sábado, 12 de setembro de 2015

Etimologia: Maomé - Sérgio Rodrigues, escritor e jornalista


Por que o fundador do islamismo é chamado também de Mahomet, Muhammad, Mahoma...

Como o nome do profeta é escrito no alfabeto árabe, sua grafia no Ocidente será sempre fruto de uma transposição

O reconhecimento, pelo Vaticano, de que a população muçulmana ultrapassou numericamente a católica fez a imprensa ocidental se voltar ao mesmo tempo para Meca, capital espiritual da religião fundada pelo profeta Maomé. Na hora de escrever o nome do pai do islamismo é que começou o descompasso: Maomé virou Muhammad em inglês, Mahomet em francês, Mahoma em espanhol e assim por diante. Como explicar isso?

Numa palavra: transcrição. Em muitas palavras: a técnica de transportar para uma língua, com base na fala, algo expresso em outra, quando esta adota um sistema de escrita diferente. Como o nome original de Maomé é escrito no alfabeto árabe, sua grafia no Ocidente será sempre uma transposição. Esta pode ser feita letra por letra (transliteração) ou com base nos sons. Neste caso, depende das características do idioma que importa o  termo, pois é ao perfil sonoro do vocábulo original que se busca ser fiel. Mesmo que a grafia sugira abismos, a pronúncia de Maomé é semelhante à do francês Mahomet e mesmo à do inglês Muhammad - que, só para complicar, segue o método da transliteração.

Qualquer ideia de fidelidade à forma "original" é, portanto, ingênua. Durante anos a Folha de S. Paulo só chamou Maomé de Muhammad. Sob o apego a uma transliteração ortodoxa escondia-se um equívoco: segundo o manual de redação, Muhammad seria a única forma correta, pois "o nome Maomé é considerado ofensivo pelos seguidores do islamismo, por significar o que não é filho de Deus". Falso. Em março de 2006 o jornal reconheceu o erro e abriu mão do Muhammad que chegava à redação nos despachos das agências internacionais de notícias - em inglês, naturally. Tomou seu lugar a forma consagrada em português, essa língua orgulhosa, filha legítima do latim, que não precisa dever nada a ninguém.




(texto publicado na Revista da Semana edição 31 - ano 2 - nº 13 - 7 de abril de 2008)

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