quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Olha o cachorrinho! - Júlia Gouveia


A rotina e os truques dos fotógrafos especializados em clicar bichinhos de estimação

Quando o modelo entra no estúdio, os equipamentos precisam estar a postos. Com paciência, o fotógrafo deve deixá-lo à vontade e, se necessário, fazer carinho nas orelhas. Na hora do clique, vale tudo para conseguir a atenção: palmas, brinquedos, assobios e até latidos. O esforço é compensado. Os donos corujas não resistem aos focinhos de seus bichos de estimação e desembolsam entre 550 e 800 reais por uma sessão. "Eu e meu marido ficamos babando nas fotos", conta a administradora Andréia Mery, dona de Dalila, cadela da raça coton de tulear que já estrelou dois ensaios. "Quero registrá-la em todos os momentos de sua vida", diz.

De olho nesse filão rentável, vários profissionais se dedicam hoje a clicar as gracinhas dos peludos. O argentino Lionel Falcon foi um dos pioneiros na capital. Em 2000, o ex-fotógrafo de celebridades trocou os famosos pelos manequins de quatro patas. "Quando mudei de área, as pessoas diziam que eu era louco, mas eu sabia que esse nicho ia explodir", afirma. Desde então, ele mantém uma bem-sucedida parceria com o Pet Center Marginal, uma das principais redes dirigidas a animais. Ali, há um estúdio onde Falcon produz cerca de dez ensaios por mês. Cada sessão de uma hora custa 800 reais e dá direito a dez imagens impressas. Com o passar dos anos, ele desenvolveu técnicas para domar os bichos. "Uso uma música calma caso estejam muito agitados e uma mesa de tosa, de modo a evitar fugas", explica.

No ramo desde 1996, Johnny Duarte, da agência Foto Animal, dedica-se principalmente à publicidade para empresas da área, mas também realiza trabalhos para famílias. "Grande parte dos meus clientes é de casais gays e mulheres grávidas, que querem posar com a barriga ao lado de seu bichinho", revela. O fotógrafo cobra 700 reais pelo serviço, que inclui um DVD com vinte fotos. Ao contrário dos demais profissionais da área, ele não costuma dar muita atenção aos modelos antes de iniciar os cliques. "Para que eu capte as melhores expressões, eles não podem sentir que são os donos da situação", justifica. Mesmo com essas precauções, o rumo da sessão pode mudar bastante, de acordo com a personalidade do animal retratado. "Se for um macho, não posso deixar o equipamento no chão, porque ele vai fazer xixi em cima para marcar o território."

Apaixonada por fotografia, a veterinária Regina Rheingantz Motta inscreveu-se há dez anos em um curso para aprender a registrar imagens. Sua intenção inicial era praticar a atividade apenas como hobby, mas ela acabou cedendo aos pedidos dos clientes e, assim, surgiu a Foto Patas. Hoje, uma das salas de seu consultório em Moema funciona como estúdio. "Se eu consigo convencer um cachorro a tomar uma injeção, consigo fazer uma boa foto dele", diz a doutora, que cobra 550 reais por quinze retratos. "Por melhor que seja o fotógrafo, se não tiver vivência com animais, dificilmente terá bom resultado", opina.

Aberta em maio, a Pet Retrato criou uma série de produtos específicos para conquistar os proprietários mais entusiasmados. O crescimento do filhote, por exemplo, pode ser registrado em um pacote de três sessões: o primeiro aos 3 meses de idade, o segundo aos 7 meses e o último com 1 ano e meio. Já o Ensaio de Devoção é oferecido a quem deseja guardar uma recordação do animal em seus últimos momentos de vida. A agência ainda aposta em flagrantes ao ar livre, realizados, principalmente, no Parque do Ibirapuera, com preços a partir de 620 reais. "Também é possível estampar as imagens em objetos como canecas, capas de celular e até em quadros", enumera o dono, Ricardo Ferraz. É o que muitos donos estão fazendo.



(texto publicado na revista Veja São Paulo de 20 de novembro de 2013)





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