Tireoide, a glândula localizada no pescoço, com formato de borboleta, é responsável pela produção de diversos hormônios do nosso organismo. Saiba sua importância, consequências de seu mau funcionamento e como prevenir possíveis doenças ligadas a ela
Peça-chave
Hipotireoidismo e hipertireoidismo são males de que você já ouviu falar. Mais frequentes em mulheres, eles aceleram ou reduzem o funcionamento de todo o organismo com consequências que vão muito além das dietas.
Muitas vezes citada em notícias sobre dietas, a importância da tireoide não se limita apenas à questão estética do nosso corpo, ao ser responsável pelo metabolismo. Peça-chave em todo o sistema endócrino, a glândula produz os hormônios T3 (tri-iodotironina) e o T4 (tiroxina), que são liberados por todo o organismo e controlam o funcionamento de praticamente todos os órgãos.
De acordo com o médico endocrinologista Filippo Pedrinola, os hormônios produzidos pela glândula estão relacionados, inclusive, à fertilidade da mulher. "Uma função mais específica, relacionada às mulheres, se relaciona à melhora da fertilidade e ao fato de que na gravidez o hormônio tireoidiano da mãe precisa ser bem regulado, porque ele passa para o feto e pode causar desde abortamentos até problemas neurológicos ao nascimento", conta.
Entre os principais problemas existentes quando a glândula possui alguma disfunção é o hipotireoidismo, o hipertireoidismo e os nódulos benignos e malignos (câncer). Mais frequente em mulheres, atingindo 1% das jovens, 2% das que têm mais de 40 anos e 5% das que estão acima dos 50 anos, o hipotireoidismo é causado, em 80% dos casos, por uma doença autoimune conhecida como tireoide de Hashimoto.
"Nela, o sistema imunológico passa a não reconhecer a tireoide como parte do próprio organismo e começa a produzir anticorpos para atacá-la. Assim, a glândula inflama e reduz a produção dos hormônios T3 e T4", diz o médico endocrinologista.
Com a redução da produção dos hormônios, o corpo inteiro passa a trabalhar em ritmo desacelerado. Os principais sintomas da doença são ganho de peso, fraqueza, desânimo, sono excessivo, intestino preso, retenção de líquido e colesterol alto. "Essa disfunção é também uma causa bem frequente de depressão. Há muitas pessoas que tomam medicamento antidepressivo quando, na verdade, deveriam estar tratando o hipotireoidismo por meio de uma substância chamada levotiroxina, uma versão sintética do hormônio T4", adverte o especialista.
Ao contrário do hipotireoidismo, o hipertireoidismo acelera todas as funções do organismo. Segundo o médico, o que está por trás dessa disfunção é, de 60% a 80% dos casos, a doença de Graves. "Outra vez, é uma consequência do ataque do próprio corpo. Porém, neste caso, os anticorpos vão incitar à produção de hormônios, em vez de diminuí-la", diz.
Entre as reações no hipertireoidismo estão: calor excessivo, sudorese e perda de sono. Em situações mais graves, o pescoço fica inchado e os olhos saltam. "É importante alertar que muitos casos de hipertireoidismo são causados pelo uso inadequado de hormônios para a tireoide com o objetivo ilusório de emagrecer", observa Pedrinola.
A doença atinge de 0,5% a 2% da população. As mulheres são as mais afetadas, em uma proporção de 10 para 1. "O tratamento é feito à base de remédios que inibem os hormônios tireoidianos, radioiodoterapia ou cirurgia", explica o médico endocrinologista.
Pedrinola explica que quando houver um grande aumento da glândula, conhecido como bócio, que cause sintomas como dificuldade para engolir ou respirar ou em alguns casos de aumento de produção do hormônio por nódulo ou doença de Graves, que não respondem ao tratamento clínico, ou, então, quando houver diagnóstico ou suspeita de câncer, a tireoide deve ser retirada. "Neste caso, o tratamento é fácil e feito com o uso diário de um comprimido do hormônio levotiroxina pelo resto da vida. Sendo importante o controle da dose por meio de exames laboratoriais, sempre sob cuidados médicos", adverte.
Prevenção
O iodo é a substância fundamental para o bom funcionamento da tireoide. Por isso, ele deve ser consumido de forma regular. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a necessidade diária de iodo é de 90 microgramas ou 6 mcg/kg/dia, para crianças de até 6 anos, 120 mcg para crianças de 7 a 12 anos, de 150 mcg para adolescentes e adultos e 200 mcg para gestantes.
Para garantir o consumo necessário de iodo a toda a população, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decretou, em 2013, que o teor de iodo no sal deve estar entre 15 mg a 45 mg por quilo de sal. Essa quantidade anteriormente era maior, de 20 mg a 60 mg de iodo por quilo).
A recomendação de consumo máximo diário de sal pela OMS é de menos de cinco gramas por pessoa por dia. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o brasileiro pode chegar a consumir 12 g por dia, ultrapassando o dobro do recomendado.
De acordo com Pedrinola, a média de consumo de iodo dos brasileiros, que ultrapassa a recomendação da OMS, é devida também à mudança de hábito alimentar. "Com o passar dos anos, por exemplo, os brasileiros começaram a ingerir alimentos ricos em iodo, como a comida japonesa, por exemplo", conta.
Em relação aos nódulos de tireoide, a melhor prevenção é o exame físico com a palpação da glândula durante a consulta médica e a realização de ultrassom, se necessário. Outra dica importante é evitar fórmulas para emagrecer que contêm hormônio", alerta o especialista.
(texto publicado na revista Bem+ nº 10 - ano 2 - out/nov de 2014)
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