo e para a alma - Rita Atrib


A tradução desta expressão seria "comida que conforta" e se aplica a alimentos que trazem um componente emocional e que sejam reconfortantes, no sentido mais pleno da palavra. Cada um tem a sua.

Para mim, "comfort food" poderia ser definido como aquelas comidinhas que confortam no sentido amplo da palavra e em várias situações - na hora da depressão, da saudade, da dor, da tristeza; em uma tarde fria de domingo, para matar a saudade de casa... São comidas que nos dão prazer e confortam a alma, sem trazer nenhuma culpa, pois naquele momento aquelas colheradas ou garfadas são tudo de que precisamos (ou que podemos receber). É aquilo que, quando se come, parece que nem tudo está perdido.

Acho que, melhor do que apenas associar este tema a momentos difíceis, seria associá-lo a comidinhas que trazem junto com o conforto uma nostalgia boa. Preparar coisas simples, que lembrem dias de festa - um bom assado, uma torta, enfim, lembranças boas trazidas pelo olfato e pelo paladar. Ou então preparar um belo café da manhã de domingo e desfrutá-lo com calma e prazer, a meu ver, também é muito reconfortante. Há quem diga ainda que são aquelas comidinhas em que às vezes esquecemos um pouco da educação e comemos em prato fundo ou na caneca, de colheradas.

No geral, são comidinhas que trazem lembranças de algum lugar ou de alguém, ou de uma época, como a infância, sensação que é difícil sentir em um restaurante, pois sempre achamos que não está à altura de nossas mães ou avós, ou então daquela tia querida.

Essas comidinhas estão totalmente atreladas a hábitos e costumes alimentares experimentados desde a mais tenta infância e, sendo assim, obviamente o que é comfort food para nós com certeza não é no Japão. E tampouco o que é para mim talvez não seja para você. Mesmo assim, dá para dizer que existem algumas que poderiam ser universais, pelo menos no Ocidente, como purê de batatas, caldo de galinha, ovos mexidos, uma massinha puxada no alho e óleo. Aqui no Brasil, eu ainda incluiria um pudim de leite, uma gemadinha, um copo de leite com café com um pedaço de bolo morninho, um feijãozinho caseiro.

Além daquelas de consenso geral, como as citadas acima, podemos também entender como comfort food aquelas que nos jogam no meio do túnel do tempo, e isso é muito particular. Por exemplo, para mim, o quibe cru feito pela minha avó, que eu comia quando pequena, feitinho na hora e enroladinho no pão sírio, e que minha mãe faz até hoje, se enquadra muito bem como comfort food.

De qualquer forma, mesmo com essas variadas lembranças, acho que nada ganha da canja de galinha - existe algo mais restaurador e confortante? As receitas de canja variam um pouco, mas vou passar uma que a minha mãe faz e é a top das minhas comidinhas de alma.

A receita ao lado é bem simples e, talvez para se tornar comfort food para você, seja necessário acrescentar algumas outras coisinhas, como batata, cenoura, chuchu ou tomate. Ou até trocar o arroz por macarrão, cabelo-de-anjo.

São estas variações de diversas casas onde já tomei canja. E para aquelas pessoas, canja que é canja, era preparada "daquele" modo. Enfim, nome como base esta receita e acrescente o que for preciso para torná-la a sua comfort food.

Canja de galinha (para 6 pessoas)

Ingredientes

1 kg de peito de frango sem osso e sem pele
1 cebola média picada em pedaços bem pequenos
1 haste de salsão picada em pedaços bem pequenos
1 pau de canela pequeno
1/2 colher (sopa) de sal
2 tabletes de caldo de galinha
1 xícara (chá) de arroz
1 colher (sopa) de salsinha picada (opcional)

Modo de preparar

1. Coloque numa panela de pressão, o frango, a cebola, o salsão, a canela e o sal. Cubra com 2 litros de água e deixe ferver. À medida que formar espuma na superfície, retire com uma escumadeira.

2. Quando parar de formar espuma, acrescente os tabletes de caldo de galinha e tampe a panela. Deixe no fogo por cerca de 50 minutos, após formar a pressão.

3. Em seguida, retire do fogo e, quando puder abrir a panela, acrescente o arroz e deixe ferver. Tampe novamente e deixe por mais 5 minutos na pressão. Sirva com a salsinha picada.



(texto publicado na revista Menu nº 78 - ano 7 - maio de 2005

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