Dentre todos os cereais maravilhosos, se eu tivesse que escolher um só, escolheria a aveia. Para mim tem outro nome, de tão generosa que é: santa-aveia. Clarinha, de textura aveludada, sabor suave, macia ao toque, cheirosa, aveia cozida me dá a sensação de infância. Comfort food, falam os americanos e, aveia, para mim, é realmente reconfortante. Entre as medidas quando estou querendo carboidratos, ou comida kapha, como se diz na Índia - aquilo que produz massa e pacifica tanto a barriga como a mente.
É por causa da aveia que o müesli suíço se tornou querido no mundo inteiro, inclusive neste país tropical, onde se chama granola e frequentemente acompanha coalhada e frutas frescas. Essa misturinha de flocos de aveia com nozes, sementes oleaginosas e frutas secas era o alimento tradicional dos pastores suíços durante o inverno, na solidão dos Alpes, junto com leite, creme e manteiga, que o rebanho fornecia.
Não muito longe dali, na Irlanda e na Escócia, a papa de aveia - pomdge - é há séculos o alimento matinal popular.
Quase sempre cozida com água e sal, às vezes ganha um leitinho fresco para acompanhar e alguns põem mel. Foi de lá que os flocos de aveia migraram para os Estados Unidos e acabaram ganhando a preferência dos americanos na composição dos cereais matinais devido a seu alto valor nutritivo, sabor agradável e, acima de tudo, praticidade. isso porque a aveia em flocos é pré-cozida: os grãos descascados, passam por uma sessão de vapor antes de serem prensados, por isso cozinham em minutos. Os flocos grossos, menos comuns, já pedem mais tempo, em torno de meia hora - em compensação, o creme e a textura resultantes são simplesmente divinos.
É essa cremosidade aveludada que torna excepcionais as sopas em que entra a aveia. Uma particularmente gostosa, que recomendo sempre, leva também cebola e mandioquinha (batata-baroa, batata-salva, aquela amarelinha). Medidas: duas ou três cebolas cortadas em gomos, o mesmo tanto de mandioquinha, seis colheres (sopa) de aveia em flocos grossos. Levar ao fogo, mexer de vez em quando para não grudar no fundo. Quanto mais lentamente cozinhar em panela grossa e fogo baixo, melhor fica. Servir com missô diluído em pouquinha água e cebolinha ou salsinha picadas.
O mingau de aveia com leite é bem conhecido no Brasil, mas nem todo mundo gosta, quer ou pode tomar leite hoje em dia. Uma alternativa deliciosa é usar água-de-coco e cozinhar por 30 minutos se forem flocos grossos. Para quem não tem tempo de manhã, a dica é deixar a aveia de molho à noite, já no líquido em que vai ser cozida. Ou aquecê-la até o ponto de fervura, desligar o fogo e embrulhar a panela com um jornal ou cobertor: de manhã o mingau estará cozido e morninho.
E farofa de aveia, já experimentou? Bem, começa com manteiga e cebola cortada em gomos fininhos, uma refogando a outra até o cheiro ficar maravilhoso. Aí entra a aveia em flocos finos e vai absorvendo gulosamente aquela gordurinha, enquanto aproveita para se bronzear um pouco. Sal, uma pitada, e algum verdinho fresco por cima.
Aveia é excelente fonte de fibras e tem fama de reduzir o colesterol no sangue, melhorar a circulação e ajudar os diabéticos a controlar seus níveis de açúcar. Os carboidratos da aveia são assimilados aos poucos, por isso ela é recomendada em dietas que limitam amidos.
Em muitos lugares do mundo, inclusive no sul do Brasil, o leite de aveia coado é usado para substituir o leite materno, quando falta ou na fase do desmame.
Para engrossar molhos, caldos e coberturas, pode-se usar a farinha de aveia, que se faz batendo os flocos no liquidificador. Um caldo mais ralo feito com essa farinha dá uma bebida quente reconfortante (outra vez o conforto), com um pouco de sal, de mel, cacau ou o que a imaginação pedir.
O universo da aveia é imenso e as receitas infinitas. Não quer dizer que seja para comer muito, ou todo dia, porque o excesso pode produzir muco. Mas em excesso até beijo enjoa.
(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 99 - julho de 2007)
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