Quem passa aos domingos pela feira livre da rua Carneiro da Cunha, na Saúde, região sul, já deve ter visto uma graúna simpática na barraca de verduras e temperos. Peto, como é chamada a ave, vive com os donos da banca há mais de dez anos.
Ademir da Silva, 57, o Barba, e a mulher, Maria Aparecida, 55, cuidam do pássaro desde muito antes do surgimento das primeiras penas. Trazido por um amigo de Ademir, ele chegou após ser rejeitado duas vezes pela mãe no ninho.
Peto nunca soube o que é uma gaiola. A ave acompanha os donos na feira, nas compras, em frente à televisão e na hora da refeição. Ele come de tudo: frutas, verduras, pão e até arroz. "É o primeiro a chegar ao prato", brinca Ademir.
O feirante sempre curtiu as graúnas, também chamadas de pássaros-pretos. Sensíveis, mansas e inteligentes, elas vivem de 20 a 25 anos e podem ser encontradas facilmente em quase todo o território brasileiro.
A rotina de Peto começa cedo. O pássaro acorda por volta de 5h e prefere tomar seus dois banhos diários sempre nos mesmos horários: às 7h e às 11h. A ducha é preparada pelos pais, que se revezam na tarefa.
"Ele detesta sujeira e adora tomar banho quando está bem frio", conta Maria. Às 16h, Peto já está dormindo no seu lugar predileto: em cima do armário da cozinha.
Durante o expediente na fera - são quatro dias de trabalho por semana -, ele canta quando Barba pede e, dependendo do comprador, até arrisca um voo rasante sobre sua cabeça. Quando bate o cansaço, o pássaro parte para a sesta na Kombi da família.
Em novembro, Peto comemora seu 11º aniversário. "Ele faz no dia 10, e eu dia 11", afirma Barba. Maria conta que a data é celebrada nesse dia porque foi quando a ave chegou até eles. "Ele é meu segundo filho", desmancha-se o pai. O primeiro é o biológico Fagner, 30. A família fica completa com a cadela idosa Pretinha.
(texto publicado na revista São Paulo da Folha de São Paulo - 10 a 16 de agosto de 2014)
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